Dia 8 - Parte 2 - ** REINO RE-ESTIZE A CONVERGÊNCIA De PODERES**

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Com as Rosas Azuis e o destacamento de ex-aventureiros do Marquês Raeven reunidos, o grupo estava pronto para partir rumo à cidade fortaleza de E-Rantel. A atmosfera estava carregada de expectativa, e as expressões de todos revelavam o peso da missão que os aguardava. As nuvens densas no céu, que bloqueavam parte do sol, pareciam simbolizar o desafio que eles estavam prestes a enfrentar.

Marquês Raeven, com seus olhos penetrantes e postura imponente, olhou para o grupo e expressou sua gratidão. “Agradeço às Rosas Azuis por me acompanhar nesta reunião com o Feiticeiro e sua Cavaleira.” Sua voz, embora formal, tinha um tom sincero. “Sua presença será fundamental, não só para demonstrar a força do Reino, mas também para avaliarmos as capacidades do nosso possível aliado.”

Lakyus, com seus olhos azuis brilhando sob a luz fraca, respondeu com uma determinação sólida em sua voz. “Estamos aqui para ajudar, Marquês Raeven. Esta é uma questão de grande importância para o Reino, e faremos o que for necessário.” Sua postura ereta e confiável trazia uma sensação de segurança a todos ao redor.

Evileye, sempre prática e direta, não perdeu tempo. Sua voz saiu abafada debaixo da máscara, mas o tom era claro e eficiente. “Sim, vamos logo.” Ela ergueu sua mão, gesticulando com precisão enquanto começava a entoar o feitiço. “[Teletransporte Grupal].”

Em um instante, a magia de Evileye envolveu o grupo em uma luz ofuscante. O mundo ao redor distorceu-se por um breve segundo, e, quando seus pés tocaram o chão novamente, estavam nos arredores de E-Rantel. A grande cidade fortaleza se erguia diante deles, imponente, com suas muralhas altíssimas que pareciam segurar o peso do próprio céu.

Marquês Raeven respirou fundo, seus olhos varrendo a paisagem ao redor, como se ainda estivesse se ajustando à súbita mudança de localização. “Estamos aqui. De fato, essa magia é impressionante.” Ele ajeitou seu casaco, se recompondo. “Bom, pessoal, a reunião será na sala de conferências da prefeitura.”

Lakyus, sempre cautelosa, observava os arredores com olhos afiados. “Entendido.” Sua voz carregava um tom profissional, mas havia uma sensação subjacente de prontidão para o que quer que viesse.

Enquanto o grupo se dirigia para dentro da cidade, Raeven não pôde deixar de refletir sobre a enorme responsabilidade que carregava. Cada passo que dava parecia mais pesado do que o anterior, sabendo que o destino do Reino poderia ser decidido nesta reunião. Ele era o representante de Re-Estize, e garantir que a mensagem de aliança com o Feiticeiro e a cavaleira fosse transmitida de forma clara e diplomática era essencial.

Ao chegar à prefeitura, os portões se abriram com um ranger profundo, revelando o interior bem organizado. A sala de reunião estava devidamente decorada com as bandeiras do Reino Re-Estize, e uma longa mesa havia sido arrumada para acomodar todos os presentes. O ambiente, embora formal, estava saturado com uma expectativa silenciosa.

O prefeito da cidade, um homem de rosto severo e físico robusto, aproximou-se rapidamente com uma reverência respeitosa, suas sobrancelhas franzidas em uma mistura de surpresa e curiosidade. “Seja bem-vindo, Marquês Raeven.” Sua voz era grave, mas formal. “Não recebi nenhum aviso sobre sua visita, tampouco esperava uma comitiva tão ilustre. Qual a razão de sua visita, especialmente na companhia das renomadas Rosas Azuis?”

Raeven devolveu a reverência com um leve aceno de cabeça, mantendo sua compostura impecável. “Agradeço pela calorosa recepção, prefeito.” Ele fez uma pausa, medindo cuidadosamente suas palavras. “A razão de nossa visita é de suma importância para o Reino. A presença das Rosas Azuis é um indicativo da seriedade desta missão.”

O prefeito, ainda mais intrigado, ergueu uma sobrancelha. “Entendo. E qual seria essa missão tão urgente e importante, se é que posso perguntar?”

Raeven permitiu-se um breve sorriso, mas seus olhos mantinham a seriedade que a situação exigia. "Recentemente, houve um incidente na Aldeia Carne, onde o Capitão Gazef foi salvo por um poderoso Feiticeiro acompanhada por uma cavaleira. Esse Feiticeiro demonstrou um poder considerável e nós do Reino Re-Estize, acreditamos que estabelecer um relacionamento com ele poderia ser benéfico para a segurança do nosso reino."

O prefeito ouviu atentamente, sua expressão tornando-se mais séria à medida que absorvia as palavras de Raeven. “Entendo, eu tinha recebido um resumo do que aconteceu com o guerreiro-chefe... Como E-Rantel é a cidade mais próxima da Aldeia Carne, faz sentido iniciar o contato aqui. Como posso ajudar nessa empreitada?” Sua voz estava carregada de um misto de preocupação e curiosidade.

Raeven, sempre perspicaz, apreciou a prontidão do prefeito. O homem sabia da importância daquela missão. “Precisamos que a sala de reuniões da prefeitura esteja preparada para receber o Feiticeiro e a Cavaleira. Queremos que ele se sinta bem-vindo e que veja este gesto como uma prova da nossa gratidão e do nosso desejo de cooperação.” As palavras do marquês eram calculadas, cuidadosamente escolhidas para transmitir a urgência e a delicadeza da situação.

O prefeito, agora plenamente consciente da magnitude do que estava em jogo, assentiu de imediato, a seriedade estampada em seu rosto. “Claro, Marquês Raeven. Farei todos os preparativos necessários para que a sala de reuniões esteja à altura. Também garantirei que tudo seja mantido em sigilo, para evitar qualquer complicação.” Seus olhos demonstravam comprometimento, uma expressão que não passou despercebida pelo marquês.

Nesse momento, Lakyus, sempre direta e pragmática, interveio. Seus olhos brilhavam com a determinação que a tornava uma líder respeitada. “Prefeito, a segurança também é uma prioridade. Precisamos garantir que não haja interferências ou surpresas desagradáveis durante este encontro.” A firmeza de suas palavras ressoou na sala, deixando claro que qualquer falha seria inaceitável.

O prefeito, compreendendo a magnitude da responsabilidade, fez uma reverência respeitosa para Lakyus. “Entendido. Irei reforçar a segurança e garantir que apenas os autorizados tenham acesso à área. Não deixaremos espaço para erros.”

Raeven, sempre atento às nuances das conversas, olhou para o prefeito com um leve sorriso, seu olhar carregando um profundo senso de gratidão. “Agradeço sua cooperação e diligência. Esta reunião é crucial para o futuro do Reino Re-Estize, e sua ajuda é inestimável.”

O prefeito sorriu, um brilho de determinação reluzindo em seus olhos. “Farei o meu melhor, Marquês Raeven. Vamos garantir que este encontro seja um sucesso.”

Com as preparações em andamento, Raeven não perdeu tempo em enviar um de seus guardas pessoais, um ladino ex-aventureiro de confiança, para liderar um pequeno destacamento. Ao lado dele estavam Lakyus, Evileye, Tina e Tia, com uma missão clara: descobrir a localização exata do Feiticeiro. Sabiam que ele residia na Floresta de Tob, mas a posição precisa era desconhecida. A busca deveria ser conduzida com cautela.

“Vocês devem agir com diplomacia e cortesia ao abordar o Feiticeiro e sua Cavaleira.” A voz de Raeven era séria, quase paternal, enquanto ele dava suas últimas instruções antes da partida. “Transmitam a mensagem de gratidão do Reino Re-Estize e o nosso interesse em estabelecer uma relação amistosa e benéfica. Lakyus, como nobre, você será a nossa voz durante a conversa.”

Lakyus assentiu, seus olhos fixos em Raeven, refletindo a responsabilidade que lhe era confiada. “Entendido. Vamos garantir que o Reino seja representado da melhor maneira possível.”

O grupo partiu, com Evileye já preparando o feitiço de transporte. Raeven ficou para trás, revisando mentalmente os pontos que desejava abordar na reunião futura. Cada palavra, cada gesto seria crucial. Ele sabia que, ao lidar com alguém do calibre desse seres fortes, qualquer erro poderia significar uma catástrofe diplomática.

Com o grupo posicionado, Evileye levantou a mão, proferindo o encantamento que faria com que todos fossem transportados para os arredores da Aldeia Carne. “[Teletransporte Grupal].” Uma luz brilhante envolveu o grupo, e, em questão de segundos, a paisagem ao seu redor mudou completamente.

Quando reapareceram, estavam em uma região próxima ao vilarejo. O ar da floresta era denso, carregado de uma energia peculiar que apenas Evileye parecia perceber com mais clareza.

“Estamos perto.” comentou Evileye, olhando ao redor, seus olhos brilhando sob a máscara enquanto tentava localizar qualquer vestígio de perigo. “O vilarejo não deve estar muito longe de nós.”

Lakyus, sempre cautelosa, colocou a mão no cabo de sua espada, como um reflexo natural. “Mantenham-se atentos. Mesmo que estejamos aqui em nome da paz, isso não significa que estamos em território seguro.” Sua voz firme lembrava todos da seriedade da situação.

Tina e Tia trocaram olhares rápidos, sempre atentas e prontas para qualquer eventualidade. Ambas se moviam com a graciosidade e a disciplina de assassinas treinadas, mas, ao mesmo tempo, sabiam que o sucesso daquela missão dependia de sutileza e diplomacia, não apenas de suas habilidades em combate.

À medida que o grupo se aproximava da Aldeia Carne, a tensão no ar aumentava. Havia algo de misterioso e imponente em caminhar nas proximidades da Floresta de Tob, onde tantas lendas e histórias de monstros circulavam. Mesmo Lakyus, acostumada com situações de risco, sentia o peso da responsabilidade sobre seus ombros.

Eles estavam prestes a encontrar um ser cuja força era inigualável. E, acima de tudo, Lakyus sabia que, mais do que nunca, o destino do Reino poderia depender do resultado daquela missão.

Ao se aproximarem da aldeia, a visão inesperada que os aguardava fez com que todos parassem subitamente, perplexos. Mortos-vivos — esqueletos animados — trabalhavam diligentemente na construção de um muro em torno do vilarejo, suas movimentações estranhamente metódicas, quase como se estivessem vivos.

“Que!?” O grito de Lakyus rompeu o silêncio, seus olhos arregalados de surpresa. A expressão em seu rosto não poderia ter sido mais clara: choque e incredulidade.

“Fique quieta, Lakyus!” sussurrou Evileye, a voz carregada de urgência. Sob sua máscara, seus olhos brilhavam com uma mistura de fascinação e cautela. Era evidente que ela tentava processar a cena com a mente analítica de uma estudiosa da magia. Afinal, mortos-vivos não eram desconhecidos para ela, mas vê-los trabalhando, como se fossem simples operários, era algo completamente inusitado.

As gêmeas Tina e Tia, sempre atentas ao perigo, instantaneamente adotaram uma postura defensiva, suas mãos discretamente posicionadas sobre as armas. Estavam prontas para qualquer eventualidade, como assassinas treinadas, sempre um passo à frente no caso de um confronto inesperado.

O ladino, embora menos experiente no sobrenatural, não pôde deixar de comentar, sua voz carregada de perplexidade. “Como é possível que esses esqueletos estejam... trabalhando? Será que tem alguém controlando esses mortos-vivos?” Ele olhou ao redor, como se esperasse que a resposta estivesse ali, à vista de todos.

Evileye estreitou os olhos, observando a movimentação dos esqueletos. “Parece que estamos diante de uma situação peculiar.” Sua voz, embora calma, estava tingida de curiosidade. “É incomum ver mortos-vivos trabalhando de forma tão organizada, especialmente em tarefas tão mundanas.”

Lakyus, ainda tentando compreender o que via, olhou de relance para Evileye. “Nunca vi algo assim... Alguém tem que estar controlando esses mortos-vivos, não? Eles não agiriam assim por conta própria...”

Tina, mantendo a postura vigilante, inclinou a cabeça para observar melhor o comportamento dos esqueletos. “De fato, isso levanta algumas questões. Se não houver um necromante por perto, isso significa que esses mortos-vivos têm uma instrução permanente... Ou estão sendo controlados à distância.”

Tia, sempre alinhada com sua irmã, concordou enquanto analisava o ambiente. “Independentemente do que está acontecendo, precisamos relatar essa descoberta ao Marquês Raeven depois de entregar o convite para o Feiticeiro. Isso muda toda a dinâmica.”

Lakyus, com o desconforto evidente em seu rosto, não hesitou em tomar uma decisão rápida. “Tina, Tia, vão até a aldeia e descubram o que está acontecendo por lá.” Seu tom estava carregado de preocupação, enquanto olhava de novo para os esqueletos. Ver mortos-vivos, criaturas tão comumente associadas à morte e destruição, realizando tarefas cotidianas deixava uma sensação desagradável em seu estômago.

“Entendido, Chefe Malévola,” responderam as gêmeas em uníssono, usando o apelido que sabiam irritar Lakyus. Sem esperar por uma resposta, desapareceram em direção à aldeia, movendo-se com a precisão silenciosa que apenas assassinos altamente treinados podiam alcançar.

Lakyus franziu o cenho, desconfortável com a forma como sempre a chamavam, mas sabia que corrigir as duas seria inútil naquele momento. ‘Eu realmente não gosto quando elas me chamam assim...’ Pensou consigo mesma, mas manteve o foco na situação.

Alguns minutos se passaram, e as gêmeas retornaram, suas expressões calmas, mas atentas.

Tia foi a primeira a falar, sua voz baixa, mas clara. “Chefe Malévola, não encontramos nada suspeito... Na verdade, todos os aldeões estão agindo normalmente. Eles não parecem preocupados com os mortos-vivos.”

Tina, ao lado de sua irmã, complementou o relato. “Sequer mencionaram a presença dos esqueletos. Parece que para eles, é como se esses mortos-vivos fossem... parte da rotina.”

“O quê?” Lakyus franziu o cenho, claramente confusa. Ela sabia que os aldeões da Aldeia Carne tinham enfrentado muitas dificuldades, mas aceitar mortos-vivos como algo normal? Aquilo não fazia sentido. Seus olhos se estreitaram em desconfiança, o desconforto crescente. Havia algo muito errado ali.

Evileye, percebendo a confusão de Lakyus, aproximou-se, a voz sussurrante e cheia de ponderação. “Parece que o Feiticeiro e a Cavaleira realmente deixou sua marca aqui. Se ele consegue controlar esses mortos-vivos de forma tão eficiente, e se os aldeões os aceitam... então estamos lidando com alguém que tem mais poder sobre a vida e a morte do que imaginávamos.”

Lakyus permaneceu em silêncio, seus pensamentos girando em torno do que haviam descoberto. Eles estavam prestes a encontrar um ser que transcendia o entendimento comum de magia e poder. E, mais do que nunca, ela sabia que qualquer erro poderia ser fatal para o Reino.

A tensão no ar era palpável enquanto o grupo avançava em direção à Aldeia Carne. Mesmo com uma formação defensiva, o ambiente ao redor era estranho e desconcertante. Mortos-vivos trabalhando, aldeões convivendo com essas criaturas... tudo isso estava fora do normal.

“Não temos escolha, temos que avançar.” Evileye murmurou em um tom baixo e sério, o olhar oculto por sua máscara se fixando no horizonte. “Um necromante...” Ela deixou o pensamento inacabado, mas a implicação era clara. Havia algo poderoso em ação ali.

À medida que se aproximavam da aldeia, o tamanho do muro se revelava impressionante. Não era uma construção qualquer. Era alta, resistente, e o trabalho parecia estar sendo feito com precisão militar.

“Isso é realmente estranho,” comentou Lakyus, seus olhos varrendo a estrutura imponente. “Esses mortos-vivos... eles construíram tudo isso?” A incredulidade estava evidente em sua voz, mas a líder dos Blue Roses tentou manter a calma.

Evileye, sempre perspicaz, sugeriu: “Devemos falar com o chefe da aldeia. Talvez ele possa nos dar alguma informação sobre o Feiticeiro e a Cavaleira.” Havia uma curiosidade fervilhante em seu tom, como se estivesse ansiando por descobrir mais sobre o poder por trás de tudo aquilo.

Antes que pudessem avançar mais, uma jovem aldeã se aproximou. Sua postura era simples, mas havia uma certa confiança em seus passos, algo que imediatamente chamou a atenção do grupo.

“Eh... e vocês são aventureiros por acaso?” A voz dela era calma, mas curiosa, como alguém que estava acostumada a receber visitantes inesperados.

Lakyus, assumindo a liderança, respondeu com uma expressão séria, mas amigável. “Sim, nós somos aventureiros, mas atualmente estamos atuando como contratados do Marquês Raeven. Viemos entregar um convite ao Supremo Feiticeiro a Suprema Cavaleira, que esperamos encontrar nesta aldeia que ele salvou. Ficamos intrigados ao ver os esqueletos trabalhando aqui.”

A jovem piscou, parecendo surpresa pela formalidade, mas logo um sorriso amigável apareceu em seus lábios. “Ah, eu vejo. Bem, esses esqueletos são na verdade meus aliados. Eles estão ajudando a construir o muro para proteger a aldeia de possíveis ameaças. Ah, desculpe, meu nome é Enri Emmot.” Havia uma simplicidade quase desarmante em sua apresentação.

Evileye, cuja mente estava sempre focada em mistérios mágicos, não pôde evitar uma pergunta. “Seus aliados? Mas como você os controla? Eles não costumam ser servos de necromantes ou feiticeiros?” Seu tom era de genuína curiosidade, como se estivesse diante de um quebra-cabeça intrigante.

Enri sorriu, desta vez com um pouco de orgulho. “Na verdade, eu tenho um item mágico dado pelo salvador da aldeia, o Supremo Feiticeiro e sua Cavaleira. O item me deu o controle desses esqueletos. Eles são muito úteis para proteger a aldeia e nos ajudar com tarefas difíceis.”

O grupo trocou olhares. Havia um certo ar de admiração misturado com surpresa. Era incomum, para dizer o mínimo, que um Feiticeiro concedesse a uma simples aldeã um item tão poderoso. Aquele ser misterioso, que agora chamavam de Feiticeiro, não era apenas poderoso — ele era incrivelmente generoso, algo que ia contra a imagem tradicional de um necromante.

“Bem, isso é certamente interessante.” O ladino, tentando manter a formalidade, comentou. Sua expressão era mais séria, compreendendo a delicadeza da situação. “Nós precisamos entregar o convite aos O Feiticeiro e a Cavaleira. O Marquês Raeven está esperando uma resposta positiva do Feiticeiro.”

Enri assentiu com compreensão, sua expressão mais pensativa agora. “Sim, entendo. O problema é que o senhor Feiticeiro não apareceu aqui desde aquele dia do ataque. Mas há uma subordinada dele que vem aqui uma vez por dia. Infelizmente, ela já veio hoje. Só amanhã ela virá, e o horário é aleatório. Ela pode vir de manhã, à tarde ou até mesmo à noite. Se os senhores quiserem, eu poderia entregar o convite para ela.”

O ladino hesitou por um momento antes de balançar a cabeça, sua expressão endurecendo com determinação. “Isso seria muito gentil da sua parte, mas por ordem do Marquês Raeven, nós mesmos devemos entregar o convite. Não podemos correr o risco de uma má interpretação.” Ele então lançou um olhar para Evileye, a tensão em seus ombros aliviando ligeiramente. “Evileye, você poderia me enviar de volta para E-Rantel para relatar isso?”

Evileye, com a máscara escondendo qualquer traço de emoção, respondeu de forma direta e sem hesitação, sua mente já trabalhando nas possíveis implicações do que haviam descoberto. “Entendido. [Teletransporte].” Suas palavras foram acompanhadas por um leve movimento de mão, e o ladino desapareceu em um instante, envolto em uma luz etérea.

Lakyus observou o espaço vazio onde o ladino havia estado momentos antes, os lábios se comprimindo em uma linha fina. “Nós vamos ficar aqui,” afirmou, sua voz firme ao dirigir-se ao restante do grupo, seus olhos faiscando com uma mistura de curiosidade e apreensão.

A aldeia Carne se estendia diante deles como uma cena improvável, envolta por uma atmosfera que oscilava entre o ordinário e o macabro. Cercada por uma floresta densa e misteriosa, a aldeia parecia um reflexo de um mundo que havia sido torcido por uma magia antiga e poderosa. As casas de madeira eram simples, mas bem cuidadas, dispostas de forma organizada. O som repetitivo das marteladas e o arrastar inquietante dos pés dos esqueletos enquanto trabalhavam no muro de proteção ecoavam pelo ar, uma sinfonia mórbida que parecia não incomodar os aldeões. Crianças corriam e brincavam nos campos próximos, completamente alheias ao fato de que estavam sendo guardadas por mortos-vivos, enquanto os adultos, embora cientes da presença macabra, pareciam ter aceitado sua ajuda com uma resignação prática.

Lakyus, com os olhos semi-cerrados, analisava a aldeia, suas sobrancelhas franzidas em uma mistura de surpresa e desconfiança. “É impressionante como a aldeia parece tranquila apesar da presença desses mortos-vivos,” comentou, quase em um murmúrio, enquanto seu olhar se movia de uma casa para outra, tomando nota dos detalhes.

Evileye, por sua vez, estava com a atenção completamente focada em Enri. “Sim, é uma situação bastante única.” Sua voz, mesmo calma, carregava uma pontada de fascínio. “Precisamos descobrir mais sobre este Feiticeiro. Ele certamente é um indivíduo peculiar.”

Enquanto as duas conversavam, Tina e Tia, sempre em sincronia quase sobrenatural, mantinham-se alertas, seus olhos movendo-se de forma coordenada ao redor da área, como predadores à espreita, prontos para reagir ao menor sinal de perigo. O céu começava a adquirir tons quentes de laranja e vermelho com o pôr do sol, lançando uma luz suave e melancólica sobre a aldeia, tingindo as sombras dos esqueletos de um tom quase fantasmagórico.

Enri, percebendo a tensão latente no ar, deu um passo à frente com um sorriso amistoso, embora um tanto tímido. “Por favor, sintam-se à vontade para ficar na aldeia. Temos um local onde podem descansar,” ofereceu, com uma gentileza que parecia quase fora de lugar diante do cenário incomum. “O Feiticeiro e a Cavaleira nos ajudou muito, e temos uma dívida de gratidão com ele. Tenho certeza de que ele ficará feliz em receber o convite de vocês.” Havia uma honestidade sincera em suas palavras, como se ela realmente acreditasse que aquele ser, por mais poderoso e temido que fosse, tinha um lado generoso.

Lakyus, por sua vez, relaxou levemente, retribuindo o sorriso com uma cortesia educada. “Obrigada, Enri. Vamos aceitar sua oferta. Precisamos estar descansados e prontos para quando a subordinada do Feiticeiro aparecer.” Sua voz soava calma, mas era claro que a líder dos Blue Roses não baixaria sua guarda tão facilmente.

Conforme a noite caía e as estrelas começavam a brilhar no céu escuro, o grupo seguiu Enri até uma casa maior, aparentemente preparada para receber visitantes. O ambiente ao redor deles, a aldeia Carne com seus segredos e seus aliados mortos-vivos, parecia um lugar à parte do mundo — um espaço onde o comum e o sobrenatural se entrelaçavam em uma estranha, mas eficiente, harmonia. A lua começava a surgir, lançando sombras longas e distorcidas, enquanto o som contínuo dos esqueletos trabalhando no muro persistia, lembrando a todos de que, mesmo em meio à tranquilidade, forças muito além de seu entendimento estavam em jogo naquele lugar.


+++


O ladino, recém-chegado a E-Rantel após o uso da magia de teletransporte, atravessou as ruas da cidade com passos rápidos e silenciosos, a mente cheia das informações que precisava transmitir. Quando finalmente chegou à mansão do Marquês Raeven, foi imediatamente conduzido ao gabinete do nobre, que o aguardava com uma expressão de curiosidade cautelosa. O Marquês estava sentado em sua cadeira de alto encosto, suas mãos entrelaçadas diante de si enquanto seus olhos avaliavam o ex-aventureiro com interesse aguçado.

“Marquês Raeven, tenho informações importantes para relatar sobre nossa visita à aldeia Carne.” O ladino começou, sua voz carregada com um senso de urgência controlada.

O Marquês inclinou-se ligeiramente para frente, uma sobrancelha se arqueando em expectativa. “Por favor, me conte o que vocês encontraram. Qual é a situação lá?”

Tomando um fôlego profundo, o ladino prosseguiu, tentando transmitir a estranheza da cena que haviam presenciado. “Na aldeia Carne, encontramos uma situação, digamos, peculiar. Mortos-vivos, esqueletos especificamente, estavam trabalhando na construção de um muro de proteção.”

Os olhos do Marquês brilharam com uma mistura de surpresa e perplexidade. Ele franziu o cenho ligeiramente, mas manteve o controle de suas emoções, típico de um político astuto. “Que? Morto-vivos? Trabalhando?” Sua voz carregava uma incredulidade velada, enquanto ele apertava os dedos contra os lábios. “Isso é muito incomum. Eles estavam agindo por conta própria, ou havia alguém controlando-os?”

O ladino assentiu lentamente, escolhendo suas palavras com cuidado. “Parece que estavam sob o comando de uma jovem chamada Enri Emmot, uma aldeã. Ela afirmou que possui um item mágico dado pelo Feiticeiro, que lhe permite controlar esses esqueletos.”

O Marquês Raeven recostou-se em sua cadeira, seus olhos escurecendo enquanto ponderava sobre essa nova revelação. Ele tamborilou os dedos contra a madeira polida de sua mesa, um sinal claro de que estava imerso em pensamentos. “Interessante.” A palavra saiu lentamente, carregada de significado. “Então o Vilarejo Carne tem uma conexão direta com o Feiticeiro e a Cavaleira. Isso pode ser de grande relevância para nossos planos.”

Enquanto o ladino aguardava, Raeven continuava em silêncio, absorvendo a totalidade da informação. Seus olhos se estreitaram ligeiramente, e um sorriso quase imperceptível cruzou seus lábios antes de desaparecer tão rápido quanto surgira. ‘Essa é uma situação delicada, sem dúvida. O fato de ele não estar disponível para receber o convite pessoalmente complica as coisas. No entanto, sua subordinada parece estar disposta a intermediar a comunicação.’ Seus pensamentos rodavam como engrenagens de um mecanismo complexo, avaliando riscos e vantagens.

Após um momento de silêncio carregado, Raeven finalmente falou, sua voz medindo cada sílaba. “Devemos aguardar... A presença física do Feiticeiro seria ideal, mas podemos nos permitir um pouco de paciência. Enquanto isso, devemos manter uma postura diplomática. Continue monitorando a situação. Não quero perder nenhum detalhe. A forma como lidarmos com ele pode determinar o futuro de nossas relações.”

O ladino assentiu respeitosamente. “Entendido, Marquês. Estaremos atentos.”

Raeven acenou com a cabeça, seus olhos fixos em um ponto distante da sala, como se já estivesse calculando os próximos passos, as possibilidades que se desdobravam diante dele como um tabuleiro de xadrez intricado. “Você está dispensado. Informe-me assim que houver qualquer novidade.”

O ladino se retirou em silêncio, deixando o Marquês a sós com suas reflexões. Naquele momento, o ambiente na sala parecia pesado com as implicações das novas informações. O Marquês Raeven, sempre o estrategista, sabia que qualquer passo em falso ao lidar com o Feiticeiro poderia ser fatal – mas, se jogasse bem suas cartas, poderia colher recompensas além de sua imaginação.

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