Após terminarem a refeição, Ra Putin e Golyla saíram do estabelecimento, imersos em seus próprios pensamentos. A cidade de E-Rantel começava a despertar para mais um dia, e o fluxo constante de pessoas pelas ruas refletia a movimentação típica da manhã.
Enquanto caminhavam lado a lado, Golyla, incapaz de conter sua curiosidade, quebrou o silêncio. “Aliás, Ra-san... Como você conseguiu comer sendo meio-golem? Você tem órgãos para a digestão? Como isso funciona?” A pergunta veio carregada de genuína curiosidade, acompanhada por uma expressão intrigada.
Ra Putin, sem alterar sua postura calma, respondeu com um tom casual. “Ah, eu não tenho órgãos. Estou utilizando o Anel Doppelgänger Maior, lembra?” Ele fez uma breve pausa, ponderando antes de mudar de assunto. “Mas, Golyla-sama... posso perguntar por que você não mudou seu nome? Ser chamada de ‘Golyla’ não soa muito... respeitoso, não acha?”
Golyla franziu o cenho, mostrando uma leve expressão de desgosto. “Por que você usou ‘-sama’? Isso soa estranho vindo de você.”
Ra Putin deu de ombros, com um pequeno sorriso de satisfação. “Mas foi você que começou a utilizar os honoríficos. Estou apenas seguindo o seu exemplo.”
Golyla suspirou, admitindo. “Sim, é porque não estou muito acostumada a falar sem ser respeitosa. Falar sem honoríficos me soa estranho. Eu até tentei me acostumar, mas simplesmente não consigo...”
Ra Putin interrompeu, sua voz assumindo um tom mais compreensivo. “Calma, Golyla-san. Eu entendo como se sente. Também não estou muito acostumado a isso. Afinal, os únicos que realmente falam sem utilizar honoríficos são Traumerintin e Kāmaraya. Mas como isso foi decidido pelos ‘todo-poderosos’, quem somos nós para ir contra, certo?”
Golyla acenou lentamente, refletindo sobre suas palavras. “Sim, você tem razão. Bem... respondendo à sua pergunta, eu realmente não me importo muito com o nome, e para ser honesta, não sou uma pessoa muito criativa.”
Ra Putin levantou um dedo, como se tivesse acabado de ter uma grande ideia. “Ah! Tenho um nome bom! Que tal ‘Roxy’!” A sugestão foi feita com um brilho de orgulho em seus olhos, como se tivesse encontrado a solução perfeita.
Golyla piscou, surpresa com a sugestão inesperada. “Roxy... é um nome bonito,” disse ela, esboçando um pequeno sorriso. Era raro para ela sentir-se animada com algo tão trivial, mas a ideia de um novo nome a intrigava.
Enquanto continuavam a caminhar, a mente de Golyla estava focada na proposta de Ra Putin. “Roxy, hein? Gostei. Talvez eu realmente devesse adotar um novo nome,” comentou ela, mais para si mesma do que para ele.
Ra Putin assentiu, incentivando-a. “Seria uma boa ideia. Um novo nome pode simbolizar um novo começo. Além disso, ‘Roxy’ soa poderoso e digno. Algo que combina com você.”
“Obrigada, Ra-san. Vou considerar isso seriamente,” Golyla respondeu, apreciando a gentileza implícita em sua sugestão. Depois de um momento de reflexão, ela mudou o assunto para algo mais prático. “Mudando de assunto... Quais são nossos próximos passos? Temos alguma missão específica em E-Rantel?”
Ra Putin parou por um breve momento, organizando seus pensamentos antes de responder. “Nossa prioridade é reunir informações. Precisamos entender melhor a situação na cidade e identificar qualquer ameaça potencial. Além disso, queremos saber mais sobre os movimentos dos aventureiros e das outras facções.”
Golyla concordou com a cabeça, compreendendo a importância da tarefa. “Sim, faz sentido. Talvez devêssemos nos encontrar com os outros e discutir isso em detalhes.”
“Concordo. Vamos nos reunir com o grupo e planejar nossos próximos passos. Não podemos nos dar ao luxo de ser descuidados em um território desconhecido,” Ra Putin respondeu, sua voz séria.
Enquanto continuavam sua caminhada pelas ruas movimentadas de E-Rantel, a cidade começava a se agitar com a atividade matinal. Comerciantes abriam suas lojas, e os habitantes locais se apressavam para começar o dia. O ar estava cheio de murmúrios de conversas e o som distante de martelos e ferramentas.
Ao se aproximarem da casa alugada onde estavam hospedados, Ra Putin lançou um olhar para Golyla, percebendo a determinação recém-descoberta em seus olhos. “Vamos nos apressar. Temos muito a fazer hoje,” disse ele, com um leve sorriso.
“Sim, Ra-san. Vamos em frente,” respondeu Golyla, sentindo a tensão se dissipar enquanto se preparava mentalmente para as próximas tarefas.
Os dois entraram na casa alugada, encontrando o ambiente familiar e acolhedor, mas sabendo que a calmaria ali dentro contrastava fortemente com a complexidade e os desafios que aguardavam lá fora. Prontos para se reunir com os outros membros do grupo, ambos sabiam que cada passo seria crucial para seu sucesso em E-Rantel.
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Shizyu olhou para os dois ‘desaparecidos’, uma expressão que mesclava sabedoria e leve reprovação em seu rosto envelhecido. “Para onde vocês foram sem avisar a gente?” Sua voz soou grave e autoritária, combinando perfeitamente com sua aparência. Ele parecia um homem mais velho, com barba e cabelos grisalhos, vestido com um manto preto e vermelho que exalava uma aura de mistério e poder. Em sua mão direita, segurava um cajado adornado com uma gema laranja no topo, que brilhava com uma luz pulsante. Na outra, ele mantinha um livro aberto, sugerindo sua proficiência em magias antigas e sombrias.
Ra Putin e Golyla se entreolharam por um breve instante, tentando decidir quem responderia à pergunta. Por fim, Ra Putin deu um passo à frente e, com um tom de voz casual, disse: “Nós fomos dar uma volta pela cidade e pegar algo para comer.” Ele fez uma pausa antes de continuar, percebendo o desconforto que emanava de Shizyu. “Não achamos que seria um problema sair por um tempo. Mas você está certa, deveríamos ter avisado.”
Golyla, ainda um pouco insegura, assentiu em concordância. “Sim, desculpe por não termos avisado. Queríamos explorar um pouco e ver como é o ambiente aqui,” acrescentou, sua voz carregada de remorso.
Shizyu, embora aliviado por vê-los de volta em segurança, suspirou profundamente. A tensão em seus ombros relaxou um pouco. “Tudo bem, mas da próxima vez, nos avisem. Precisamos ficar juntos e coordenar nossas ações, especialmente em um lugar novo.” Sua preocupação refletia o cuidado e a responsabilidade que ele sentia pelo grupo.
Ra Putin inclinou a cabeça levemente em sinal de respeito. “Entendido,” respondeu, sua voz séria.
“Muito bem, pessoal,” Shizyu começou, retomando seu tom de comando, “Hoje é o dia que vamos nos inscrever como aventureiros. Nossa missão começa a partir deste ponto.” Ele lançou um olhar significativo para todos na sala, suas palavras carregadas de determinação.
No entanto, antes que pudesse continuar, Kāmaraya, que até então estava em silêncio, interveio de maneira brusca. “—Desculpa pela interrupção, Shizyu, mas você não vai repetir a mesma coisa de ontem à noite, né?” A figura feminina mascarada, vestida em uma armadura preta e vermelha que parecia fundir elementos de ninja e assassina, exalava uma presença de autoridade e mistério. Seu manto escuro, combinado com as garras nos antebraços e as espadas gêmeas, aumentavam sua aura ameaçadora.
Shizyu parou por um momento, seus olhos se estreitando levemente antes de suspirar. “Tá certo, Kāmaraya-san. Vou resumir.” Sua voz soou resignada, mas ainda carregada de autoridade. “Precisamos nos inscrever na Guilda dos Aventureiros, reunir informações e começar a nos integrar. Isso vai facilitar nosso trabalho e dar mais cobertura às nossas ações na cidade.”
Yamaiko, que estava ouvindo atentamente, interveio com uma expressão de seriedade no rosto. “Precisamos ter certeza de que estamos preparados para qualquer eventualidade. Cada um de nós deve estar ciente de seus papéis e responsabilidades.” Sua aparência era imponente, uma jovem mulher com cabelos escuros contrastando com o brilho dourado de sua armadura. A armadura pesada, com detalhes em roxo e pontas afiadas, indicava tanto defesa quanto poder. Em suas mãos, ela segurava um grande escudo dourado e uma enorme maça de guerra, claramente uma guerreira ou paladina de grande poder.
Ra Putin assentiu, concordando com a abordagem prática de Yamaiko. “Então, vamos nos preparar e sair. Quanto mais cedo nos inscrevermos, melhor.” Seu tom era decisivo, refletindo a urgência da tarefa.
De repente, Golyla deu um passo à frente, uma expressão determinada em seu rosto. “Ah! Eu mudei de nome. A partir de agora, sou Roxy,” anunciou, a voz firme como se quisesse afirmar sua nova identidade perante o grupo.
Yamaiko, surpreendida, sorriu calorosamente. “Houu! Que nome bonito,” comentou, sua voz doce refletindo a sinceridade de seus elogios.
No entanto, Kāmaraya, sempre prática e direta, interrompeu a euforia de sua amiga. “Minha amiga Yamaiko-sensei, deixa os elogios para outra hora. Temos um dia de trabalho pela frente, não é, chefe de missão Shizyu-sensei?” Sua voz cortante trouxe todos de volta ao foco, lembrando-os da importância da missão.
Shizyu, observando a troca entre os membros do grupo, sorriu levemente, satisfeito com a seriedade de Kāmaraya. “Isso mesmo, Kāmaraya-san. Vamos focar na missão. Todos prontos?” Sua pergunta soou mais como uma confirmação do que como uma necessidade de resposta.
O grupo assentiu em uníssono, cada um deles ajustando suas armas e equipamentos, prontos para começar o dia e enfrentar os desafios que se aproximavam em E-Rantel.
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O grupo, liderado por Shizyu, seguiu pelas movimentadas ruas de E-Rantel em direção à Guilda dos Aventureiros. O ambiente ao redor era uma mistura de vozes, o ruído de botas pesadas sobre a pedra das ruas e o clangor de metal que se chocava ocasionalmente. Quando finalmente alcançaram o prédio da guilda, o sol já estava a pino, banhando a fachada com uma luz dourada.
Ao entrarem na guilda, a visão que se apresentou a eles foi de um espaço lotado, repleto de aventureiros de diversas origens e estilos de equipamento. O cheiro de metal polido, couro gasto e suor era penetrante, misturando-se com o aroma de comida e bebida que vinha da taverna anexa. O ambiente, embora ruidoso, tinha uma energia vibrante, com vozes se sobrepondo em conversas e discussões sobre missões e estratégias.
Shizyu, mantendo a postura calma e altiva que lhe era característica, avançou à frente do grupo em direção ao balcão de recepção. O atendente, um homem de meia-idade de expressão amigável e um tanto cansada, olhou para o grupo que se aproximava. Seu uniforme simples, mas bem cuidado, indicava sua posição na guilda, e ele ofereceu um sorriso educado ao ver Shizyu se aproximar.
“Boa tarde,” Shizyu cumprimentou o homem com um aceno leve, mas firme, demonstrando respeito. “Nós viemos aqui para nos inscrever como aventureiros.”
O atendente assentiu, mostrando compreensão na expressão, enquanto pegava alguns formulários de inscrição debaixo do balcão e os entregava para Shizyu. “Por favor, preencham esses formulários com suas informações pessoais e experiências anteriores como aventureiros, se tiverem alguma,” instruiu ele, mantendo o tom cortês e profissional.
Shizyu pegou os formulários, observando brevemente as letras antes de usar discretamente um item mágico que traduzia o conteúdo para ele. Suas mãos se moveram com precisão enquanto preenchia as informações. Apesar de sua expressão impassível, seus olhos revelavam um brilho de concentração.
Enquanto Shizyu preenchia os formulários, Kāmaraya, Ra Putin, Roxy e Yamaiko aguardavam em silêncio, embora seus olhos permanecessem alertas, observando o movimento ao redor. Kāmaraya, em particular, estava levemente inquieta, seus dedos roçando a empunhadura de uma de suas espadas gêmeas, como se estivesse pronta para qualquer eventualidade. Seus olhos observavam os arredores com uma atenção calculada, típica de alguém acostumada à furtividade e ao combate.
Ra Putin, por outro lado, mantinha uma postura relaxada, mas seus olhos traçavam um caminho por todo o salão, absorvendo os detalhes e analisando o ambiente com um leve sorriso no rosto. Roxy, agora conhecida como Belavist, se destacava pelo porte confiante e a forma como segurava suas roupas chamativas, tentando ao máximo parecer à vontade naquele novo papel. Yamaiko, silenciosa, mantinha uma postura firme e imponente, como um escudo inabalável, observando atentamente a interação de Shizyu com o atendente.
Quando os formulários foram finalmente preenchidos, Shizyu os entregou de volta ao atendente, que os aceitou com um breve aceno de cabeça. Enquanto o homem revisava as informações, Shizyu cruzou os braços, permitindo-se um raro momento de introspecção. Ele havia escolhido nomes para seus companheiros que ofereciam a eles um manto de anonimato e proteção, algo essencial em um mundo tão repleto de perigos.
“Nome do grupo?” perguntou o atendente, levantando os olhos brevemente das folhas.
“Contra nove,” respondeu Shizyu com firmeza, um leve sorriso nos lábios ao recordar a decisão anterior.
O atendente assentiu, voltando a atenção aos formulários. Ele registrou as identidades fornecidas:
— Shizyu se apresentou como *Suzaku*, o líder e feiticeiro de terceiro nível.
— Yamaiko adotou o nome *Yama*, indicando seu papel como tanque.
— Kāmaraya escolheu *Raka*, refletindo sua especialização como assassina.
— Ra Putin decidiu ser conhecido como *Ra-ra*, assumindo o papel de arqueiro.
— Roxy optou por *Belavist*, destacando-se como brando com suas roupas chamativas e presença marcante. O nome foi sugestão de Ra Putin.
— O Doppelgänger, agora conhecido como *Riy*, apresentou-se como lutador, mantendo sua natureza furtiva e mutável. O nome foi dado de Ra Putin.
O atendente da guilda ergueu as sobrancelhas brevemente ao terminar a análise dos formulários. Havia algo de incomum naqueles nomes e na composição do grupo, mas ele sabia que era melhor não fazer perguntas desnecessárias. Ele manteve o profissionalismo intacto enquanto guardava os papéis e entregava uma série de insígnias de aventureiro, uma para cada membro do grupo.
“Tudo parece em ordem,” declarou ele, a voz calma, mas com um tom de curiosidade mal disfarçada. “Vocês agora são oficialmente membros da guilda dos aventureiros de E-Rantel,” disse, entregando as identificações.
“Obrigado,” Shizyu respondeu com um aceno, aceitando a insígnia com uma expressão neutra. Ele se virou para os outros, os olhos transmitindo uma mensagem clara: a missão estava apenas começando.
Após analisar os formulários, o funcionário da Guilda dos Aventureiros de E-Rantel mudou sua expressão para uma de surpresa, mas continuou mantendo seu profissionalismo.
“Tudo parece em ordem. Vocês agora são oficialmente membros da guilda dos aventureiros de E-Rantel,” declarou ele, entregando a cada um deles uma identificação de aventureiro.
Shizyu e os outros membros do grupo aceitaram as identificações com gratidão, sabendo que agora tinham acesso aos recursos e missões oferecidos pela guilda.
O funcionário prosseguiu explicando o funcionamento da Guilda dos Aventureiros: “Os trabalhos são fornecidos diretamente pela guilda, onde o conteúdo e a dificuldade das tarefas são previamente investigados. Apenas aventureiros com a classificação adequada podem ser atribuídos a tarefas correspondentes à sua dificuldade. Trabalhos que representem riscos à segurança pública, infrinjam a lei ou prejudiquem o equilíbrio ecológico são imediatamente rejeitados. A magia de cura é restrita aos templos de cura, conforme regulamentado pelas pressões dos templos sobre a guilda.”
Ele continuou explicando mais detalhes:
— Descoberta de ruínas: as ruínas devem ser reportadas à administração do país através da guilda. Após o registro, o descobridor tem um tempo limitado para explorá-las. Invadir ruínas não registradas é tolerado.
— Criação de Pedidos: se um pedido oferece menos do que o mínimo necessário, terá baixa prioridade, podendo não encontrar compradores.
— Hierarquia: a guilda segue uma hierarquia de classificação que vai de Cobre até Adamantite. Vocês estão na classificação de Cobre, o nível inicial.
Resumindo a explicação, o funcionário disse: “Como aventureiros classificados como Cobre, vocês terão acesso a trabalhos iniciantes e intermediários, como escoltar mercadorias, eliminar monstros de baixo nível e realizar entregas simples. À medida que ganham experiência e sucesso, poderão subir na hierarquia e enfrentar desafios mais complexos e recompensadores. É essencial seguir as regras da guilda e manter um bom registro de suas missões e conquistas para construir uma reputação confiável e habilidosa como aventureiros.”
Os membros do grupo assentiram, absorvendo as informações fornecidas pelo funcionário e preparando-se para iniciar sua jornada como aventureiros registrados em E-Rantel.
O funcionário da guilda continua sua explicação: “Além disso, como aventureiros registrados, vocês terão acesso aos recursos da guilda, como a biblioteca de informações sobre monstros, mapas e informações sobre missões disponíveis. Também oferecemos treinamento e workshops para ajudá-los a desenvolver suas habilidades e se preparar para desafios futuros.”
Ele continua: “Lembre-se sempre de trabalhar em equipe e confiar nos seus companheiros de equipe. A cooperação é essencial para o sucesso nas missões. Se surgirem quaisquer dúvidas ou preocupações, não hesitem em procurar os funcionários da guilda para orientação e assistência.”
Os membros de nazarick agradecem ao funcionário pela explicação abrangente e se comprometem a seguir as diretrizes da guilda enquanto embarcam em suas jornadas como aventureiros. Com uma mistura de empolgação e determinação, eles partem para explorar as oportunidades que a Guilda dos Aventureiros de E-Rantel tem a oferecer.
Após o funcionário da guilda explicar as regras com paciência, Ra Putin franziu levemente as sobrancelhas, ponderando por um momento. A expressão tranquila que ele geralmente mantinha deu lugar a um olhar mais sério e calculado. Ele então inclinou-se um pouco para frente, olhando diretamente para o atendente, e disse: “Entendo, mas eu gostaria de lembrar que nós já temos experiência em aventuras, e meu grupo gostaria de começar com uma classificação mais alta.”
O funcionário ouviu atentamente a solicitação, sem perder o sorriso amigável que parecia estar colado em seu rosto. Ele estava acostumado a esse tipo de pedido de aventureiros excessivamente confiantes ou desejosos de reconhecimento rápido, mas algo no grupo diante dele lhe dizia que aquela era uma situação diferente. Mesmo assim, ele manteve o tom cortês enquanto respondia: “Entendo sua vontade de começar em uma classificação mais alta, mas as classificações são atribuídas com base na experiência e nos feitos realizados como aventureiros. Para alcançar uma classificação mais alta, vocês precisarão completar missões e provar suas habilidades ao longo do tempo.”
Com uma pausa calculada, ele estudou rapidamente os equipamentos que o grupo usava. Eram, no mínimo, de classe alta, mas a simplicidade do design camuflava suas verdadeiras capacidades. Algo que não passou despercebido pelo funcionário, que rapidamente adicionou: “No entanto, como reconhecimento de sua experiência prévia, posso oferecer a vocês missões de nível mais alto desde o início, para que possam se desafiar e progredir mais rapidamente. Isso seria aceitável para vocês?”
Ra Putin considerou a oferta por alguns segundos, os olhos semicerrados enquanto avaliava as palavras do funcionário. Ele sabia que, naquele mundo, ser subestimado poderia ser uma vantagem. Assim, com um aceno de cabeça, ele respondeu: “Sim, isso parece justo. Estamos prontos para aceitar missões mais desafiadoras desde o início. Obrigado pela consideração.”
Enquanto o funcionário da guilda virava-se para buscar as missões adequadas, seus pensamentos se voltaram para o que havia acabado de testemunhar. ‘Essas pessoas possuem equipamentos equivalentes aos dos aventureiros de nível Adamantite. E eles parecem ser muito experientes. Eu vou lhes oferecer uma missão de nível Prata.’, pensou ele, decidido.
Shizyu, Kāmaraya, Ra Putin, Roxy e Yamaiko, cada um com seu equipamento cuidadosamente selecionado para não chamar atenção, esperavam em silêncio. Os itens de classe divina que usavam tinham aparências intencionalmente simples, uma estratégia para evitar olhares curiosos. Já o Doppelgänger, Riy, usava equipamento de classe alta, igualmente discreto, mas eficaz.
Em YGGDRASIL, os itens eram classificados por níveis que iam de itens de classe baixa até classe divina, passando por classe média, classe alta, classe herdada, classe relíquia e classe lendária. Cada item tinha seu valor e poder, e aqueles que o grupo utilizava estavam no topo da cadeia alimentar, por assim dizer.
O funcionário da guilda retornou com uma expressão calma, trazendo consigo três rolos de pergaminho, cada um representando uma missão de nível Prata. Ele os desenrolou sobre o balcão e começou a explicar as opções com um sorriso educado:
“Para um grupo de aventureiros experientes como vocês, selecionei três missões de nível Prata que acredito serem adequadas ao seu nível de experiência e qualidade dos equipamentos. Aqui estão elas:
1. **Missão da Floresta de Tob:** Esta missão envolve coletar plantas medicinais na Floresta de Tob. As plantas são valiosas para a produção de medicamentos e poções. A recompensa por esta missão é variável, dependendo da quantidade e qualidade das plantas coletadas.
2. **Missão de Escolta de Família de Comerciantes:** Vocês serão encarregados de escoltar uma família de comerciantes até a Teocracia. Eles precisam de proteção durante a jornada devido aos possíveis perigos no caminho. A recompensa por esta missão é de 5 moedas de ouro.
3. **Missão de Treinamento de Guardas:** Esta missão envolve treinar os guardas de um jovem nobre, o Barão Lurin. Vocês serão responsáveis por melhorar suas habilidades de combate e táticas de defesa. A recompensa por esta missão também é de 5 moedas de ouro.”
O funcionário ergueu os olhos dos pergaminhos e voltou a olhar para o grupo, a expressão convidativa. “Por favor, escolham a missão que melhor se adequa aos seus interesses e habilidades, e eu providenciarei os detalhes adicionais e a preparação necessária para a missão selecionada.”
Yamaiko, mantendo sua postura imponente, inclinou-se ligeiramente para o funcionário. “Interessante. Funcionário, eu poderia conversar com meus amigos para escolher a melhor missão?” A voz dela, embora suave, carregava uma autoridade inegável.
O funcionário da guilda assentiu prontamente, com um sorriso compreensivo: “Claro. Por favor, fiquem à vontade para discutir entre vocês e escolher a missão que mais lhes convier. Estarei aqui para ajudar com quaisquer perguntas ou preocupações que possam surgir.”
Com a permissão concedida, o grupo se reuniu para discutir suas opções. Cada um refletia sobre qual missão seria mais adequada, considerando suas habilidades e os desafios que desejavam enfrentar.
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O grupo se dirigiu a uma sala privada na guilda, onde poderiam discutir em maior detalhe qual missão escolher. Assim que a porta se fechou atrás deles, Kāmaraya, com um semblante ponderado, quebrou o silêncio. “Três missões. O que vocês acham?” Ela se recostou na cadeira, o olhar frio e calculista analisando as expressões dos companheiros.
Ra Putin, com sua típica expressão de desdém, foi o primeiro a responder. “Bem. Ir até a Teocracia está fora de questão.” Ele cruzou os braços, os olhos semicerrados. “Nos sobram duas alternativas.” Havia um tom final em sua voz, como se a decisão já estivesse tomada em sua mente.
Yamaiko, sempre calma e estratégica, interveio com sua opinião. “Bem, na minha opinião, a melhor missão seria treinar os guardas do nobre Barão. Assim, podemos começar a ter conexões com nobres.” Sua voz era suave, mas carregada de uma firmeza inquestionável. Os olhos de Yamaiko brilharam com a perspectiva de expandir a influência do grupo por meio de alianças estratégicas.
Shizyu, no entanto, não parecia tão entusiasmado com essa ideia. Ele passou a mão pelo queixo, pensativo, antes de responder. “Já eu, acho que a melhor missão seria coletar plantas medicinais.” Sua voz era controlada, mas havia um tom de distanciamento. “Já temos uma equipe de Nazarick fazendo isso, e podemos até mesmo pegar algumas de lá para conseguir um reconhecimento melhor.” Ele não gostava de se envolver em assuntos políticos e, sinceramente, preferia evitar o máximo possível dessa missão que Traumarei Maurei havia lhe imposto. Mas, como não estava disposto a desafiar diretamente Traumarei, acabou aceitando sua incumbência com relutância.
Yamaiko percebeu a hesitação de Shizyu e respondeu com um tom conciliador, mas firme. “Eu entendo a sua lógica.” Ela inclinou a cabeça levemente, seus olhos fixos em Shizyu. “Mas você sabe muito bem que alguns membros de Nazarick talvez não aceitem entregar plantas medicinais valiosas tão facilmente. Além disso, ao fazermos um ótimo trabalho no treinamento dos guardas, podemos até mesmo ser reconhecidos por nobres mais influentes.” A percepção aguçada de Yamaiko identificava claramente as vantagens em estabelecer alianças poderosas.
Shizyu ponderou sobre as palavras de Yamaiko, sua mente analisando rapidamente as consequências e benefícios de cada escolha. Embora ele detestasse lidar com questões políticas, não podia negar a validade do argumento de Yamaiko. Conexões com a nobreza poderiam, de fato, ser valiosas. Ele suspirou internamente, resignado. “Você está certo, Yamaiko.” Ele finalmente admitiu, a relutância evidente em sua voz. “A missão de treinar os guardas do nobre Barão pode nos proporcionar oportunidades significativas de networking e nos ajudar a estabelecer uma reputação respeitável na sociedade. Além disso, ao contribuirmos para a segurança do Barão, podemos até mesmo garantir sua proteção e apoio no futuro.”
Ra Putin, que até então permanecera observando, acenou com a cabeça em concordância. “Eu também estou inclinado a concordar com essa abordagem.” Sua voz era controlada, mas havia uma ponta de interesse genuíno. “Treinar os guardas pode ser uma maneira eficaz de demonstrar nossas habilidades e valor como aventureiros, enquanto também estabelecemos relacionamentos valiosos no processo.”
Roxy, que até aquele momento havia se mantido em silêncio, decidiu expressar sua opinião. “Eu concordo.” Sua voz era suave, mas havia uma determinação subjacente. “Além disso, treinar os guardas pode nos permitir acessar informações privilegiadas sobre o Barão e seu círculo interno, o que pode ser útil para futuras missões.” Ela estava claramente entusiasmada com a perspectiva de explorar as intrincadas teias de intriga e poder que permeavam a nobreza.
Kāmaraya, que havia iniciado a discussão, assentiu lentamente, a expressão de acordo visível em seu rosto. “Então parece que a missão de treinamento de guardas é a escolha mais lógica e estratégica para nós.” Sua voz era firme, quase definitiva. “Vamos informar o funcionário sobre nossa decisão.”
Com a decisão unânime tomada, o grupo se levantou, pronto para comunicar sua escolha ao funcionário da guilda. Cada um deles estava ciente das implicações e oportunidades que aquela missão poderia trazer. A partir daquele momento, eles não seriam apenas aventureiros em busca de reconhecimento, mas jogadores em um jogo muito mais complexo e perigoso.
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O grupo de Nazarick se dirigiu a uma sala privada para discutir qual missão aceitar. A sala era simples, mas oferecia o isolamento necessário para uma conversa estratégica. Após alguns minutos de ponderação, eles tomaram sua decisão e, com a determinação renovada, retornaram ao balcão da guilda.
Quando emergiram, a sala de espera estava consideravelmente mais cheia do que antes. Várias equipes de aventureiros se aglomeravam perto do quadro de avisos, mas suas atenções estavam voltadas para um adolescente loiro que conversava animadamente com uma das recepcionistas. O grupo notou que as outras recepcionistas, geralmente ocupadas com suas próprias tarefas, também estavam inclinadas, prestando atenção na conversa.
Shizyu, sempre atento ao ambiente, percebeu os olhares surpresos que se voltavam para o grupo. “O que está acontecendo aqui?” ele se perguntou, seu olhar frio e calculado varrendo a sala. Suas dúvidas foram rapidamente esclarecidas quando uma das recepcionistas, uma jovem de aparência nervosa, se aproximou e disse em um tom formal: “Há um empregador requisitando o seu grupo para um trabalho.”
Essas palavras transformaram instantaneamente o clima na sala. A atmosfera, antes carregada de curiosidade, tornou-se tensa. Shizyu sentiu os olhares pesados de curiosidade e choque se voltarem para ele e seus companheiros. Seus amigos, que até então mantinham suas expressões neutras, estavam igualmente confusos e cautelosos sobre o que aquilo poderia significar.
Riy, o Doppelgänger, se moveu rapidamente para o lado de Shizyu, seu corpo assumindo uma postura defensiva e intimidadora. A sala inteira pareceu escurecer por um momento, uma tensão quase palpável emanando de sua presença. Shizyu sentiu a pressão aumentar e, com isso, sua preocupação. ‘Droga, as ações do NPC vão dar problemas,’ pensou ele, seu olhar estreitando-se.
Riy, em sua natureza zelosa, parecia ter interpretado a situação como uma possível ameaça, pronta para proteger seus Mestres a qualquer custo. No entanto, suas ações eram completamente imprudentes e inapropriadas para o contexto em que se encontravam. A presença de uma figura defensiva e potencialmente agressiva naquele ambiente pacífico era um claro indicador de que algo estava errado.
Shizyu respirou fundo, seus pensamentos se alinhando rapidamente enquanto avaliava a situação. ‘Seu idiota. Agindo como um idiota! No que ele está pensando? Não... é mais como se ele nem sequer estivesse pensando...’ A frustração se acumulava dentro dele. Ele sabia que esse tipo de atitude era difícil de evitar, considerando que os NPCs da guilda eram, em sua maioria, seres heteromórficos com mentalidades e instintos próprios. No entanto, ele sempre acreditou que deveria haver um equilíbrio entre lealdade e discernimento situacional.
A irritação de Shizyu aumentava a cada segundo, sua vontade de perguntar aos amigos por que todos os NPCs que criaram tinham uma tendência tão forte para a imprudência era quase irresistível. Embora ele apreciasse a narrativa e o papel que cada NPC desempenhava, eles precisavam ter habilidades sociais básicas e a capacidade de entender o contexto antes de agir.
Não havia tempo para repreendê-lo ali. Se alguém percebesse que Riy estava em modo de batalha, as consequências poderiam ser desastrosas. Em uma tentativa de desfazer a tensão crescente, Shizyu agiu rapidamente. Ele acertou Riy na cabeça com um golpe firme, mas contido, usando a lateral da mão como em um golpe de karatê. Embora ele tenha medido a força para que não fosse um ataque real, o impacto ainda seria sentido, o suficiente para quebrar o estado defensivo dela.
Riy olhou para Shizyu com olhos grandes, agora cheios de lágrimas, surpresa e confusão estampadas em seu rosto. Ela parecia incrédula, como se Shizyu a tivesse ferido de maneira inimaginável com aquele gesto. A sala parecia ter congelado no tempo, mas Shizyu manteve sua postura fria, sem prestar atenção à expressão de Riy.
Ele se virou para a recepcionista, sua voz cortante e direta. “E quem é essa pessoa que me requisitou?”
No instante em que essas palavras saíram de sua boca, Shizyu sentiu uma onda de arrependimento. A resposta era óbvia. Sua mente, agora mais focada, rapidamente reconheceu o adolescente loiro que conversava com a recepcionista. Ele se amaldiçoou internamente por não ter conectado os pontos antes.
“Nfirea Bareare-san,” respondeu a recepcionista, sua voz um pouco trêmula, mas ainda profissional. O nome ressoou pela sala, e Shizyu sentiu o peso de sua decisão à frente. Ele sabia que aquela solicitação poderia ser um ponto de virada, e a maneira como lidariam com isso poderia influenciar diretamente o futuro de Nazarick.
Shizyu se lembrou instantaneamente daquele nome — Nfirea Bareare. Ele mal teve tempo de processar suas lembranças quando o jovem se aproximou, sua expressão serena, mas carregada de uma determinação firme.
“Prazer em conhecê-lo. Sou eu quem está requisitando seus serviços.” Nfirea falou com uma cortesia quase antiquada, inclinando levemente a cabeça em sinal de respeito. Shizyu, surpreso com a formalidade do rapaz, devolveu o gesto com um aceno, mantendo sua expressão imperturbável.
“Na verdade, esse pedido—” Nfirea começou, mas foi interrompido quando Shizyu ergueu a mão, um gesto sutil, mas cheio de autoridade.
“Minhas sinceras desculpas. Nós já temos planos de aceitar outra missão, então não posso aceitar sua solicitação no momento.” A resposta de Shizyu foi fria e calculada, dita com uma firmeza que deixou claro que a decisão estava tomada.
O ar na sala pareceu vibrar com tensão no momento em que as palavras de Shizyu ecoaram pelo ambiente. As reações dos aventureiros ao redor foram imediatas e viscerais, muito mais intensas do que Shizyu havia antecipado. Olhares de incredulidade e murmúrios abafados percorriam o espaço, como se algo inimaginável tivesse acabado de acontecer.
A recepcionista, ainda surpresa, deu um passo à frente, sua expressão um misto de confusão e choque. “Mas senhor, ele fez um pedido pessoal para sua equipe!” Ela parecia quase indignada, como se a recusa de Shizyu fosse um ultraje à etiqueta.
As palavras da recepcionista plantaram uma semente de dúvida na mente de Shizyu. Seria um pedido pessoal tão importante assim? Mas, mantendo sua compostura habitual, ele respondeu calmamente: “Pode ser que sim, mas não seria melhor realizar primeiro o trabalho que me pediram para fazer?”
Alguns aventureiros ao redor acenaram em aprovação, sussurrando entre si, reconhecendo a lógica de Shizyu. Mas, enquanto suas palavras faziam sentido na superfície, uma parte dele ainda se questionava: ‘Isso realmente está certo?’
Ser contratado pelo neto da mais famosa herborista de E-Rantel era uma oportunidade em um patamar muito superior ao de treinar os guardas de um nobre de baixo escalão. Foi com essa reflexão que ele entendeu por que a recepcionista estava tão inquieta.
Com essa nova compreensão, Shizyu decidiu suavizar sua postura. Com um tom mais conciliador, ele disse: “...Então que tal isso, Bareare-san? Você não me contou sobre os detalhes do trabalho, pagamento, prazo, etc. Eu ouvirei suas condições e tomarei minha decisão com base nisso.”
Nfirea parecia aliviado, o estresse em sua expressão suavizando-se levemente. “Tudo bem, claro. Embora eu queira terminar rapidamente, posso esperar um dia ou dois.”
Shizyu assentiu, vendo a lógica na paciência de Nfirea. “Então, por favor... melhor dizendo, se as negociações se alinharem, eu gostaria de dar prioridade à minha tarefa anterior.”
Com a tensão momentaneamente resolvida, o grupo de Shizyu voltou para a sala onde haviam discutido anteriormente. O peso das responsabilidades parecia mais pesado do que antes. Shizyu deixou escapar um suspiro cansado enquanto se acomodava em uma cadeira, sentindo a pressão acumulada. Yamaiko, sempre sua conselheira leal, se sentou ao seu lado, enquanto Nfirea permaneceu em pé à frente de todos, um tanto nervoso, mas tentando manter uma aparência composta.
Os outros membros do grupo assumiram suas posições anteriores, o ambiente ainda carregado com a seriedade da situação. O primeiro a falar, naturalmente, foi o jovem Nfirea.
“A recepcionista mencionou isso antes, mas acho que seria melhor se eu me apresentasse formalmente. Eu sou Nfirea Bareare e trabalho como herborista nesta cidade. Quanto aos detalhes do trabalho... eu planejo visitar em breve a floresta próxima. Como todos sabem, a floresta é perigosa, então eu esperava que vocês pudessem ser meus guarda-costas e, se possível, ajudar na colheita de ervas.”
“Guarda-costas, hmm. Entendo.” Shizyu assentiu com a cabeça, sua expressão permanecendo impassível, mas uma centelha de preocupação se acendeu em sua mente. Ele tinha a sensação de que esse trabalho poderia se revelar mais complicado do que parecia à primeira vista.
Shizyu sabia que sua equipe era incrivelmente poderosa, provavelmente capaz de lidar com qualquer monstro que encontrassem na floresta, desde que estivessem juntos. No entanto, ele não estava tão confiante quanto à realização de uma missão de escolta. Como um feiticeiro, ele carecia de magias especializadas em defesa ou habilidades para proteger efetivamente os outros. Yamaiko era a única em sua equipe com alguma capacidade defensiva, mas mesmo assim, ela não era exatamente uma especialista em ser um escudo para o grupo.
Roxy, embora habilidosa em combate, era menos adequada para uma missão de escolta. Ra Putin e Kāmaraya poderiam se sair razoavelmente bem, mas ambos careciam de especialização suficiente em detecção e proteção em um ambiente tão vasto e imprevisível como uma floresta. Quanto ao Doppelgänger, Riy, a única utilidade real que ela poderia oferecer seria revelar sua verdadeira forma, o que certamente causaria pânico entre os habitantes locais e complicaria ainda mais a situação.
Enquanto Shizyu refletia sobre as complexidades da tarefa, ele lançou um olhar para seus companheiros, buscando suas opiniões silenciosamente. Ele sabia que essa decisão não poderia ser tomada levianamente, mas também não podia ignorar a oportunidade que estava sendo oferecida. Por fim, ele olhou novamente para Nfirea, sua mente ainda processando as implicações daquela missão.
Nfirea continuou: “Dado o valor desse tipo de trabalho, o pagamento será de—”
“—Por favor, aguarde um momento. Posso fazer algumas perguntas?” Shizyu interrompeu suavemente, mas com uma firmeza que deixava claro que ele precisava de respostas antes de qualquer acordo.
Depois de ver Nfirea sorrir e assentir em resposta, Shizyu começou com a primeira pergunta: “Por que nós? Chegamos recentemente nesta cidade por questões de diligência, então não temos amigos aqui e não somos conhecidos na região. Diante disso, por que nos requisitou? Além disso, você mencionou que já realizou esta tarefa antes, o que implica que já contratou outros aventureiros no passado. Por que não considerá-los?”
O olhar de Shizyu estava afiado, perscrutando as palavras de Nfirea, tentando entender os motivos reais por trás da escolha do jovem. Isso poderia determinar a forma como ele abordaria a missão.
Enquanto Shizyu observava Nfirea, ele tentava decifrar as verdadeiras intenções do rapaz, mas não conseguia ver seus olhos claramente devido ao cabelo comprido que os cobria parcialmente. Isso aumentava a desconfiança de Shizyu. Seria prudente aceitar esse trabalho sem compreender totalmente o que estava em jogo?
Assim que a dúvida começou a crescer dentro dele, Nfirea respondeu: “Ah, os aventureiros que contratei no passado deixaram E-Rantel para outra cidade. É por isso que eu estava procurando por novos aventureiros. Além disso, na verdade... eu ouvi sobre o que aconteceu na estalagem de um dos clientes de lá.”
“O que aconteceu na estalagem?” Shizyu perguntou, com uma leve sobrancelha arqueada, curioso sobre o que poderia ter se espalhado pela cidade.
“Bem, ouvi dizer de clientes que, sem nenhum esforço, um de vocês arremessou um aventureiro bem melhor classificado...” Nfirea explicou, um leve sorriso brincando em seus lábios, enquanto ele mantinha o olhar fixo em Shizyu.
Shizyu desviou os olhos para Ra Putin, cuja expressão de culpa era evidente em seu rosto. Ele não disse nada, mas o olhar que lançou ao grupo era carregado de desculpas. *“Foi mal,”* parecia dizer silenciosamente.
Nfirea, no entanto, não pareceu incomodado. Na verdade, ele sorriu e apontou para a placa de identificação no peito de Shizyu. “Além disso, os aventureiros de ranque cobre são mais acessíveis, se é que me entende. Então, espero que possamos nos dar bem.”
“Haha, igualmente.” Shizyu respondeu, uma risada breve escapando de seus lábios. Ele começava a entender as razões de Nfirea para contratá-los: uma combinação de economia e a reputação que, sem querer, já haviam começado a construir. Embora a situação parecesse clara, algo ainda incomodava Shizyu. ‘Seria verdadeira a história de Nfirea?’
Enquanto Shizyu refletia sobre isso, seus companheiros trocavam olhares curiosos, sem entender completamente por que ele havia aceitado a missão. Não era como se eles estivessem exatamente interessados em proteger um herborista, mas Shizyu tinha suas próprias razões. Ele não estava disposto a se envolver com nobres e suas intrigas por enquanto, e essa missão parecia ser uma forma de evitar isso.
Nfirea, aparentemente satisfeito com a resposta de Shizyu, anunciou com um entusiasmo renovado: “Então, vamos partir assim que estiverem prontos!”
Shizyu apenas assentiu, mantendo a fachada de calmaria. Mas por dentro, ele continuava a ponderar sobre os possíveis perigos que essa missão poderia envolver, consciente de que nada era tão simples quanto parecia.
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Enquanto o sol começava a se pôr na Floresta de Tob, as sombras das árvores se alongavam, criando um ambiente calmo e pacífico. O som suave das folhas balançando ao vento e o canto distante dos pássaros preenchiam o ar, criando uma melodia natural que acompanhava os passos de BluVie Ooal Gown e Mare, o guardião do 6º andar de Nazarick.
BluVie, o antigo Planeta Azul, conhecido por sua alma romântica, caminhava entre as árvores com um olhar de admiração. Seus olhos brilhavam ao observar as flores selvagens e as folhagens exuberantes que cercavam o caminho.
“Mare-kun, não acha incrível como a natureza é maravilhosa aqui na Floresta de Tob? Cada árvore, cada flor, parece ter uma história para contar,” disse BluVie, sua voz suave refletindo o fascínio que sentia pela simples beleza do ambiente ao seu redor.
Mare, com sua natureza reservada, manteve seu olhar fixo no chão por um momento antes de levantar os olhos para responder. Ele acenou timidamente, quase como se estivesse pedindo desculpas por falar. “Sim, BluVie-sama, é verdade. A beleza da natureza sempre me surpreende. É reconfortante estar em um lugar tão sereno. Mas, para ser sincero, isso ainda não se compara à criação do 6º andar,” completou ele, sua voz carregada de um leve orgulho pelo trabalho que ele e sua irmã haviam feito em Nazarick.
BluVie sorriu, percebendo o apreço de Mare por seu trabalho, mas querendo evitar que a conversa se tornasse melancólica ou introspectiva sobre Nazarick. Ele mudou o rumo da conversa, ainda interessado em explorar os sentimentos de Mare sobre a natureza. “E você, Mare-kun? O que mais gosta na natureza?”
Mare parou por um momento, seus olhos dourados observando as folhas que dançavam ao vento. Ele parecia pensar cuidadosamente sobre a pergunta, como se as palavras certas estivessem apenas além de seu alcance. Finalmente, ele falou, sua voz baixa, mas firme. “Bem, eu gosto de como a natureza é imprevisível. É como se cada dia trouxesse algo novo e diferente. Algo que eu nunca vi antes, mesmo que tenha passado por esse caminho várias vezes.”
BluVie inclinou a cabeça, ouvindo com atenção. “Entendo,” respondeu ele, genuinamente interessado. “Para mim, é a sensação de liberdade e conexão que sinto quando estou em meio à natureza. É como se todos os meus problemas desaparecessem e eu pudesse apenas ser eu mesmo. É uma sensação indescritível, como se estivesse tocando algo maior que eu.”
Ele então fez uma pausa, seus pensamentos vagando para a vida que havia deixado para trás, um mundo onde a verdadeira natureza estava distante e, muitas vezes, inalcançável. “Afinal,” BluVie continuou, sua voz se tornando mais suave, quase introspectiva, “eu nunca pude ver a natureza verdadeira na minha outra vida.”
Mare assentiu em silêncio, absorvendo as palavras de BluVie. Ele compreendia o que BluVie sentia. Ambos, de maneiras diferentes, haviam sido moldados por suas experiências em Nazarick, mas a natureza ao seu redor agora lhes oferecia uma rara oportunidade de contemplação e paz.
‘Pensando bem… Isso superou tudo o que poderíamos ter sonhado lá no sexto andar… O ar aqui é tão leve e puro,’ pensou BluVie, enquanto uma brisa suave acariciava seu rosto.
Após um momento de silêncio compartilhado, ambos retornaram à tarefa de coletar as plantas medicinais que Tabula havia solicitado. Cada um, agora imerso em seus próprios pensamentos, sentiu uma conexão silenciosa que transcendia palavras. A floresta de Tob, com toda a sua serenidade e beleza, se tornara um refúgio momentâneo para eles, um contraste nítido com o vasto e misterioso domínio de Nazarick.
Os dois caminharam lado a lado, trabalhando em harmonia, sentindo que, por um breve instante, estavam em perfeita sintonia com o mundo ao seu redor.
A floresta de Tob permanecia envolta em um silêncio místico, apenas quebrado pelo farfalhar das folhas ao vento e o ocasional canto de um pássaro. BluVie Ooal Gown e Mare continuavam a coleta de plantas medicinais, imersos na serenidade do ambiente. No entanto, essa tranquilidade foi abruptamente interrompida pelo som de passos leves, quase imperceptíveis, que cercavam a dupla.
BluVie levantou o olhar calmamente, notando o surgimento de vários lobos selvagens entre as árvores. À frente do grupo, um imponente lobo com cinco chifres, uma criatura claramente fora do comum, se destacava. Os olhos do líder dos lobos brilhavam com uma inteligência feroz, e ele avançou, rosnando ameaçadoramente.
—Vocês estão no meu território. Vão embora ou EU VOU COMER VOCÊS!— O líder dos lobos declarou, sua voz carregada de uma ameaça mortal, enquanto os outros lobos rosnavam em uníssono, suas presas afiadas à mostra.
Mare, que até então mantinha-se calmo, sentiu sua paciência esgotar-se diante da ousadia do lobo. Com um movimento rápido, ergueu seu cajado, pronto para acabar com todos os lobos num instante. A atmosfera ao seu redor pareceu estremecer, como se a própria floresta estivesse se preparando para testemunhar um massacre.
No entanto, antes que Mare pudesse conjurar qualquer feitiço, BluVie estendeu uma mão, intervindo com uma expressão serena. —Ah, não precisa ser tão violento, Mare-kun. Afinal, eles não são capazes de nos ferir.— A voz de BluVie era tranquila, quase como se estivesse acalmando uma criança, em vez de confrontar uma matilha de lobos agressivos.
Por trás de seus olhos gentis, no entanto, BluVie estava traçando uma linha de pensamento estratégica. "Lobos com cinco chifres… interessante," ponderou ele internamente. "Ankoro Mocchi Mochi estava procurando por alguns animais exóticos para Nazarick. Talvez esses lobos sejam o que ele precisa."
Enquanto o líder dos lobos continuava a rosnar, BluVie decidiu agir de forma diferente. Mantendo sua postura amigável, ele deu alguns passos à frente, diminuindo a distância entre ele e o líder dos lobos. Mare observava cada movimento atentamente, pronto para intervir ao menor sinal de perigo.
“—Entendo que este é o território de vocês,”— começou BluVie, sua voz suave, mas firme. “Mas não estamos aqui para causar problemas. Estamos apenas de passagem, coletando algumas plantas medicinais para uso pessoal. Não queremos entrar em conflito.”
O líder dos lobos hesitou por um momento, surpreso pela abordagem pacífica de BluVie. Em um mundo onde a força e a brutalidade costumavam ser as respostas padrão, a calma e a diplomacia de BluVie eram uma anomalia.
BluVie percebeu a hesitação e continuou, seu tom carregado de uma sinceridade pacífica. “Se preferirem, podemos deixar este lugar imediatamente. Não queremos causar nenhum problema para vocês ou para o seu território.”
Os lobos se entreolharam, como se estivessem discutindo silenciosamente entre si. A tensão no ar era palpável, mas lentamente, os rosnados foram cessando. O líder dos lobos, ainda desconfiado, recuou alguns passos, relaxando parcialmente a postura agressiva.
“Muito bem,”— respondeu o líder dos lobos, sua voz ainda grave, mas agora menos ameaçadora. “Mas não voltem aqui. Este é o nosso território e não gostamos de intrusos.”
BluVie assentiu levemente, um sorriso calmo curvando seus lábios. “Entendido. Agradecemos pela compreensão. Prometemos não voltar.”
Com isso, BluVie deu meia-volta, gesticulando para que Mare o seguisse. Mare baixou o cajado, embora ainda estivesse visivelmente irritado pela afronta dos lobos. Porém, confiava no julgamento de BluVie e sabia que, em circunstâncias normais, não havia necessidade de violência.
Enquanto se afastavam do território dos lobos, BluVie manteve seu olhar firme, mas não pôde evitar um último pensamento estratégico: “Talvez devêssemos voltar um dia... com uma oferta mais interessante para esses lobos. Eles poderiam ser uma adição valiosa ao arsenal de Nazarick.”
A floresta gradualmente retomou sua calma habitual, e BluVie e Mare continuaram seu caminho, a tensão do encontro anterior se dissipando no ar. Embora o confronto tivesse sido evitado, ambos sabiam que a paz na Floresta de Tob poderia ser tão efêmera quanto o vento entre as árvores.
Mare lançou um olhar inquisitivo para BluVie, sua expressão refletindo uma mistura de curiosidade e perplexidade. A abordagem pacífica de seu Ser Supremo, diante de uma ameaça tão flagrante, era algo que ele ainda não compreendia completamente.
Mare perguntou, a voz hesitante mas cheia de respeito: “BluVie-sama, por que você escolheu não eliminar aqueles lobos inferiores? Eles estavam claramente desafiando nossa presença e poderiam representar uma ameaça no futuro.”
BluVie continuou a caminhar, suas botas macias afundando levemente no chão úmido da floresta. Seus olhos permaneceram fixos no horizonte, onde as copas das árvores se mesclavam com o céu ao longe. Ele ponderou por um momento antes de responder, sua voz calma e ponderada.
“Entendo sua preocupação, Mare-kun. Mas às vezes é melhor resolver as coisas sem recorrer à violência. Nós somos muito mais fortes do que esses lobos e poderíamos tê-los derrotado facilmente. No entanto, isso não teria resolvido o problema subjacente. Não queremos criar inimigos desnecessários, especialmente entre os habitantes da natureza.”
Mare ouviu atentamente, processando as palavras de BluVie. No entanto, sua mente jovem e cheia de zelo interpretou a mensagem de uma maneira diferente: ‘Ah! Entendi, o Supremo quer dominar os inferiores de uma forma que não utiliza a violência…’ pensou o jovem Elfo Negro, com um brilho de realização nos olhos dourados.
BluVie, notando a expressão de Mare, sentiu uma leve preocupação. ‘Un… Tenho a sensação de que ele entendeu errado,’ refletiu BluVie, observando a naturalidade com que Mare aceitava suas palavras, mas percebendo que havia uma necessidade de clarificação.
Enquanto continuavam a caminhar pelas trilhas sinuosas da floresta, BluVie decidiu abordar o assunto com mais clareza. Sua voz, embora suave, carregava a sabedoria acumulada de incontáveis eras passadas. “Mare-kun, o que quis dizer é que a força não deve ser usada sempre que possível. É importante mostrar respeito e compreensão, mesmo para aqueles que consideramos inferiores. Isso pode criar um ambiente mais harmonioso e evitar conflitos desnecessários.”
As palavras de BluVie pairaram no ar por um momento, enquanto Mare refletia sobre elas. Os olhos do guardião do 6° andar brilharam com um novo entendimento. “Entendo, BluVie-sama. Prometo lembrar disso.”
BluVie sorriu internamente, satisfeito com a resposta de Mare. Embora houvesse ainda muito que o jovem guardião precisasse aprender sobre liderança e compaixão, esse era um passo importante em sua jornada. Enquanto prosseguiam com a tarefa de coletar as plantas medicinais, a beleza da floresta de Tob parecia mais viva do que antes, como se refletisse o crescimento e a harmonia que agora começavam a se formar entre eles.
BluVie, sentindo-se em paz, afirmou suavemente: “Exatamente, Mare-kun. Às vezes, é preciso coragem para escolher a paz em vez do conflito. Acredito que podemos encontrar uma maneira de coexistir harmoniosamente com os habitantes da floresta, mesmo que isso signifique sermos um pouco mais pacientes e compreensivos.”
Com um novo entendimento entre eles, BluVie e Mare continuaram sua jornada pela floresta, agora mais unidos em seus propósitos e com uma visão mais clara do caminho à frente. A tarefa de coletar plantas, que antes era meramente uma missão, agora se tornava um símbolo da busca pela harmonia entre as diferentes formas de vida, sejam elas de Nazarick ou da vasta e misteriosa floresta de Tob.
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No outro lado da vasta floresta de Tob, a atmosfera estava carregada de uma tensão palpável, como se a própria natureza tivesse prendido a respiração diante da presença avassaladora que ali se manifestava.
“Pela sua falta de respeito pelo meu Supremo Criador, sua morte será dolorosa.” A voz profunda e implacável de de uma jovem mulher ecoou pela clareira, cada palavra carregada de uma promessa de sofrimento.
Diante dela, o Orgo, um ser massivo e imponente, outrora um terror para aqueles que ousavam atravessar seu território, agora se ajoelhava, reduzido a uma pilha trêmula de carne e medo. Sangue escorria de inúmeros ferimentos que cobriam seu corpo robusto, cada corte, uma marca do poder esmagador da empregada de combate— Plêiade. O gemido agonizante que escapou de seus lábios distorcidos soava mais como um último suspiro de vida do que um pedido de misericórdia.
“Wwwww…” O som, quase bestial, mal se assemelhava a uma palavra, mas mesmo na sua forma dilacerada, carregava uma súplica muda, uma tentativa fútil de adiar o inevitável. Mekongawa observou o espetáculo com frieza, sua expressão inabalável, como se o destino do Orgo fosse tão irrelevante quanto o de uma formiga esmagada sob o peso de sua bota.
“Minha querida não precisava ter se sujado com coisas insignificantes, mas já que você já fez, ele servirá de comida para minhas bestas.” A voz de Mekongawa, agora tingida com uma nota de aprovação, cortou o ar como uma lâmina afiada.
Lupusregina Beta, que retornou ao seu lado, com seus olhos brilhando com uma mistura de excitação e devoção, foi arrebatada por suas palavras.
Ao ser chamada de ‘querida’ por seu Supremo Criador, Lupusregina sentiu uma onda de pura alegria invadir seu ser, como se o simples reconhecimento por parte de Mekongawa fosse a maior recompensa que ela poderia almejar. ‘Ele… Ele me chamou de querida!’ O pensamento reverberava em sua mente, e ela quase saltou de alegria, contendo-se apenas para manter a postura digna que seu mestre exigia.
“Obrigada, meu Supremo,” disse Lupusregina, inclinando-se profundamente, sua voz carregada de reverência. “Sua bondade para comigo é infinita.”
Mekongawa lançou-lhe um sorriso frio, mas que para ela era mais caloroso do que o sol do meio-dia. “Você merece, minha querida. Agora, prepare-se para alimentar as bestas. Elas devem estar bem alimentadas para as próximas tarefas.”
Com um vigor renovado, Lupusregina começou a organizar o festim, cada movimento seu era ágil e preciso, guiando as imponentes bestas de Mekongawa até o corpo ainda quente do Orgo. A visão que se seguiu era ao mesmo tempo impressionante e aterrorizante. As criaturas, um total de 121, variando em níveis de poder entre 40 e 100, avançaram sobre a carcaça com voracidade, seus rugidos ecoando pela floresta como um anúncio de morte.
Enquanto as feras se banquetearam, dilacerando carne e ossos com uma ferocidade que só poderia ser descrita como sobre-humana, Mekongawa observava em silêncio, seus pensamentos vagando para a missão que ainda estava por vir. “Estamos apenas no começo,” refletiu ele, os olhos estreitados em um brilho frio de determinação. “Há muito mais a ser feito para garantir a supremacia de Nazarick neste território.”
Lupusregina, sempre atenta às mudanças sutis na expressão de seu mestre, aproximou-se dele com uma deferência quase cerimonial. “Mekongawa-sama, quais são suas ordens para nós agora?” Sua voz estava carregada de entusiasmo, uma ânsia incontida de servir a vontade do Supremo.
Mekongawa desviou o olhar do banquete sangrento, fixando-o na distância, onde o horizonte parecia esconder os segredos do mundo que ele estava destinado a dominar. Seus olhos brilhavam com uma determinação inabalável. “Nosso próximo passo é consolidar nosso controle sobre esta região. Devemos mostrar a todos que Nazarick não deve ser desafiada. Prepare as bestas e os outros servos. Temos trabalho a fazer.”
“Sim, Mekongawa-sama,” respondeu Lupusregina, sua voz vibrando com fervor. A mera menção de uma nova tarefa a enchia de entusiasmo, como se cada ordem fosse uma oportunidade de provar sua devoção e utilidade ao seu Criador.
Com a decisão tomada, Mekongawa e seus seguidores começaram a se preparar para a próxima fase de sua missão. Cada movimento era meticulosamente calculado, cada ação cuidadosamente planejada, sabendo que estavam se aproximando mais de seus grandiosos objetivos. E enquanto a floresta de Tob começava a silenciar novamente após o frenesi das feras, o poder de Nazarick se firmava ainda mais, um lembrete constante de que desafiar os Senhores Supremos era convidar a própria destruição.
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No coração da sombria Floresta de Tob, Aura Bella Fiora e suas bestas avançavam silenciosamente, cada uma utilizando suas habilidades únicas para vasculhar o ambiente em busca de qualquer sinal de perigo ou de criaturas que pudessem ser de interesse para Nazarick. A floresta, normalmente um refúgio para uma variedade de seres exóticos e predadores, parecia estranhamente vazia. Já haviam explorado quase toda a extensão da floresta, restando apenas a região ao norte para ser investigada.
Aura, montada em Fenrir, sua fiel fera, observava o entorno com um olhar afiado e determinado. Suas orelhas, sensíveis a qualquer som, captavam apenas o farfalhar das folhas e o ruído distante de pequenos animais noturnos. “Que tédio,” pensou ela, enquanto o vazio da floresta contrastava com sua habitual energia e entusiasmo.
“Já faz dias que estamos explorando essa floresta… e nada.” A voz de Aura, normalmente alegre, agora estava carregada de frustração. “É realmente decepcionante. Eu esperava encontrar pelo menos uma criatura única ou incomum por aqui. Parece que estou perdendo meu tempo.”
Suas feras, sensíveis à inquietação de sua mestra, soltaram grunhidos baixos de concordância, refletindo a mesma frustração que sentiam. A conexão entre elas era profunda; não era necessário que Aura verbalizasse suas emoções para que elas compreendessem seu estado de espírito. Era como se os sentimentos de decepção de Aura ecoassem através do vínculo que compartilhavam.
Aura estreitou os olhos, tentando afastar a irritação crescente. “Mesmo assim, não podemos desistir tão facilmente. Nós viemos aqui com um objetivo, e não vamos voltar de mãos vazias,” ela pensou, sua determinação renovada.
“Mas não podemos desistir ainda,” Aura falou em voz alta, mais para si mesma do que para suas feras. “Vamos nos dirigir para o norte e continuar nossa busca. Quem sabe o que podemos encontrar lá? Talvez tenhamos mais sorte.”
Aura deu um leve toque nas costas de Fenrir, que imediatamente começou a se mover com agilidade através da vegetação densa. Suas outras feras seguiram de perto, seus movimentos sincronizados e precisos. A caçadora de Nazarick estava longe de abandonar uma tarefa sem esgotar todas as possibilidades, e a região norte da floresta era o último bastião de esperança em sua busca por algo valioso.
Enquanto avançavam, os olhos de Aura continuaram a vasculhar cada sombra, cada movimento, buscando qualquer sinal de atividade incomum ou de uma criatura que pudesse servir aos interesses de Nazarick. Cada ruído era analisado, cada movimento no dossel das árvores era seguido com atenção. A decepção ainda estava presente em seu coração, mas a jovem guardiã de Nazarick sabia que a persistência muitas vezes era recompensada.
E assim, guiada por sua determinação e acompanhada por suas feras, Aura avançou para o norte da floresta, certa de que a próxima descoberta poderia ser o que estava procurando, algo que faria valer cada momento gasto naquela busca. Ela não permitiria que a frustração a impedisse de cumprir sua missão – afinal, desistir simplesmente não estava em seu vocabulário.
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Nas profundezas do subsolo da capital da Teocracia Slane, a atmosfera na sala de reuniões era pesada e densa, quase palpável. As paredes de pedra, envoltas em penumbra, absorviam a luz bruxuleante dos candelabros, criando sombras que pareciam dançar ao ritmo das preocupações dos presentes. Sentados ao redor da mesa de carvalho, os cardeais reunidos mantinham expressões sérias, cada um refletindo o peso das responsabilidades que carregavam. O futuro da Teocracia Slane estava em jogo.
Raymond Zarg Lauransan, o Cardeal da Terra e comandante das Seis Escrituras, abriu a reunião com uma voz firme, carregada de urgência. Ele não perdeu tempo com rodeios.
“Meus colegas cardeais,” começou Raymond, suas palavras carregadas com uma gravidade que reverberou pela sala silenciosa. “A Escritura da Luz foi completamente eliminada por um indivíduo que se autodenomina Supremo Feiticeiro. Ele estava acompanhado por uma cavaleira, ou talvez uma guerreira, que também se declara Suprema. Esses dois sozinhos erradicaram toda a Escritura, e há uma forte possibilidade de que eles estejam envolvidos no acidente da Astróloga das Mil Léguas. Segundo informações preliminares, a Astróloga estava coletando dados de várias localidades com suas habilidades e provavelmente testemunhou o confronto. Como resultado, foi explodida, mas ressuscitada posteriormente.”
O silêncio que se seguiu às palavras de Raymond foi ensurdecedor. Os cardeais processavam a notícia, seus pensamentos correndo em direção a conclusões que ninguém desejava alcançar.
Berenice Nagua Santini, a Cardeal do Fogo, foi a primeira a reagir. Sua voz era calma, mas por trás de sua compostura, havia um fogo ardente de preocupação. “Supremo Feiticeiro? Nunca ouvi falar de tal indivíduo. Quem, além de nós, poderia ter tanto poder?”
Zinedine Delan Guelfi, o Cardeal da Água, inclinou-se levemente para frente, seus olhos azuis fixos em Raymond, como se tentando extrair mais informações além das que haviam sido oferecidas. “Se esse indivíduo realmente possui tal poder, representa uma ameaça significativa para a segurança da Teocracia. Precisamos entender mais sobre suas motivações, suas capacidades… e suas alianças.”
Dominic Ihre Partouche, o Cardeal do Vento, conhecido por sua natureza impulsiva, estava visivelmente perturbado. A habitual descontração havia dado lugar a uma expressão tensa. “Se ele foi capaz de eliminar toda a Escritura da Luz Solar e causar o acidente da Astróloga, não podemos ignorar a possibilidade de que ele ataque novamente. Precisamos agir com urgência e reforçar nossas defesas.”
Yvon Jasna Delacroix, o Cardeal da Luz, cujas mãos tremiam levemente sob a mesa, expressou o que todos estavam pensando. “A perda de uma Escritura é uma tragédia inestimável para nossa nação. Não podemos permitir que esses… Supremos… continuem livres para espalhar mais destruição. Devemos mobilizar todas as nossas forças para encontrar e neutralizar essa ameaça.”
Maximilian Oreio Lagier, o Cardeal das Trevas, mantinha um semblante frio e calculista, típico de alguém acostumado a lidar com segredos e sombras. Seus olhos eram pozos de escuridão enquanto ele formulava uma resposta. “Concordo com Yvon. Precisamos investigar qualquer rastro deixado por esse feiticeiro. Além disso, é imperativo que reforcemos nossas defesas imediatamente. Sugiro também que implementemos um plano de contingência, para o caso de enfrentarmos um ataque direto.”
Raymond assentiu, seu olhar sério e concentrado. “Eu já mobilizei a Escritura Flor do Vento e da Escritura da Águas Limpas para coletar informações adicionais. No entanto, mesmo com as capacidades dessas Escriturad, conseguimos apenas fragmentos de dados. Há uma chance de que o Reino de Re-Estize tenha mais informações sobre esse Feiticeiro. Precisamos considerar todas as possibilidades e alavancar nossas conexões para descobrir a verdade.”
O silêncio voltou a reinar na sala por alguns instantes, enquanto os cardeais ponderavam sobre as palavras de Raymond. O destino da Teocracia Slane poderia muito bem depender das próximas decisões que tomassem.
O ambiente sombrio da sala de reuniões subterrânea da Teocracia Slane parecia cada vez mais opressivo à medida que a discussão avançava. A tensão era quase palpável, o ar carregado de incertezas e medos que os cardeais se esforçavam para esconder. Sob a luz tremeluzente dos candelabros, as sombras das figuras reunidas dançavam nas paredes, dando a impressão de que as próprias trevas se moviam, escutando cada palavra pronunciada.
Yvon Jasna Delacroix, o Cardeal da Luz, sentia um frio na espinha que parecia se enraizar em sua alma. Com as mãos entrelaçadas sobre a mesa, ele ergueu o olhar, sua voz grave e hesitante, como se as palavras fossem pedras pesadas que precisava mover.
“Eu… eu não posso ignorar a sensação que me assola.” As palavras saíram como um sussurro, carregadas de um peso invisível. “Uma sensação de que algo horrível está prestes a acontecer… Não tivemos qualquer relato de novos Jogadores aparecendo em duzentos anos. E se… o que mais temíamos finalmente aconteceu? E se este é o começo do fim? Os Deuses Heteromorfos… será que eles estão finalmente aparecendo e revelando suas garras?”
A sala mergulhou em um silêncio mortal. Os olhos dos cardeais se voltaram para Yvon, alguns arregalados de surpresa, outros estreitados em preocupação. As palavras que Yvon proferira ecoaram em suas mentes, evocando imagens de destruição e caos. Era como se o medo coletivo tivesse se materializado, envolvendo-os em suas garras geladas.
Berenice Nagua Santini, a Cardeal do Fogo, geralmente calma e racional, franziu o cenho, os lábios se apertando em uma linha fina. Seu rosto, outrora inexpressivo, agora refletia uma rara expressão de apreensão. Ela inclinou-se ligeiramente para frente, como se tentasse desvendar um enigma que até então parecia distante, mas agora se tornava assustadoramente real.
“Yvon… você está sugerindo que os Deuses Heteromorfos, que acreditávamos ser apenas lendas antigas, estão de fato apareceu? Isso poderia significar que… Nazarick, o covil dos piores monstros, apareceu?” Sua voz, embora firme, carregava uma nota de incredulidade, como se ela mesma não quisesse acreditar no que estava dizendo.
Zinedine Delan Guelfi, o Cardeal da Água, conhecido por sua serenidade em momentos de crise, sentiu um arrepio correr por sua espinha. Ele pousou os cotovelos sobre a mesa e entrelaçou os dedos, seus olhos, normalmente calmos, agora fixos no vazio, como se buscasse respostas nas profundezas de sua mente.
“Se o retorno dos Deuses Heteromorfos realmente se concretizar… então estamos falando de uma calamidade.” Ele fez uma pausa, suas palavras ecoando na mente dos outros. “Eles possuem poderes que desafiam nossa compreensão, poderes que podem destruir civilizações inteiras. Precisamos estar preparados para o pior, mas… como podemos nos preparar para algo que vai além de nossa própria compreensão?”
Dominic Ihre Partouche, o Cardeal do Vento, geralmente impulsivo e despreocupado, estava visivelmente abalado. Seus dedos tamborilavam incessantemente na mesa, refletindo sua inquietação. A expressão em seu rosto mostrava que ele estava longe de seu estado habitual de confiança.
“Isso os torna ainda mais perigosos.” Dominic olhou para os outros, tentando encontrar em seus rostos algum vestígio de esperança. “Ao contrário dos reis da Ganância que conquistaram o mundo com força bruta, eles podem escolher espalhar sua influência como um veneno nas sombras… então tudo o que sabemos, tudo pelo que lutamos… pode desmoronar em questão de dias. Não podemos subestimá-los, não podemos cometer o erro de pensar que podemos enfrentá-los da mesma forma que enfrentamos outras ameaças.”
Maximilian Oreio Lagier, o Cardeal das Trevas, manteve seu semblante frio e calculista, mas por trás de seus olhos havia uma centelha de algo que raramente era visto: medo. Ele ponderou as palavras de seus colegas por um momento, seu olhar percorrendo os rostos ao redor da mesa. Por fim, ele quebrou o silêncio, sua voz baixa e gélida como a noite.
“Precisamos de mais informações, mais certezas… Há duzentos anos, os antigos cardeais achavam que os Deuses Demoníacos e suas divindades malignas eram a *Guilda Ainz Ooal Gown*, e decidiram se tornar isolacionistas, construindo defesas enquanto a destruição se espalhava pelo mundo.” Ele pausou, as lembranças da história pesando em sua voz. “Essa era a ideia deles.”
Yvon, sentindo o peso de suas próprias palavras, encarou os rostos de seus colegas cardeais, vendo neles o mesmo medo e apreensão que sentia. Mas ele sabia que não havia espaço para hesitação. Eles eram os líderes da Teocracia, os guardiões de sua fé e de seu povo. Se os Deuses Heteromorfos realmente haviam aparecido, então caberia a eles liderar a resistência, não importando o quão desesperadora fosse a situação.
“Dito isso,” Yvon começou novamente, sua voz agora mais firme, carregada de uma nova determinação. “Não podemos permitir que o medo nos paralise. Se os Deuses Heteromorfos estão realmente se revelando, então precisamos estar prontos para enfrentá-los, não importa o que custe. Eu acho que a melhor maneira de resolver isso seria acabar com os nossos problemas atuais: a guerra com os elfos e a traição de Clementine.”
Raymond Zarg Lauransan, o comandante das Seis Escrituras, sentiu o peso das palavras de Yvon como um fardo sobre seus ombros. Ele sabia que, se o pior se confirmasse, a responsabilidade de proteger a Teocracia recairia sobre eles, e o fracasso não era uma opção.
Maximilian Oreio Lagier permaneceu em silêncio por um momento mais, seus olhos penetrantes observando a todos com uma intensidade que beirava o sobrenatural. Quando finalmente falou, sua voz era baixa e cortante.
“A história nos mostrou que, quando o equilíbrio de poder é perturbado, as consequências são catastróficas. Precisamos reunir toda a informação que pudermos. Não podemos subestimar essa ameaça. Se *Eles* realmente apareceram, nossa sobrevivência depende de nossa capacidade de nos adaptarmos a essa nova realidade.”
Yvon olhou ao redor da mesa, seus olhos refletindo uma mistura de medo e determinação. “Eu não pretendo ser alarmista,” ele disse, sua voz mais firme agora. “Mas ignorar os sinais dos Deuses seria imprudente. Devemos nos preparar para o pior e esperar que, ao fazer isso, estejamos prontos para enfrentar o que está por vir, seja lá o que for.”
Maximilian assentiu, sua expressão sombria refletindo a gravidade da situação. Ele então desviou o assunto para uma questão igualmente urgente.
“Muito bem, agora precisamos falar sobre a traidora Clementine que roubou a [Coroa da Sabedoria].”
Berenice assentiu, sua expressão séria ao mencionar a traidora. “Sim, essa é outra questão que precisamos resolver com urgência.” Ela apertou os olhos, pensando nas possíveis consequências. “Vamos intensificar nossos esforços para capturá-la. Não podemos permitir que suas ações fiquem impunes.”
Dominic, ainda agitado, não conseguiu conter a raiva ao ouvir o nome de Clementine. Seus olhos faiscaram de indignação, e ele apertou os punhos sobre a mesa.
“Essa traidora merece ser punida com severidade,” declarou ele com determinação. “Ela não pode escapar das consequências de suas ações.”
Raymond, mais uma vez assumindo o comando da reunião, ergueu uma mão em um gesto que pedia calma. Sua voz, embora firme, revelava o peso da situação.
“Exatamente. Já sofremos perdas consideráveis ultimamente. Embora os mortos tenham sido ressuscitados, a Escritura Preta ainda está com membros em falta, e a Escritura da Luz Solar está efetivamente dissolvida. A Coroa foi roubada, a Princesa Miko está morta, e Kaire-sama não está se sentindo bem por causa da idade. Levará pelo menos dez anos para recuperar nossa força. Não podemos sair por aí assando carne sob o nariz de um Dragão adormecido, ainda mais no estado das coisas.”
O silêncio voltou a dominar a sala, mas desta vez, havia uma resolução nos olhos dos cardeais. Eles sabiam que estavam diante de uma crise sem precedentes, e que qualquer hesitação poderia significar o fim da Teocracia Slane. Era o momento de agir com toda a sabedoria e força que possuíam, pois o destino de seu mundo dependia disso.
“E não só isso.” disse Maximilian.
As palavras, carregadas de veneno, pendiam no ar, enquanto a hostilidade na sala parecia inchar, como se o ódio ali presente pudesse ser sentido fisicamente.
“Aqueles traidores imundos.” A voz de Dominic, o Cardeal do Vento, reverberou pelo ambiente. Seus olhos, normalmente calmos, estavam agora turvos de raiva contida.
“Elfos desgraçados.” Maximilian, o Cardeal das Trevas, cuspiu as palavras como se o próprio som delas o enojasse.
A Teocracia estava atualmente em guerra com os Elfos da Grande Floresta de Evasha. O que um dia fora um relacionamento cooperativo, transformara-se em um conflito brutal. A confiança havia sido quebrada, e agora a Teocracia lutava com todas as suas forças para submeter aqueles que um dia foram seus aliados.
Eles haviam estabelecido uma base avançada no Lago Crescente, o coração da Capital Élfica. A estratégia era simples e direta: destruir a capital em poucos anos e erradicar qualquer resistência. No entanto, o progresso estava longe do esperado.
“Que tal um cessar-fogo com eles por enquanto?” Berenice, a Cardeal do Fogo, sugeriu hesitante, sua expressão carregada de preocupação.
“Não seja tola.” A voz de Zinedine, o Cardeal da Água, cortou como uma lâmina afiada. “Quanto sangue acha que já foi derramado em combate? E se pararmos agora, nunca seremos capazes de nos vingar por ela.”
A sala mergulhou em um silêncio tenso, antes que o velho Raymond, comandante das Seis Escrituras, quebrasse o silêncio com um sorriso amargo. “Aquela criança...” Sua voz tremia ligeiramente, revelando uma rara fraqueza. Ele a chamava de criança por causa de sua aparência, mas todos ali sabiam que ela era mais velha que qualquer um naquela sala.
“...Onde ela está?” perguntou Yvon, o Cardeal da Luz, com uma expressão de genuína preocupação.
“Naquela sala aqui perto, como sempre,” respondeu Dominic, seu tom de voz assumindo uma suavidade inesperada.
Maximilian, normalmente imperturbável, inclinou-se ligeiramente, sua expressão refletindo um raro momento de introspecção. “Uhum, precisamos dar a ela a chance de se vingar por sua mãe.”
“Sim,” concordou Zinedine, sua voz firme, mas com um toque de compaixão. “Senão seria muito desumano. O coração dela deve se acalmar depois de se vingar, é no que acredito.”
Expressões de pesar apareceram nos rostos de todos os presentes. A ideia de vingança era amarga, mas havia um consenso silencioso de que essa era a única maneira de trazer paz àquela alma atormentada.
“...Francamente, me sinto ofendido com a atitude dos sacerdotes da época,” disse Raymond, sua voz carregada de desgosto. “Eles criaram uma pobre menina com uma personalidade assim.”
“Já que disse isso,” Yvon interrompeu, sua voz repleta de um ressentimento mal contido, “gostaria de lembrar em também culpar aqueles selvagens da floresta. Os Cardeais não acharam bom tirá-la do lado da mãe.”
“...É um tema deveras espinhoso.” Berenice balançou a cabeça, como se tentasse afastar os pensamentos que a atormentavam.
Maximilian voltou a falar, sua voz mais fria e calculista. “Mas o X da questão é que, se implantarmos aquela garota, talvez aquele Dragonlord desperte.”
“O poder dos deuses, *Keiseikeikoku*, provavelmente não funcionará naquele sujeito que pode usar Magia Selvagem,” Dominic ponderou, seu olhar perdido em pensamentos estratégicos. “Ao contrário do Soberano Dragão da Catástrofe.”
“Mhm.” Zinedine assentiu lentamente, sua mente já considerando as implicações. “Devemos lidar com aquele elfo decrépito e corrupto o mais rápido possível. Embora nosso relacionamento futuro com esses indivíduos ainda não esteja claro, não podemos cogitar a possibilidade de duas guerras simultâneas.”
Os Cardeais antigos e atuais tinham um medo constante do poder do Rei Élfico, um ser que, cem anos atrás, havia sido capaz de aniquilar a Escritura do Holocausto, uma das forças mais temidas da Teocracia. Embora a Teocracia fosse superior em quase todos os aspectos — seja na quantidade de itens mágicos, habilidade das tropas, ou recursos alocáveis — o Reino Élfico resistia graças a táticas de guerrilha e ao terreno traiçoeiro da Grande Floresta de Evasha. Esse ambiente natural, cheio de monstros e perigos ocultos, forçava a Teocracia a avançar com cautela, atrasando sua vitória.
No entanto, recentemente, a Teocracia havia tomado uma decisão drástica. A Escritura do Holocausto, que até então estava encarregada da defesa do Território Nacional, foi enviada para a guerra contra os Elfos. Esses especialistas em assassinatos, guerrilhas e contraterrorismo aceleraram o avanço da Teocracia de forma notável, mas o custo foi alto.
Dominic, com um olhar de determinação feroz, quebrou o silêncio. “Devemos ser rápidos e precisos. Não podemos dar a eles qualquer chance de contra-ataque.”
Maximilian concordou, seu tom inabalável. “Eliminaremos esse elfo degenerado. E, ao mesmo tempo, garantiremos que o coração daquela garota encontre paz através da vingança.”
Os Cardeais assentiram em uníssono, conscientes do peso de suas decisões. A guerra era implacável, e a Teocracia Slane não podia se dar ao luxo de hesitar.
“Então, que os preparativos sejam feitos,” disse Raymond, sua voz cortando o ar como uma lâmina afiada. “Não podemos permitir que nosso inimigo tenha tempo para respirar.”
“Não temos poder o suficiente para sobreviver contra ao menos um jogador... O que nos restou se resume em formar uma ampla aliança com o Estado do Conselho, huh...?” A voz grave do Comandante-Chefe — também conhecido como o Grão-Marechal — rompeu o silêncio, carregada de resignação. Até então, ele havia permanecido quieto, observando a reunião em silêncio.
“Ao que tudo indica, sim. Pois assim eles virão ao nosso resgate sempre que estivermos em apuros! ...*Ele* até poderá dar algum item do castelo flutuante para nós...,” respondeu o Diretor do Instituto de Pesquisa, cuja expressão era uma mistura de pragmatismo e ceticismo. Ele, o responsável por todos os avanços em pesquisa e desenvolvimento de magia, conhecia bem as limitações de sua nação.
Os sorrisos que se seguiram foram sarcásticos, cheios de um amargor que se instalava nas profundezas de seus corações. A verdade, embora não dita em voz alta, era clara para todos. Reforços poderosos o suficiente para salvar a Teocracia nunca seriam enviados. Essa realidade não era segredo para ninguém naquela sala.
“Uma cooperação mútua entre nós e o Estado do Conselho?” O Grão-Marechal balançou a cabeça, a incredulidade transparecendo em seu tom. “Isso é impossível para países com objetivos e ideais completamente díspares. Algum reforço poderia ser esperado se uma aliança fosse formada, mas nunca o suficiente para equilibrar as forças.”
“Concordo,” o Diretor murmurou, sua voz refletindo o pessimismo que permeava a sala. “Não há como o Soberano Dragão de Platina vir em nosso auxílio pessoalmente. E se a Teocracia ou o Estado do Conselho caírem, os novos jogadores exercerão um poder aterrador sobre a nação ainda de pé. Para evitar esse resultado, a jogada correta seria conseguir uma cooperação absoluta, onde uníssemos forças contra os novos jogadores.”
“Mas no que isso resultaria?” A pergunta retórica do Grão-Marechal pairou no ar, enquanto ele cruzava os braços, seu semblante endurecido pelo realismo. “Se a aliança invadisse e vencesse os novos jogadores, o que aconteceria depois? Naturalmente, os dois países voltariam a se ver como inimigos em potencial. E as consequências seriam devastadoras.”
Não era difícil imaginar o cenário hipotético que se desenrolaria. Sobreviventes das nações destruídas iriam para uma das duas nações vitoriosas, e, à medida que suas populações crescessem, não tardaria para que entrassem em uma espécie de guerra fria. A tensão nunca seria completamente aliviada, e a desconfiança permeava cada decisão.
“Idealmente,” continuou o Grão-Marechal, sua voz um pouco mais baixa, mas não menos grave, “só deveríamos considerar tal meio se isso significasse uma vitória completa para a Teocracia. Se a guerra eventualmente eclodisse entre a Teocracia e os novos jogadores, ambas as forças seriam significativamente enfraquecidas. E, nesse caso, o Estado do Conselho seria o único beneficiário.”
“Sim...” o Diretor murmurou, pensativo, antes de acrescentar: “A situação ideal seria que todos os Dragões Soberanos se unissem para acabar com qualquer jogador que aparecesse, mas isso não é possível. Os Dragões Soberanos que ainda vivem são aqueles que sobreviveram ao extermínio dos 8 Reis da Ganância — covardes que fogem ao ouvir a palavra *jogador*.”
“—Deixe algumas pessoas irem em busca de terras seguras. Eles serão os restos de nossa esperança, ou a epítome do nosso desespero, se assim posso dizer,” sugeriu o Grão-Marechal, sua voz carregada de uma melancolia que parecia ecoar em cada canto da sala.
Não havia nenhum país em que confiar fora da Teocracia, mas eles também não estavam pedindo que se tornassem nômades sem rumo. A Teocracia tinha um abrigo fora de suas fronteiras. Não era um lugar de lendas, mas um refúgio que fora habitado há 600 anos. Um santuário para a espécie humana, que até então conhecia apenas o medo. Esse refúgio era guardado por uma das Seis Escrituras, a Escritura do Pó.
“Se vamos evacuá-los, devemos começar os preparativos imediatamente,” disse o Grão-Marechal, sua voz carregada de urgência. “Quais serão os escolhidos?”
“Não podemos ficar de braços cruzados,” respondeu o Diretor, com uma expressão sombria. “Nós obviamente ficaremos até o fim. Quanto aos demais cidadãos, que tal fazê-los eleger um representante e deixar essa pessoa escolher?”
“Discordo,” disse um dos chefes do Judiciário, do Legislativo e do Executivo, interrompendo bruscamente. “Laurencin-sama deve ir com eles.”
“Eu?” Laurencin, cuja voz normalmente era calma e controlada, agora estava cheia de surpresa. “No caso de sermos aniquilados, o senhor, como um ex-membro da Escritura Preta, deveria ser o único a proteger e ensinar aqueles que restaram, não concorda?”
“Há muito deixei de ser aquilo que já fui,” respondeu Laurencin, sua voz carregada de um cansaço profundo. “Além disso, todos nós devemos ficar até o fim. Se algum de nós fugir, perderão a fé em nossa organização.”
“Mas—”
“—Essa discussão é sem sentido,” Laurencin cortou, sua voz firme. “Por mais que tenha sua importância, não é hora para isso.”
Ninguém se opôs.
“Concordo,” disse o Grão-Marechal, seu tom de voz retornando ao comando habitual. “Então, dando prosseguimento ao que é mais importante. Não vejo problema em deixarmos que o povo élfico fuja, mas devemos usar tudo que temos para caçar e perseguir aquele maldito Rei Elfo.”
O Pontifex Maximus, que havia estado calado até então, finalmente se manifestou. Seu semblante era sombrio, e o ódio em seu rosto era palpável. “Esse é o nosso objetivo primordial,” declarou, sua voz transbordando fúria.
Raymond, que havia permanecido em silêncio durante a maior parte da discussão, apenas concordou com a cabeça, suas expressões refletindo a severidade da situação.
“Dê à Morte Certa a chance de escolher,” o Pontifex Maximus continuou, sua voz cortando o ar como uma lâmina.
“Mhm,” murmurou Raymond, pensativo. “Mesmo que o Platinum Dragonlord já desconfie que a criança dará as caras, é improvável que ele a mate, dada a situação atual. Minha opinião pessoal é que o Rei Elfo deve sofrer como nenhum outro jamais sofreu antes de ser executado. A felicidade da criança vem em primeiro lugar. Conto com o empenho dos senhores!”
“Entendido.” O coro de vozes que se seguiu foi unânime, todos cientes da gravidade de suas decisões.
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Overlord•Overlord-73
Fiksi Penggemar["Tudo tem um começo e um final, mas para AINZ OOAL GOWN, só tem começo eterno"]