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POV - Jeon Jungkook


A escuridão me envolve, a cena se repetindo em looping na minha cabeça.

– Você é tão imprestável quanto esse seu filho! – Meu pai grita do andar de baixo.

O cheiro de álcool impregnado no meu nariz, o som dos copos se quebrando ainda parecia ecoar no meu ouvido dolorido, que assim como as digitais do meu pai bem estampadas na minha face, não me deixavam esquecer o tapa violento de mão aberta que levei há poucos minutos.

Dobro meus joelhos, balançando meu corpo, enquanto a gritaria não para no andar debaixo, murmuro várias vezes palavras desconexas, torcendo para o momento em que meu pai se casasse de descontar suas frustrações na gente acontecesse logo.

Não era nada fora do comum o que eu estava vivenciando, em algumas épocas do ano, na verdade, acontecia com mais frequência, como se o homem que me trouxe ao mundo ficasse ainda mais violento e quebrado, levando eu e minha mãe para dentro do inferno que ele havia preparado com muita cautela. Cada ação minha era motivo para um descontrole, para gritos, ofensas e culpa, sempre deixando bem claro que o maior culpado disso tudo era eu, de como eu não merecia nada do que faziam por mim, no fim das contas sua conclusão sempre era a mesma, eu não passava do seu saco de pancadas, imprestável, uma versão piorada do meu irmão mais velho.

Me pergunto quanto mais disso tudo sou capaz de suportar.

– Não quero que abra a porta do quarto daquele garoto, se eu sonhar que você foi lá consolá-lo, juro por Deus… Que ele não sai de lá até o fim de semana acabar, nem para beber um copo de água! – Posso ouvir os passos na escada se aproximando

“ Que ele esteja indo dormir” Manifesto e para minha sorte assim ele faz. No momento em que sei que o homem dormiu, me permito chorar baixinho, meu peito aperta, o rosto arde, começa a ficar difícil de respirar, de repente estou sufocando, puxo desesperadamente o ar para dentro dos pulmões, mas nada vem.












Acordo com um grito sufocado preso na garganta, posso sentir meus fios de cabelo grudados na testa suada, demoro um tempo até conseguir me desvencilhar da memória que veio em forma de pesadelo, a imagem do meu pai parecia não querer desaparecer, como se estivesse gravada na parte de trás das minhas pálpebras. Conseguia sentir a falta de ar sumindo, ao mesmo tempo que o calor próximo do meu corpo me puxa de volta para realidade.

Cecilia estava ali, deitada ao meu lado, respirando tranquilamente. Seu rosto, sereno e relaxado, em um contraste com o caos dentro da minha cabeça. O peso da sua presença trouxe um alívio inesperado. A observei por um momento, deixando sua calma se infiltrar em mim, como se sua simples proximidade pudesse afastar as memórias indesejadas. Meu coração começou a desacelerar, e o medo que me agarrou tão fortemente começou a se soltar, deixando espaço para uma sensação de segurança que eu não costumava me permitir.

Sem pensar muito, me aproximo dela, envolvendo meu braço ao redor da sua cintura, me apegando a sensação de ter alguém para me manter ancorado ao presente. Deslizo meus dedos até o braço desnudo, sentindo a pelagem que cobria sua pele macia com a ponta deles, inalando o cheiro habitual de morango em seus fios de cabelo.

A pressão do corpo junto ao meu, faz com que eu me sinta menos sozinho, o ritmo constante da sua respiração servindo como uma canção de ninar, então fecho os olhos, me concentrando somente nisso até que eu consiga pegar no sono novamente.







Acordei lentamente, ainda meio grogue, sem saber que horas eram e com uma dor latejante martelando minha cabeça. Passo meus dedos pelo lençol, sentindo o outro lado da cama vazio, franzo as sobrancelhas abrindo meus olhos, me dando conta de que estou sozinho no quarto. Deixo um longo suspiro escapar, a claridade que entra pela cortina é incômoda, parece deixar minha dor de cabeça ainda mais insuportável.

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⏰ Última atualização: Aug 24 ⏰

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