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Acordei sentindo o peso do corpo de Jeon sobre mim. Seu braço e perna esquerdos me envolviam fortemente, como se eu fosse um travesseiro. A respiração do mais velho estava completamente tranquila. A boca entreaberta puxava o ar para dentro dos pulmões enquanto o peito subia e descia calmamente. Os fios pretos do cabelo caídos no rosto faziam Jungkook parecer muito mais jovem com a expressão tão relaxada. Não acho que tenha o visto tão tranquilo em algum outro momento antes.

Levo meus dedos até seu rosto, afabstando o cabelo caído por cima dos seus olhos. Ele não move um único músculo sequer, nem faz menção de que acordaria, então continuo o carinho.

– Por que parou? – A voz do mais velho me traz de volta para a realidade. Acabei me perdendo em meio aos meus pensamentos, de tal maneira que nem ao menos notei que cessei o movimento dos meus dedos no seu couro cabeludo.

– Não notei que tinha acordado – Sorrio, direcionando meu olhar para baixo. Jeon abre os olhos e me fita por um bom tempo, até que eu quebre nosso contato visual.

– Preciso levantar, Jungkook – Ele nega com um balançar de cabeça, apertando ainda mais meu corpo. – Já são quase dez da manhã – Cutuco sua cabeça, recebendo um murmúrio contrariado como resposta. Jeon coça os olhos, um bico se forma na sua boca antes que ele me solte.

Jogo os pés para fora da cama. O contato direto da minha pele contra o piso gelado faz meu corpo inteiro se arrepiar. Estava tão quentinho debaixo do cobertor. Fecho a porta do banheiro, lavo meu rosto com água fria; a temperatura baixa me ajuda a despertar. Quando volto para o quarto, vejo que Jungkook abria e fechava os olhos lentamente, deixando-os mais tempo fechados do que abertos.

– Dorme mais um pouco – Murmuro, me aproximando dele. – Vou fazer alguma coisa para a gente comer e variar um pouco seu cardápio diário de cigarros, ódio e pobres almas que cruzam seu caminho. – Sorrio ao mesmo tempo que Jungkook franze as sobrancelhas, abrindo um único olho.

– Cheia de graça, você – Ele fala baixo, contendo um sorriso, a voz mais rouca do que de costume.

Faço meu caminho até a cozinha silenciosamente, observando os detalhes que geralmente passam despercebidos pelos meus olhos. Noto que o apartamento de Jungkook reflete sua personalidade: cores neutras, a decoração nada exagerada. Se não fossem alguns poucos quadros pelas paredes, elas seriam completamente lisas. Os móveis são bem alinhados, pouco gastos, como se algumas partes do apartamento não fossem muito utilizadas. Os cômodos não possuem muitos objetos pessoais à vista, mostrando somente o essencial. Chega a ser gritante a diferença se comparado com o meu, que dispõe dos meus gostos por toda parte: as séries que gosto, os livros que leio, os artistas que ouço e admiro, personagens de desenho e todo tipo de coisa que acho legal espalhadas pela casa, como um espelho em formato de gato, por exemplo. Acredito que esses detalhes me fazem associar o local como meu lar, meu cantinho. Talvez, para Jeon, o significado de fazer um local seu lar seja diferente do meu.

O barulho de algo batendo na grande janela da sala me desperta do transe. Coloco a mão sobre o peito, sentindo meu coração bater descompassado na caixa torácica. Consigo ver de relance o passarinho que atingiu o vidro voando para longe.

Meu celular vibra no bolso. Pego o aparelho, sentindo-o vibrar mais duas vezes. Puxo a barra de notificações, o apelido do Jimin se sobrepondo no aplicativo de mensagens. Clico no contato afobada.

"Oie sebosa"

"Tô com saudades, te amo"

Um sorriso grande toma conta do meu rosto quando leio suas mensagens.

"Bom dia, feioso. Tá melhor?"

"Também tô com saudade."

A resposta vem rapidamente:

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