Capítulo 30: Dor Silenciosa

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Cinco meses haviam se passado desde a mudança de S/N para o novo apartamento, e a vida tinha se transformado em uma sequência de dias felizes e cheios de significado. O novo lar de S/N, um apartamento espaçoso e bem iluminado, decorado com toques pessoais e lembranças dos momentos que tinham vivido juntas.

O relacionamento entre S/N e Rosamaria só havia se fortalecido com o tempo. As duas estavam mais apaixonadas do que nunca, encontrando conforto e alegria na companhia uma da outra. As manhãs começavam com o mesmo ritual carinhoso: Rosamaria se aconchegava no pescoço de S/N, uma rotina diária que se tornara indispensável.

Porém, em determinada noite a casa estava silenciosa, quase opressiva, enquanto S/N mexia no celular, deitada no sofá de seu apartamento. Ela tinha acabado de sair de um treino exaustivo e estava aproveitando o raro momento de descanso. Rosamaria havia saído para resolver algumas coisas e só voltaria mais tarde. S/N gostava desses momentos de tranquilidade, onde podia relaxar sem se preocupar com nada. Mas a calmaria foi interrompida por um toque na campainha.

S/N franziu a testa, estranhando a visita inesperada. Levantou-se com preguiça e foi até a porta, abrindo-a para encontrar seus pais parados do lado de fora. O choque foi imediato. Ela não os via há algum tempo, e as visitas deles nunca eram boas.

— Pai? Mãe? O que vocês estão fazendo aqui? — perguntou, tentando manter a voz neutra, mas já sentindo o desconforto crescer no peito.

Seu pai entrou sem cerimônia, os olhos examinando o apartamento com um olhar crítico. Sua mãe, mais reservada, entrou logo atrás, sem dizer uma palavra.

— Só viemos ver como você está, já que parece ter esquecido da sua família — disse o pai dela, com um tom de desdém mal disfarçado.

S/N fechou a porta, sentindo o estômago se revirar. Ela sabia como isso ia acabar. Sempre era a mesma coisa.

— Estou ocupada com os treinos, pai. Você sabe como é a rotina — respondeu, tentando manter a calma.

Ele riu sem humor, balançando a cabeça.

— Claro, os treinos. Sempre o vôlei. Mas, apesar de todo esse treino, você ainda não está jogando o suficiente, não é? O que você conseguiu até agora? Algumas vitórias? Isso é muito pouco para alguém com o seu talento.

S/N sentiu o golpe, como sempre acontecia. Nenhum de seus feitos parecia ser suficiente para ele. Mesmo sendo uma das melhores do país, mesmo sendo indispensável para o time, nunca era o bastante.

— Eu estou fazendo o meu melhor, pai. As coisas estão indo bem. O Minas está ganhando a maioria dos jogos, e o time confia em mim.

— Ganhar a maioria dos jogos não é o suficiente! Você deveria estar dominando, mostrando a todos que você é a melhor. Mas parece que você está satisfeita com mediocridade — retrucou o pai, sua voz carregada de frustração.

S/N sentiu o coração apertar, mas se forçou a manter a compostura.

— Não é mediocridade, pai. Eu estou jogando em alto nível. Mas não dá para ganhar todos os jogos. O esporte não é assim — disse, tentando explicar, mesmo sabendo que era inútil.

— Desculpas. É só o que você tem a oferecer? Desculpas? — ele continuou, a voz aumentando de volume. — Você deveria ser grata por todo o esforço que fizemos por você, e o que recebemos em troca? Uma filha que se contenta com o "bom o suficiente".

Sua mãe, até então em silêncio, finalmente se pronunciou.

— Nós só queremos o melhor para você, querida. Mas parece que você não está se esforçando como deveria. Talvez esteja distraída com outras coisas... — disse ela, com um tom que sugeria mais do que dizia.

Conexão Explosiva - RosamariaOnde histórias criam vida. Descubra agora