02. Vazio, como uma folha em branco

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Kim Gyuvin.

Este tinha tudo para ver o mundo da forma mais miserável possível, afinal, sua vida era, de fato, uma miséria, mesmo que ele não admita para si mesmo que não vive o que realmente gostaria de viver. Kim tem o estranho, e muitas vezes, chato, jeito de ver a vida. Não se comporta como um verdadeiro rebelde sem causa como a maioria dos jovens da época como deveria, mas ele era tão oposto a todos aqueles que enxerga enquanto caminha pela rua em direção ao seu humilde trabalho. Especialmente porque as dores da vida não o deixaram ser alguém irresponsável que não se importa com o dia de amanhã, pois não terá seus pais para livrá-lo de qualquer problema em que entre.

Ele sabia apreciar o dia como ninguém, no fim das contas, diz que é a única coisa bonita que a vida traz. Era bonito de se ver, o Sol daquela manhã estava mediano, quase pronto para ter seu ponto mais quente assim que o ponteiro do relógio marcasse as meio-dia. Os olhos levemente fechados por causa do brilho, o vento fraco que batia em seus cabelos extremamente pretos, o pequeno sorriso que adornava os seus lábios finos. Era encantador para quem apenas estivesse observando, as garotas com suas calças coloridas e coladas passavam pelo garoto, trocando sorrisos e mexendo nas mechas do cabelo, enquanto mascava um chiclete de cereja. Não é como se Gyuvin reparasse nessas coisas, afinal, nunca viu nada de especial em garotas, talvez esse fosse o motivo dele ter sido praticamente expulso de casa, apenas talvez.

Aquele momento da manhã era o melhor e único momento relaxante que o garoto de cabelos pretos tinha, quando andava pelas ruas e escutava os barulhos dos caminhões de sorvete, as barracas de doces. O bairro onde trabalhava era extremamente reconfortante, era quase um clichê dos anos oitenta, se realmente não fosse. Havia uma praça logo a frente, onde não se via muita gente por ser dia de semana, mas havia muitos jovens por ali, alguns cabulando suas aulas, outros às esperando. Seu trabalho não era o melhor momento de sua vida, afinal, ter que aturar o filho do seu chefe tornava o serviço um verdadeiro inferno, especialmente porque o garoto nutria um certo desentendimento com o pobre Gyuvin que nunca o fizera nada. Tudo estava sempre errado para Park Gunwook, até o ponto de açúcar nos bolinhos de laranja.

E foi pensando no dia infernal que teria que aguentar que chegou na fachada da padaria onde trabalhava. Era um lugar bonito, todos em cores claras e tons pastéis de azul e rosa, além de que tinha uma casa logo acima, essa que Kim pensava estar desabitada porque nunca viu ninguém ali, nem ao menos encontrava as portas da sacada abertas. Já até mesmo perguntou para Gunwook, mas este apenas o mandou "cuidar de sua vida medíocre".

— O príncipe vai ficar parado aí ou vai trabalhar? — Gyuvin ouviu que fazia seus ouvidos pedirem para serem surdos. Park Gunwook.

Apenas suspirou e entrou na padaria, logo sentindo o cheiro de café e pão recém-saído do forno. Essa era a melhor parte de seu trabalho, além de poder se alimentar, com certeza, era a melhor parte, mesmo sendo aturar um jovenzinho muito rabugento reclamando em seu ouvido o tempo todo. Às vezes alguns sacrifícios valem a pena.

O garoto apenas rezava para que o insuportável filho de seu chefe não enchesse muito seu saco, pois sua noite anterior foi extremamente cansativo e horrenda, apenas queria fazer seu serviço em paz e logo depois decidir se guardaria o dinheiro ganho ou comprava alguma coisa para jantar.. Esse era sempre seu maior dilema do dia.

Colocou seu avental e foi para a cozinha, lavando as mãos e começando a preparar as massas. Gyuvin tinha um ótimo dom culinário, especialmente na área da confeitaria. Antes de ser tachado para fora de casa, gostava de preparar os mais diferenciados doces, cresceu aprendendo a cozinhar e ganhando os dotes da sua mãe, que sempre gostou da companhia dos filhos nesse momento.

Nos verões nem tão quentes de Anyang, ficava o dia inteiro preparando sorvetes junto a sua família, seu pai sendo o mesmo atrapalhado de sempre, fazia os momentos se tornarem ainda mais engraçados.

1982 AnalogiasOnde histórias criam vida. Descubra agora