06. Inconveniente, como chuva em um dia ensolarado

32 5 5
                                    


 Ricky estava terminando de ler seu livro, este que quase dormiu enquanto lia, escutando o chiado do rádio que ficou sem vontade de desligar. Com os olhos quase se fechando novamente, foi desesperado pelas batidas desesperadas em sua porta, estranhando de primeiro, pelo simples motivo de que ninguém ia em sua casa, e a essa hora os Park's estavam bem longe daquela rua. Pensou seriamente em ignorar aquelas batidas insistentes em sua porta, mas curioso e cansado de ouvir o barulho, resolveu abri-la, se assustando quando viu a cena caótica do garoto em sua frente.

— Me deixe entrar, por favor! — disse o garoto ofegante, apoiando as mãos nos joelhos e com suor escorrendo de sua testa.

Shen Ricky não era acostumada a ter piedade das pessoas, até porque, a cinco anos quase não têm contatos com elas e as famosas emoções humanas, lidando apenas com a sua dor e sua solidão diária, então, sentir-se empático com um garoto apavorado, este que alguns dias atrás entrará escondido em sua casa, era uma grande surpresa. Não definiria como preocupação pois nem ao menos o conhece, mas sentiu a famosa pena assolar seu coração, mesmo cogitando apenas despachá-lo de sua porta e falar para ele nunca mais aparecer em sua frente e parar de aparecer em sua casa como se fossem conhecidos ou qualquer outra coisa que ele pense que seja.

Pronto para mandá-lo embora, viu um homem enorme subindo suas escadas, fazendo um barulho estrondoso ao pisar no ferro fraco, se assustando. O homem tinha um sorriso estranho no rosto, quase como um maluco pronto para matar alguém. Por reflexo, o loiro apenas puxou o garoto desesperado a sua frente, que o olhava como se pedisse pelo menos um pouco de piedade. Sem entender sua atitude, classificando apenas como um momento de adrenalina, Ricky fecha a porta num estrondo, trancando-a com a chave novamente e se encostando na porta.

Olhou para frente, encarando o moreno de olhos arregalados, que permanecia imóvel desde que foi puxado inesperadamente por mãos pequenas e macias — se atentou muito a este minúsculo detalhe.

O coração de Gyuvin batia freneticamente, agora não entendi se era a adrenalina, o medo de apanhar até ficar sem os seus dentes, ou o olhar fixo do garoto loiro a sua frente, encarando-o como se estivesse em alguma espécie de hipnose profunda, nem ao menos piscava, e Gyuvin não estava tão diferente, ainda soando e pensando em como alguém com a boca entreaberta e olhos levemente arregalados pode ser tão incrivelmente fofo.

Pularam de susto quando batidas fortes foram desferidas na porta, e logo Shen se afastou, rezando para que a madeira fosse resistente o suficiente para continuar intacta e fazer o homem ir embora de sua porta.

Gyuvin limpou suas mãos nas calças para tirar o suor que escorria por elas, e levou em direção ao loiro ainda assustado a sua frente, na esperança de um comprimento, mas a única coisa que recebeu foi um aceno negativo de cabeça, e o vulto passando ao seu lado, deixando sua mão erguida no ar, e um moreno muito constrangido.

As batidas na porta pararam, e isso fez com que Kim voltasse ao seu estado mental normal, sentindo-se brevemente envergonhado pela aparição repentina na casa de um desconhecido que, porém aliviado por ter escapado de uma possível surra.

Shen se sentou em seu sofá e pegou seu livro novamente, como se nada estivesse acontecido e um garoto suado, levemente sujo e desconhecido não estivesse em sua casa, logo após um rapaz enorme quase arrebentar sua porta.

Ele era assim, sempre tentando lidar com as pequenas coisas da vida como se elas não fossem nada, era sempre o melhor jeito de resolver qualquer problema: fingir que eles não existem. Incrivelmente, isso funciona muito bem para Shen Ricky, que não tem muitos problemas na vida e todos que aparecem, vão embora da mesma forma que vieram: repentinamente, e isso o deixava aliviado. Sua vida, apesar de solidária, era muito fácil, morava de graça em uma casa confortável, recebia um café da manhã digno de realeza em seu pequeno apartamento todos os dias, e passava o resto da tarde e parte da noite lendo e escutando suas músicas preferidas, comprando suas coisas com o dinheiro que seus pais o deixaram, que não era pouco. Monótono, mas perfeito.

1982 AnalogiasOnde histórias criam vida. Descubra agora