19. Livre, como a sensação de estar nos braços de quem ama

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Ricky, naquele momento, se sentia em casa. O cheiro familiar, rodeado por sua maior paixão e o cheiro indescritível de um livro velho com páginas amareladas e desgastadas que contavam as histórias mais insignes.

Quando levantou da cama nesse dia, as palavras de Gyuvin ponderavam em sua cabeça, no momento em que recebeu o café de Doyoung, ao tomar seu banho, ao tentar ler um livro e escutar sua estação de rádio preferida, em sua mente só passava a frase dita pelo seu, agora, namorado. Ele nunca pensou em procurar um emprego ou algum passatempo que não fosse dentro de seu mundinho particular, sempre pensou em ficar ali para sempre, fugindo e se escondendo de tudo e de todos, mas, talvez, viver não seja a pior coisa do mundo. Procurar felicidade em lugares prováveis e se sentir realizado de alguma forma, poderia ser reconfortante e atrair um lado de Shen que ele nem mesmo sabe que existe.

Ele sabe que seus pais gostariam que ele encarasse o mundo com bravura e fosse feliz de seu próprio jeitinho, não gostariam de ver seu garotinho vivendo sozinho pelo resto da vida, se perguntando o que o mundo poderia lhe oferecer; sem saber as oportunidades que deixará passar. Com esses pensamentos em mente, Shen se encontrava dentro da biblioteca da cidade.

Tinha uma arquitetura rústica, em vários tons de marrom e bege, alguns desenhos no teto; mesas dispostas pelo local, ao lado das centenas de prateleiras que ocupavam a maioria do espaço daquele lugar enorme. Era como estar em um castelo repleto de fantasia. O clima ali dentro era quente, aquecendo o peito de Ricky, como quando estava perto de Kim. Era como estar em casa, e não imaginou que conseguiria ignorar todos os olhares e pessoas quando andava na rua, sozinho, mas estar ali parecia fazer tudo valer a pena.

Uma senhora viu o garoto de cabelos loiros olhar ao redor com certo brilho nos olhos, como se estivesse vendo a coisa mais incrível do mundo. Era engraçado ver a expressão do loirinho, como uma criança ao ver uma montanha-russa pela primeira vez.

— Olá, garoto! — a senhora o chamou, despertando-o do encantamento momentâneo.

Se reverenciou para a mulher de cabelos brancos, que tinha um sorriso fraco no rosto.

— Sou a senhora Han, deseja alguma coisa?

O garoto ponderou por alguns segundos, pensando no que falar, sentindo um desconforto dentro de si, o fazendo apertar suas mãos em nervosismo.

— Não precisa ficar nervoso, querido. Eu percebi que você pareceu meio encantado ao entrar. Nunca esteve aqui? — a moça parecia simpática, o que fazia a ansiedade de Ricky parecer melhor.

— Eu nunca estive em lugar nenhum, para falar a verdade. — falou baixo e riu, deixando a senhora confusa com a sua fala. — Eu gostaria de saber se... Hm... Eu gostaria de um emprego! — disse com sua confiança quase quebrada.

Nunca teve que passar por uma dessas situações, pedir coisas às pessoas, muito menos um emprego, nem ao menos sabia como um emprego funcionava. Por que Gyuvin lhe meteu nisso?

Senhora Han deu uma leve risada.

— Você parece entender bastante de livros. Qual o seu nome, querido?

— Oh, desculpe — percebeu sua falta de educação ao não se apresentar. — Sou Shen Ricky, senhora. E sim, eu leio bastante.

— Eu acho que tenho algo para você, Ricky. Me acompanhe. — a moça o chamou, e só naquele instante percebeu que não havia passado da entrada do local.

Acompanhou a senhora até uma bancada, que ficava no fundo da biblioteca, atrás de todas as prateleiras e mesas, um tanto escondidas. Um garoto de cabelos castanhos estava sentado no chão, com a cabeça encostada na parede, parecia dormir. Ricky conhecia aquele menino, era o mesmo que levava e buscava seus livros todos as vezes.

1982 AnalogiasOnde histórias criam vida. Descubra agora