16. Inesperado, como o convite para um encontro

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 A semana se passou rapidamente, e a amizade, improvável, de Kim Gyuvin e Shen Ricky parecia ficar, estranhamente, mais forte a cada dia que se passava. Gyuvin nunca teve muitos amigos, apesar de muitas admiradoras, seu único amigo verdadeiro era Taerae, o qual não era muito compatível, mas faziam uma dupla incrível, isto é, antes de Taerae se juntar aos hippies da rua debaixo e o deixar de escanteio.

Todos os dias após seu expediente, Gyuvin batia à porta e Shen já sabia exatamente quem era, e sempre abria um sorriso pequeno ao ver o mais alto com seu sorriso brilhante de sempre. Suas conversas duravam horas a fio e parecia que eles estavam conectados como duas melodias iguais, com harmonias e letras diferentes, eram tão parecidos quanto distintos. E isso intrigava Ricky, mas ele preferia não pensar muito no assunto, gostava da companhia do moreno. Ainda não entendia muito bem a palpitação estranha no peito quando o outro ria ou comia um bolinho e seus olhos brilhavam, nem o frio na barriga quando via chegar, ou a tristeza quando o via indo embora. Eram sentimentos desconhecidos por Shen, que sempre o leu nos livros, mas, na prática, é muito mais forte e confuso.

Se apaixonar é confuso, afinal.

Numa noite estrelada, observando as ruas de Anyang pela varando de Ricky, Kim o questionou:

— Não tem curiosidade em ver como são as coisas fora daqui? — Shen o encarou, confuso com a pergunta. — Fora da sua varanda, tudo o que tem aqui é tudo o que você imagina que tem por aí? A cidade é bem bonita perto do natal, sua vizinhança não é muito natalina, Shen.

O loiro o encarou por um bom tempo, assimilando sua pergunta e pensando em sua resposta, porque não, Ricky nunca pensou em sair de sua casinha em cima do café, nem mesmo para ir na esquina ou no parque que tinha em frente de sua residência. Nunca imaginou o que tinha longe daquela rua, tinha medo de sair sozinho, com medo do que poderia a vir acontecer consigo, do que ele poderia ver. O único mundo que ele conhecia era a utopia presente em seus contos, e até mesmo nele o universo parecia assustador.

— O mundo é perigoso, Gyu. Aqui é seguro. Tenho certas curiosidades, penso se o café está exatamente do mesmo jeito de anos atrás. Ir em uma loja de discos e passar horas a fio procurando vinis, ou ir em uma biblioteca e ficar bravo com o barulho que as pessoas fazem em volta. Mas é apenas isso, curiosidade.

Gyuvin se perguntava a partir de qual momento apelidos começaram a fazer parte da rotina de conversa deles, mas isso não era algo ruim, de modo algum.

— E se eu dissesse que te levo onde quiser? — o loiro o olhou e sorriu.

— Isso o deixaria feliz?

— Muito! — Respondeu rapidamente e convicto, como uma criança quando sorvete lhe é oferecido.

Ricky riu. — Quem sabe um dia, Kim.

No dia seguinte, Gyuvin chegou, como sempre, animado para o trabalho. Para muitos, ter um emprego é frustrante e cansativo, mas era prazeroso para Kim, não havia nada melhor do que sentir o cheiro de café todos os dias que pisava no local, o sorriso das pessoas sendo direcionado a si aqueciam seu coração, e esses dias eram um deles.

Clientes conhecidos passavam pela porta e o cumprimentavam com um grande sorriso, aquilo fazia o dia de Kim valer todo a pena.

A movimentação do café estava como em todos os outros dias, alguns momentos cheios, outros onde apenas um cliente lia um livro em uma das mesas com um copo de café ao lado. O dia parecia estar perfeito e nada poderia dar errado, exceto por um rosto conhecido demais para Gyuvin entrar no café.

Seu irmão.

Seu irmão que não via há três anos e pensava até mesmo ter esquecido de sua existência, assim como o resto de sua família. Um terno cinza, junto de uma gravata vermelha e um semblante tristonho, mas ainda com traços fortes da família Kim. O sorriso de Gyuvin se dissipou em segundos ao vê-lo parando em sua frente.

1982 AnalogiasOnde histórias criam vida. Descubra agora