14. Doce, como um bolinho de framboesa feito com carinho

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Segurando uma sacola grande e um sorriso enorme no rosto, Gyuvin bateu na conhecida porta de Ricky, dando sua corriqueira três batidas, esperando ansiosamente que o loiro abrisse a porta.

Não foi fácil para Kim mentir para Doyoung, alegando estar doente e não pôde trabalhar no dia, apenas para passar um — estranho — dia com Shen Ricky. A cabeça de um apaixonado não funciona da melhor forma, e a de Gyuvin flutua nas nuvens igual a um passarinho cego.

Usou todas as suas artimanhas adquiridas em sua juventude rebelde para conseguir ir no minúsculo beco sem ser percebido por Doyoung, ou na pior das hipóteses, Gunwook.

Escutar batidas em sua porta já virava algo costumeiro para Ricky, antes ele sabia exatamente a hora que deveria atender a porta e sabia exatamente o que era, agora, todos os dias era surpreendido pela presença de Kim em horas aleatórias do seu dia. Não era rotineiro, então um estranhamento o atingia todas as vezes, porque, desde que seus pais morreram, tudo em sua vida era premeditado, (in)felizmente Kim Gyuvin era um ser humano muito aleatório, e Ricky descobriu isso não apenas pela forma como ele chegava em sua casa todos os dias, mas quando abriu a porta e viu um moreno sorridente, com os cabelos molhados e duas sacolas em mãos.

O loiro o encarou, esperando respostas do porquê ele estava ali.

— Eu vou te ajudar a fazer bolinhos! — disse animado.

Shen não esperava que ele levasse sua frase tão a sério que chegaria no outro dia com duas sacolas de pano cheias de comida.

— Ah... Pode entrar. — Disse acanhado.

Não costumava ter pessoas em sua casa, sempre se sentia invadido, porém, este não era o caso naquele momento. Era estranho, pois estava sempre sozinho na companhia de seu rádio, mas, não era desconfortável ou fazia sua pele coçar em nervosismo.

Gyuvin foi até a cozinha e colocou as sacolas em cima da bancada, batendo palmas e olhando para Ricky, ainda calado e sem saber certamente o que dizer em uma situação um tanto... inesperado, mesmo que a ideia tenha sido dele, só queria fazer o garoto se sentir melhor.

— Então... Pronto para virar o melhor confeiteiro de toda Anyang? — falou animado, arrancando um breve sorriso de Ricky.

— Não fique tão empolgado, nem ao menos sei fazer café. — diz envergonhado, se aproximando do balcão e apoiando seus cotovelos neles, de frente para Gyuvin, que começava a tirar as compras da sacola.

Passou a alisar seus braços, tímido, mesmo que fosse sua casa e o intruso parecia muito confortável em sua cozinha, com o sorriso ainda em seu rosto, como se fosse uma máscara grudada em seu rosto. Não achava normal alguém sorrir tanto o tempo todo, mesmo que fosse um dos sorrisos mais lindos que já tinha visto em sua vida.

Kim estava empolgado, arrumando os sacos de farinha na bancada, mesmo nervoso com a companhia do loiro, que não parava de encará-lo. Gyuvin percebeu a timidez estampada nos gestos alheios, a linguagem corporal não era seu forte, mas Ricky era apenas evidente demais.

— Me desculpe, estou sendo muito invasivo? — Perguntou, ao perceber que parecia à vontade demais no momento.

Shen negou com a cabeça, ainda com um sorriso fraco.

— Não, apenas... Apenas não estou acostumado com pessoas na minha casa, nem com pessoas no geral. — riu fraco ao final da frase.

— Eu acho que sou a pessoa mais sociável do mundo.

— Eu percebi. — disse baixo e ironicamente, arrancando uma gargalhada alta e inesperada de Gyuvin.

— Venha aqui! Não irá aprender nada parado aí! — diz animado, fazendo Ricky levantar sem muita animação.

1982 AnalogiasOnde histórias criam vida. Descubra agora