07. Trágico, mas não como Romeu e Julieta

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Uma semana se passou desde o fatídico dia em que Gyuvin foi expulso da casa de Ricky por sua grande e inconveniente boca grande. Até então, seu sorriso se abria toda vez que pensava nos estranhos encontros que tiveram, até mesmo seu amigo, Taerae, estranhava as risadas fracas e suspiros que ele dava quando entrava e saia de casa.

Gyuvin nunca foi uma pessoa de muita crença em paixões e amores à primeira vista, e talvez ele seja um caso isolado, ou seu coração foi apenas fraco demais quando bateu forte por um baixinho de cabelos loiros e, aparentemente, sem muita vontade de vivências sociais. Todos os dias tentava encontrar uma forma de conseguir vê-lo; todos os dias ficava alguns minutos do lado de fora da cafeteria na esperança de que o garoto saía em sua varanda, mas é como se ele já soubesse que Kim o esperava do lado de fora, pois nunca aparecia, e a única visão que o moreno tinha era das cortinas voando de acordo com o vento.

Gunwook lhe espreitava a todo momento, com um olhar esquisito em sua direção, não de raiva como geralmente é dirigido, algo mais como desconfiança, esperando o momento exato para tramar algo contra Kim, a espera de um único mísero deslize para conseguir pegá-lo.

O tempo estava frio, com o inverno intenso batendo na porta da pequena cidade de Anyang, todos usavam roupas agasalhadas e pediam cafés quentes para se aquecer. Gyuvin se abraçava em seu suéter cor-de-rosa, não era um casaco muito grosso para a temperatura do dia, e assim que chegou em seu trabalho se arrependeu da roupa que usava, mas ao adentrar no local apenas sentiu um calor reconfortante por conta das bebidas quentes que, incrivelmente, aqueciam o local, o barulho dos copos se batendo, pessoas conversando. Mais um dia comum na vida de Kim Gyuvin onde ele atendia pessoas e ia para fora na pequena pausa que tinha.

Após atender o último cliente da manhã, se pôs a limpar o local rapidamente, na esperança de conseguir ir mais cedo. Alguns podem dizer que Gyuvin esteja ficando paranoico, obsessivo ou maluco, e talvez fosse um pouco louco, mas não há como questionar um olhar brilhante e um coração palpitando em sinal de total rendimento.

Assim que terminou seus afazeres, se sentou na pequena escada na entrada da cafeteria, e passou a observar as pessoas que passavam, sempre atento a todos os movimentos, seus olhos não paravam quietos um segundo sequer.

Estava quase fechando os olhos enquanto apoiava seu rosto na palma de sua mão, e despertou rapidamente ao ver um homem com uma bicicleta entrando no beco que dava aos fundos do seu trabalho. Como um grande curioso e talvez apaixonado, seguiu-se para o mesmo lugar, vendo o homem com uma boina segurando cerca de quatro livros em seus braços.

Chamou-o num fio de voz, tendo a atenção do rapaz para si.

— Ah, desculpe — essa palavra vinha sendo diariamente repetida pelo garoto. —, esses livros são para o Ricky? Quem vive lá em cima? — Apontou.

O homem apenas acenou em confirmação.

— Pode deixar que eu levo para ele, você ainda tem vários para entregar, certo? — Perguntou gentil, como sempre.

O rapaz acenou novamente, sem a mínima vontade de abrir a boca, porém estranhando o comportamento alheio, especialmente porque sabia que Ricky não era muito sociável e provavelmente não gosta de pessoas à sua volta. Mas, como realmente tinha bastante livros para entregar, apenas colocou nos braços do moreno e saiu com a sua bicicleta.

— Nossa, isso foi fácil! — Exclamou sozinho e feliz.

Bom, quando bateu na porta, desta vez com calma e sem desespero, esperou por alguns minutos até a porta ser aberta. De primeira esperava receber pelo menos um olá e não uma porta quase se fechando em sua cara. Colocou seu pé, impedindo a madeira de bater, e apontou para os livros em seu braço.

Ricky bufou alto e em bom som quando viu aquele moreno novamente em sua porta. Após aquele dia esquisito onde o intrometido foi além do permitido, Ricky pensou que nunca mais o veria, e quando abriu a porta e deu de cara com um moreno sorridente, com um sorriso fofo e os cabelos repartidos, pensou que, ou o garoto era muito insistente, ou queria arrancar alguma coisa de si, pois, parece que ele sempre vai aparecer na sua porta a qualquer momento de forma inusitada e inesperada possível.

— Bom dia! Eu vim trazer seus livros! — Falou empolgado, com o comum comportamento infantil, que Shen acha que ele tinha.

— Virou bibliotecário? — Perguntou em pura irônia.

Nada faz o sorriso de Gyuvin se desmanchar, e isso começa a irritar Ricky.

— Ah, ele precisa de uma folga, então eu o ajudei. — Ricky revirou os olhos e pegou os livros das mãos alheias, porém acabou deixando um em sua mão quando não o conseguiu pegar por serem um pouco pesados.

Kim olhou para a capa do livro vendo o nome conhecido preenchendo a capa, logo o mostrando para Ricky.

— Você parece alguém que gosta de finais felizes, talvez esse não seja o melhor para você.

Shen o olhou com curiosidade, e se perguntava se ele era tão fácil de ler, porque até um boboca como o moreno a sua frente perceberá esse pequeno detalhe em sua personalidade sem nunca o ter visto. Franziu o cenho, esperando mais alguma fala.

Devolve o meu Romeu, e quando ele morrer, corte-o em pequenas estrelas. E ele deixará a face do céu tão bela que o mundo inteiro se apaixonará pela noite. — Citou, olhando fundo nos olhos castanhos de Shen, que permanecia confuso com a frase dita. — Eles morrem, os dois.

De uma expressão curiosa, passou para uma furiosa. O nariz fino e aparentemente perfeito se enrugou, linhas de expressão aparecem em sua testa, e um som nada feliz saiu de sua boca. Para o loiro não havia nada pior do que estragar um final desconhecido por si.

— Eu por acaso te perguntei alguma coisa, garoto? — Falou grosseiro, espantando Gyuvin, e finalmente seu sorriso desmoronou.

— Ah me desculpe, não foi minha intenção estragar o final. Mas, se te alivia, o livro é incrível. — Disse nervoso, recebendo apenas um estalo de língua vindo do baixinho, ainda meio nervoso.

Estava tão absorto naquele momento que nem se lembrará de se sentir desconfortável na presença alheia.

— Se lhe servir de consolo, posso ir até lá embaixo e lhe chamar pela varanda: Ricky, Ricky! Onde estás?

Tentou ser engraçado, mas a única coisa que recebeu foi uma tosse exagerada.

— Como sabes meu nome?

Rapidamente pressionou os livros contra seu corpo, em forma de defesa.

— Eu ouvi o Gunwook te chamando quando... Bem, quando eu entrei em sua casa.

Shen deu de ombros e voltou a olhá-lo, já soltando os livros contra si, percebendo que talvez não esteja sob ameaça alguma com aquele garoto abobalhado a sua frente.

— E o seu?

— O meu o quê?

— Seu nome!

Realmente, um bobo.

— Ah! Gyuvin, Kim Gyuvin. — Ricky acenou e então um silêncio breve se instalou entre os dois, até ser cortado por Gyuvin, novamente. — Então, você é tipo a Rapunzel?

A expressão confusa voltou ao rosto de Shen.

Às vezes parecia que ele era realmente uma criança curiosa e intrometida.

Percebendo a confusão na feição do outro, se explicou. — Rapunzel, sabe? Vive numa torre e não pode sair, a diferença é que seus cabelos não servem como escadas.

Ricky, pela primeira vez em tempos se permitiu soltar uma risada, não era nada exagerado como uma gargalhada, mas era suave e gostoso de ouvir, de acordo com os ouvidos de Kim Gyuvin.

Surpreendo a si mesmo, o loiro colocou a mão livre em sua boca, calando-se rapidamente, mas não perdendo o momento.

— Eu tenho os cabelos loiros! — Mesmo sem a mínima graça, Gyuvin se pôs a rir da fala do outro, tão abobalhado como qualquer outra pessoa encantada.

— Lhe falta um princípe. Poderá ser eu? — Disse com um tom de riso na voz, esperando algo em troca, seja alguma risada alguma frase que magoaria seu ego, porém a única coisa que sentiu foi seu nariz doer após a porta bater em seu rosto.

1982 AnalogiasOnde histórias criam vida. Descubra agora