05. Nas nuvens, como se previsse chuva

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A cabeça de Gyuvin estava viajando entre as nuvens. Seu corpo estava ali, mas sua cabeça estava em um plano astral totalmente contrário das pessoas a sua volta.

Kim não costuma ser avoado, com tantos problemas em sua vida, neles é só o que o garoto costuma pensar desde que teve que aprender a viver por conta própria. Em sua cabeça só rondava problemas e dívidas, e isso costuma deixá-lo preocupado e consequentemente um pouco distraído, porém, neste dia em especial sua cabeça estava em outro lugar, mais especificamente, num garoto estranho de cabelos longos que vivia em sua de seu trabalho. Pode parecer um pouco emocionado, mas Kim Gyuvin sempre sentiu as coisas com mais intensidade do que qualquer outra pessoa, e com os desastres da vida ele aprendeu que sentir demais significava dor demais e tenta todos os dias aprender a controlar seu corpo, entretanto, o tal Ricky destruiu completamente todas as conquistas sentimentais de Gyuvin.

O moreno desde pequeno era demasiado curioso, sempre se intrometendo em todos os assuntos de seus pais, e querendo saber de tudo mais do que todos, e dessa vez, ele não sabia se o sentimento e encantamento era pura curiosidade, ou realmente foi cativado por um baixinho estranho que olha o mundo pela sacada de sua casa. Ele sabia que não sossegaria até vê-lo abaixar a guarda, mas não faria isso de modo forçado ou inconveniente, seria da mesma forma que ele cativa a todos com quem conhece, com o melhor de sua personalidade. Apenas não sabia como faria isso com alguém que não saísse de casa.

O café estava cheio, era um sábado de manhã e grande parte das pessoas do bairro encomendam doces ou vão para a cafeteria comprar pão, ou apenas ficar por lá aproveitando o astral do lugar que cheirava a docinhos e café recém-moído, um aroma perfeito para quem o aprecia. Uma das coisas que Gyuvin mais gostava em seu local de trabalho eram as velhinhas que passavam por ali comprando pãezinhos e docinhos para seus netos, as senhoras sempre conseguiam arrancar sorrisos espontâneos de Gyuvin, que tão pouco motivos tinha para sorrir. Algumas o comparavam com alguns de seus netos, outras diziam que se fossem mais novas o garoto não escaparia, e quase todas diziam que ele parece um garoto precioso, e o coração de Gyuvin aquecia todas vezes que escutava a frase, e se lembrava que ele era sim um garoto precioso que conquistaria muito mais em sua vida e seus pais perderam um filho incrível. Kim gostava de falar frases motivacionais para si mesmo quase todos os dias, e seu colega com quem morava sempre o recebia com abraços rotineiros, pois sabia que Gyuvin gostava mais do que tudo.

Kim Taerae, colega de Gyuvin, a quem deu sua casa para morarem juntos quando seu amigo foi chutado para fora de casa. Apesar da aparência esquisita digna de alguma comunidade hipster tirado dos anos cinquenta. Entretanto, não poderia pedir ninguém melhor.

Ao terminar de atender mais umas das senhoras que via diariamente pela semana, senhor Park lhe chamou, pedindo para ele ir entregar os pedidos nas mesas, que estavam todas ocupadas, e incrivelmente o local não estava barulhento.

Colocou os copos em cima da bandeja junto de pratos e equilibrou tudo em seus braços da forma que podia e passou a atender a todos com seu sorriso simpático, sempre recebendo outro em troca, até de um adolescente lendo um livro, totalmente emburrado. Mas, sua cabeça não estava ali, os sorrisos eram involuntários na maioria das vezes.

Gyuvin ainda pensava em uma forma de contatar aquele 'anjo' que vivia sozinho em uma casa em cima de um café! Se falasse para Taerae que estava pensando em um garoto que lhe jogou um livro em sua cabeça e lhe deu um belo de um galo na testa — coberto pela sua franja, a qual raramente usava cobrindo-o —, o garoto riria de sua cara até a próxima década, então a melhor coisa a se fazer era guardar os milhares pensamentos somente para si.

Em um de seus devaneios enquanto pegava os pratos e copos sujos das mesas fazia, acaba por bater os ombros em um homem de grande porte que saia do café, acabando por derrubar uns dos pratos sujos de glacê em sua camiseta. Sem esperar a reação alheia, Gyuvin rapidamente coloca a bandeja na mesa e passa a se reverenciar para o homem pedindo desculpas e tentando limpar com um guardanapo, sem muito sucesso.

— Você é um incompetente? Seu desleixado, olha o que fez com a minha camiseta! — O homem ralhou, com uma voz grossa e raivosa.

— Mil desculpas, não foi minha intenção!

— Claro que foi, ou você é burro e não consegue segurar uma bandeja, imprestável!

Seria mentira dizer que Kim não estava acostumado com esse tipo de atitude de alguns clientes, mas não impedia de sentir medo e tristeza toda vez que alguém falava de forma grosseira consigo, especialmente de alguém tão grande do homem à sua frente. Porém, nunca baixará a cabeça para ninguém, e não será agora a acontecer.

— Meu senhor, eu já lhe pedi desculpas, e nada o dará direito de me destratar desta forma. O senhor também não olhou para onde andava, é burro também? — Falou, tentando manter sua voz instável e sem desviar o olhar.

— Olhe aqui... — O homem passou a apontar o dedo em seu rosto, mas antes que pudesse falar, senhor Park apareceu ao lado de Gyuvin.

— Senhor, os clientes estão olhando e ficando desconfortáveis. Meu funcionário já lhe pediu desculpas e isso não irá se repetir, mas sou obrigado a pedir para que se retire do meu estabelecimento se não estiver disposto a conversar como uma pessoa normal.

O rapaz olhou feio para o velho baixinho e sem dúvidas mais fraco que si, e se retirou de forma bruta, e caso tivesse uma porta, ele a teria quebrado.

— Muito obrigado, senhor Park, sinto muito pelo transtorno.

— Está tudo bem, só tente prestar mais atenção, filho.

Gyuvin ficou encarregado de fechar o estabelecimento, pois os Park's tinham algum jantar em família que não prestou muita atenção no assunto. Já estava de noite, a praça a frente tinha apenas alguns postes ligados e não tinha ninguém sentado em um dos bancos ou na grama. Era estranho a rua tão vazia em um sábado a noite, e dava um pouco de medo andar até sua casa nesse breu todos os dias.

Verificou se a porta estava bem trancada e se pôs a descer as escadas e caminhar para a sua casa, porém uma ansiedade começou a tomar conta de seu corpo quando sentiu alguém atrás de si, andando com passos apressados e fortes. Rapidamente, olhou para trás, vendo o homem grande de mais cedo, com uma carranca na boa e uma expressão raivosa sendo direcionada ao moreno, que não teve outro instinto a não ser voltar correndo para o café, na intenção de abrir a porta e se esconder lá dentro. Seus planos foram mal sucedidos quando percebeu que o rapaz corria muito mais rápido que si, e sabia que caso fosse pego, não voltaria para casa inteiro. Tentou abrir a porta da cafeteria, mas a adrenalina fazia suas mãos tremerem de forma contínua e ansiosa, com o homem quase perto de si, correu para o beco que dava aos fundos do estabelecimento.

Olhou para as escadas a sua frente, escutando passos rápidos e um gato miando assustado, sem escolha, subiu as escadas tropeçando nos degraus, e fazendo um enorme barulho nas escadas de ferro.

Se seu desespero não fosse tão grande, provavelmente não estaria batendo na porta de um desconhecido que lhe ameaçou com um rádio e que não esperava encontrar tão cedo após aquele fatídico dia, há exatos três dias. Tinha a grande probabilidade de ser acertado com a porta de madeira em sua cara, e o garoto loirinho deixá-lo para morrer espancando naquele beco escuro e sujo.

Não sabia que alguém podia ficar tão zangado com uma blusa branca suja de glacê branco, após esse dia ele anotaria isto em um caderno das coisas que jamais poderia fazer novamente em seu local de trabalho, provavelmente apenas não apanhou no período da manhã pois foi interrompido por senhor Park.

Bateu desesperadamente na porta, vendo o homem chegar ao fim do corredor, sorrindo de forma convencida.

A porta foi aberta por um loiro assustado e com o cenho franzido ao ver o mesmo moreno de três dias atrás, vestindo as mesmas roupas, suando, e com a expressão apavorada.

— Me deixe entrar, por favor! 

1982 AnalogiasOnde histórias criam vida. Descubra agora