Cap.I

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O vento soprava suavemente pelos corredores de Stonehill High, uma escola no coração de uma pequena cidade americana. O outono havia chegado, trazendo consigo as folhas douradas que dançavam no ar antes de se assentarem suavemente no chão. Maria Clara Sullivan caminhava com passos leves pelo pátio, os cabelos castanhos longos esvoaçando atrás de si. Seus olhos castanhos, profundos e observadores, captavam cada detalhe ao seu redor. Era seu último ano na escola, e ela já sentia a mistura de ansiedade e nostalgia crescendo dentro de si.

Maria Clara era conhecida por muitos na escola, não apenas por sua beleza, mas pela aura contraditória que emanava. Seu rosto tinha uma doçura angelical, mas havia algo em seus olhos que sugeria uma profundidade além da superfície, um mistério que ninguém havia conseguido desvendar. Ao mesmo tempo, sua personalidade acolhedora e extrovertida fazia com que todos se sentissem à vontade ao seu redor. Ela era a combinação perfeita de gentileza e força, uma presença que deixava uma impressão duradoura.

Era uma manhã como qualquer outra, até que ela o viu. Nathaniel "Nate" Carter estava encostado contra uma das árvores no final do pátio, os braços cruzados e os olhos fixos no céu, como se estivesse perdido em pensamentos. Ele era novo na escola, e o burburinho sobre ele já havia começado a se espalhar. Alguns diziam que ele havia sido expulso de sua antiga escola, outros afirmavam que ele havia se envolvido em problemas mais sérios. O que era certo é que Nate tinha uma aura de perigo ao seu redor, um tipo de escuridão que parecia atraí-la e assustá-la ao mesmo tempo.

Clara não conseguia desviar o olhar. Havia algo nele, algo que a intrigava de uma maneira que nenhum outro garoto jamais havia conseguido. Seus olhos encontraram os dela, e por um momento o mundo pareceu parar. Ela sentiu uma onda de calor subir por sua espinha, uma sensação que a fez desviar o olhar rapidamente, mas não antes de notar o leve sorriso que se formou nos lábios de Nate.

Ela não sabia por que, mas aquele momento a perturbou mais do que gostaria de admitir. Havia algo em Nate, algo que fazia seu coração acelerar de uma maneira que não deveria. Ela tentou ignorar a sensação, mas era difícil. Quando entrou na sala de aula, ainda sentia a presença dele como se ele estivesse ali, observando-a.

A aula passou em um borrão. Clara se esforçava para prestar atenção na lição, mas sua mente continuava voltando para aquele encontro no pátio. O que havia naquele garoto que a deixava tão inquieta? Ela se pegou observando a porta da sala, esperando que ele entrasse a qualquer momento, mas ele não apareceu.

No final do dia, Clara decidiu dar uma volta pelo parque próximo à escola, algo que costumava fazer para clarear a mente. O parque era um de seus lugares favoritos, especialmente no outono, quando as árvores se enfeitavam com as cores douradas e avermelhadas da estação. Ela caminhava lentamente, aproveitando a serenidade ao seu redor, quando o viu novamente.

Nate estava sentado em um dos bancos, os olhos fechados, a cabeça inclinada para trás. Ele parecia em paz, como se estivesse em um mundo próprio. Clara hesitou por um momento, mas algo dentro dela a impeliu a se aproximar.

"Oi," ela disse suavemente, parando ao lado dele.

Nate abriu os olhos e olhou para ela, e mais uma vez, ela sentiu aquela sensação estranha, uma mistura de atração e perigo. "Oi," ele respondeu, sua voz baixa e calma.

Ela se sentou ao lado dele, mantendo uma distância segura. "Você é novo aqui, certo?"

Nate sorriu, um sorriso que não alcançou seus olhos. "Sim, algo assim."

Clara sentiu uma curiosidade crescente, mas também sabia que havia limites que não deveriam ser ultrapassados. "De onde você veio?"

Ele a olhou por um momento antes de responder. "De um lugar que não importa mais."

A resposta vaga a deixou intrigada, mas ela sabia que não deveria pressionar. "Eu sou Maria Clara Sullivan, mas pode me chamar só de Clara."

"Nate," ele disse simplesmente.

O silêncio que se seguiu não foi desconfortável. Na verdade, havia algo reconfortante naquela quietude, algo que Clara não conseguia explicar. Ela sentia que, de alguma forma, entendia Nate, mesmo sem conhecê-lo.

"Por que você está aqui?" Ela perguntou finalmente, virando-se para ele. "No parque, quero dizer."

Nate riu suavemente, mas novamente, o som não alcançou seus olhos. "Às vezes, eu só preciso de um lugar para pensar."

"Eu também," ela admitiu, olhando para as folhas caindo ao redor deles. "Este lugar me ajuda a clarear a mente."

Ele a observou por um momento, como se estivesse avaliando suas palavras. "Você parece alguém que tem muita coisa na cabeça."

Clara sorriu, um sorriso que carregava uma leve tristeza. "Acho que todos nós temos, não é?"

Nate não respondeu, mas havia algo em seu olhar que a fez sentir que ele entendia muito mais do que dizia. Havia uma conexão ali, algo que os unia de uma maneira que ela não conseguia compreender completamente. E enquanto eles sentavam juntos naquele parque, sob o céu outonal, Clara soube que aquele era apenas o começo de algo muito maior, algo que mudaria suas vidas para sempre.

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