O sol começava a se pôr no horizonte quando Maria Clara finalmente deixou a escola, o corpo cansado após um longo dia de pensamentos agitados. Ela sabia que o beijo com Nate tinha sido o início de algo, mas também uma confirmação de que suas vidas estavam irrevogavelmente ligadas. A sombra da verdade dele—o fato de que ele era um vampiro—pairava sobre tudo.
Clara caminhava pela calçada em direção a sua casa, os fones de ouvido tocando uma música que não conseguia realmente ouvir. Seus pensamentos estavam muito distantes para que as batidas e letras a alcançassem. Ela pensava em Nate, como a presença dele a confortava e assustava ao mesmo tempo. Agora que a máscara de normalidade havia caído, Clara se perguntava até onde estava disposta a ir para estar ao lado dele.
Ao chegar em casa, Clara mal teve tempo de se acomodar no sofá quando uma mensagem surgiu em seu telefone. Era de Nate.
"Podemos conversar? É importante."
Seu coração acelerou. Ela sabia que essa conversa viria, mas a antecipação a deixava nervosa. Depois do piquenique, Nate estava mais vulnerável do que nunca. Havia tantas questões não respondidas entre eles. Será que ele queria afastá-la para protegê-la? Ou ele queria deixá-la entrar completamente em seu mundo?
Clara respondeu rapidamente, os dedos tremendo um pouco sobre o teclado.
"Claro. Onde?"
Em menos de um minuto, a resposta apareceu.
"Na floresta. Perto do rio."
Ela olhou para o relógio. O sol já estava quase completamente desaparecido, e a ideia de ir à floresta à noite deveria, de fato, assustá-la. Mas ela não se sentia assim. De alguma forma, sabia que com Nate, por mais perigoso que fosse, ela estaria segura.
Na floresta...
A lua alta no céu iluminava suavemente a trilha enquanto Clara caminhava para o ponto de encontro. O som da água correndo do rio ao longe e o farfalhar das árvores ao vento criavam uma atmosfera quase mágica. E lá, à beira do rio, com as mãos nos bolsos e uma expressão séria, estava Nate.
Ele parecia mais sombrio do que o normal, o cabelo caindo levemente sobre os olhos, o maxilar tenso como se estivesse lidando com algo interno. Quando Clara se aproximou, ele levantou o olhar e a fitou com uma intensidade que a fez parar por um segundo.
— Você veio — disse ele, sua voz baixa, mas suave. Clara assentiu.
— Claro que sim. Nate, o que está acontecendo? — Ela perguntou, ansiosa para entender o motivo da urgência.
Nate deu um passo em sua direção, mas manteve uma distância respeitosa. Havia um conflito em seu olhar, uma batalha interna que Clara ainda não conseguia decifrar.
— Há coisas sobre mim... sobre o meu passado, que você ainda não sabe. E eu sinto que você merece saber antes de seguir com isso... comigo — ele disse, as palavras saindo pesadas, como se carregassem um fardo que ele vinha evitando.
Clara mordeu o lábio, tentando manter a calma. Ela já sabia que Nate era um vampiro, mas o tom que ele usava agora indicava que havia muito mais por trás dessa história.
— Nate, eu já sei o suficiente. Sei que você é diferente, sei o que você é. Mas isso não muda o que eu sinto por você — disse Clara, sua voz firme. — Nada disso muda o fato de que quero ficar ao seu lado.
Ele balançou a cabeça, como se a convicção dela o atingisse com força, mas ainda assim, o peso de seu passado parecia esmagá-lo.
— Você sabe que sou um vampiro, mas não sabe o que isso significa de verdade. O que eu sou capaz de fazer, o que eu já fiz — sua voz ficou mais baixa, quase um sussurro. — Eu não escolhi essa vida, Clara, mas tive que aprender a sobreviver nela. E isso... isso me fez fazer coisas das quais eu nunca terei orgulho.
Clara sentiu um frio na espinha. Era claro que Nate estava se abrindo mais do que nunca. Ele estava tentando protegê-la, mas também parecia implorar por redenção.
— Nate, o que você está tentando dizer? — Ela perguntou, dando um passo em sua direção.
Ele desviou o olhar, olhando para o rio. As mãos dele, normalmente tão seguras, tremiam levemente.
— Eu machuquei pessoas, Clara. Não sou o herói da história. Não sou o mocinho. Eu fiz coisas terríveis para sobreviver, coisas que você não entenderia — sua voz era um eco de arrependimento.
Clara se aproximou ainda mais, agora a poucos centímetros dele. Ela ergueu a mão e tocou suavemente o braço dele, sentindo-o se enrijecer ao seu toque.
— Todos têm um passado, Nate. E eu não estou aqui para julgar o seu. Eu quero entender — ela sussurrou.
Ele a encarou, seus olhos verdes brilhando à luz da lua. Por um momento, o silêncio entre eles parecia eterno, até que ele suspirou profundamente, como se estivesse liberando anos de segredos e culpa.
— Então eu vou te mostrar, Clara. Mas eu preciso que você esteja preparada para ver o lado mais sombrio de quem eu sou. Porque, depois disso, não tem volta — ele disse, com uma seriedade que fez o coração dela bater mais forte.
Clara respirou fundo. Ela sabia que esse momento chegaria. Sabia que amar Nate significava mergulhar em um mundo de escuridão e mistério. Mas, de alguma forma, ela também sabia que era exatamente onde ela pertencia.
— Eu estou pronta, Nate. — Sua voz era firme, apesar do medo que sentia.
Ele a fitou por mais alguns segundos, como se estivesse procurando alguma hesitação nela. Quando não encontrou, ele assentiu lentamente.
— Então venha comigo — disse ele, estendendo a mão para ela.
Clara pegou a mão dele, sentindo o toque gelado e ao mesmo tempo reconfortante. E enquanto eles desapareciam juntos na escuridão da floresta, ela sabia que estava prestes a descobrir mais do que jamais imaginou.
Mas, mesmo com todas as incertezas, ela não estava disposta a desistir de Nate. Nem agora, nem nunca.
Continua...
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Sombras do desejo
RomanceMaria Clara está prestes a descobrir que os segredos do seu coração estão mais entrelaçados do que ela imaginava. Quando o enigmático Nathaniel Carter aparece em sua vida, a jovem se vê envolvida em uma história de amor intensa e cheia de mistérios...