Cap.3

18 3 26
                                    

Os dias se passavam rapidamente, e, embora Maria Clara tentasse ignorar, sua mente continuava voltando para Nate. Algo sobre ele a atraía de uma maneira que ela não sabia explicar. Talvez fosse o mistério, o jeito como ele parecia carregar o peso do mundo nos ombros ou a conexão que, apesar de pouco tempo, eles já tinham criado. Mas Clara também sabia que não era só isso. Havia algo mais, algo que ela não conseguia decifrar.

Naquela manhã, Clara chegou mais cedo à escola e encontrou Fernanda, sua melhor amiga, no corredor. Fernanda tinha cabelos loiros curtos e uma personalidade extrovertida que contrastava perfeitamente com a introspecção de Clara. Era o tipo de amiga que sempre estava pronta para fazer piadas e animar qualquer ambiente.

— Então, ainda está obcecada pelo garoto novo? — Fernanda perguntou com um sorriso travesso, enquanto andavam pelos corredores em direção à sala de aula.

— Eu não estou obcecada — Clara respondeu, revirando os olhos, mas um sorriso traidor se formou em seus lábios.

Fernanda deu uma risadinha.

— Tá bom, né? Mas eu te conheço, Clara. Dá pra ver que você não consegue parar de pensar nele. Além disso, quem não notaria aquele olhar intenso?

Clara mordeu o lábio, tentando desviar o assunto.

— Ele só é... diferente, sabe? Mas não sei, Fernanda. Não acho que eu deveria me meter nisso. Ele tem um ar meio... perigoso.

Fernanda olhou para Clara com um olhar zombeteiro.

— Ai, garota, você adora um bad boy, hein? Mas sério, só toma cuidado. Eu sei que você gosta de mistério, mas às vezes essas coisas podem ser complicadas.

Antes que Clara pudesse responder, a voz de Nate ecoou no corredor.

— Clara.

Ela se virou e viu Nate parado ali, como se tivesse aparecido do nada. Ele estava encostado na parede, com aquele mesmo olhar penetrante que a fazia sentir que ele enxergava direto através dela. Clara sentiu seu coração acelerar, mas tentou agir com naturalidade.

— Oi, Nate — ela disse, dando um sorriso.

Fernanda, ao lado, lançou um olhar curioso para ele, claramente analisando a nova figura que estava atraindo tanta atenção de sua amiga. Nate olhou para Fernanda e, com um leve aceno de cabeça, reconheceu sua presença, embora não parecesse prestar muita atenção.

— Podemos conversar? — Nate perguntou a Clara, a voz grave e tranquila.

Fernanda, percebendo que estava sobrando, deu um leve empurrão em Clara.

— Vai lá, mas eu quero detalhes depois! — ela disse, sorrindo antes de se afastar para a sala.

Clara e Nate começaram a caminhar pelo pátio. O sol da manhã brilhava através das árvores, lançando sombras suaves no chão. Clara sentia a presença dele ao seu lado como se houvesse uma energia no ar, algo invisível, mas palpável.

— Eu tenho notado que você anda um pouco distante — Nate comentou, rompendo o silêncio.

— Ah, desculpa. Eu só... tenho muitas coisas na cabeça ultimamente — Clara respondeu, evitando seu olhar.

Ele parou de repente, forçando Clara a fazer o mesmo. Quando ela o encarou, seus olhos estavam fixos nela, carregados de uma intensidade que a fez perder o fôlego por um segundo.

— Você tem algum motivo para estar desconfiada de mim? — Nate perguntou, seu tom era firme, mas havia algo vulnerável escondido em suas palavras.

Clara hesitou por um momento. Ela não sabia exatamente o que responder. Havia, sim, algo nele que a deixava desconfiada, mas ao mesmo tempo atraída. Era como se ele fosse duas pessoas ao mesmo tempo — o garoto misterioso que ela mal conhecia e alguém que, de alguma forma, parecia familiar.

— Não, não é isso — ela finalmente respondeu. — Eu só... sinto que há muitas coisas que você não me conta.

Nate sorriu de leve, mas, como sempre, o sorriso não chegou aos olhos.

— Talvez porque algumas coisas são difíceis de contar.

Clara quis perguntar mais, mas percebeu que aquela conversa não levaria a lugar nenhum. Nate era reservado demais, e ela sabia que ele só revelaria algo quando estivesse pronto. Mesmo assim, a sensação de mistério continuava presente.

Naquele momento, o sinal da escola tocou, interrompendo qualquer outra coisa que ela pudesse dizer.

— Acho que é melhor irmos para a aula — Clara disse, tentando suavizar o clima.

Nate deu um meio sorriso.

— Claro. Mas, Clara... — ele hesitou antes de continuar. — Não se preocupe tanto. Algumas coisas fazem mais sentido com o tempo.

Ela assentiu, mas uma parte dela sabia que aquela não seria uma resposta suficiente por muito tempo.

Nos dias que se seguiram, Clara tentou manter sua rotina normal. Ela passava os intervalos com Fernanda e outros amigos, ria de piadas bobas, e fingia que sua vida estava seguindo o curso de sempre. Mas Nate estava sempre por perto, mesmo que de maneira sutil. Ele aparecia nos corredores, na saída da escola, e sempre que o olhava, seus olhos pareciam encontrar os dela, como se ele estivesse sempre observando, mesmo à distância.

Nate nunca invadia seus momentos com os amigos, mas Clara notava que ele estava por perto, como se estivesse esperando por algo. Fernanda, é claro, percebeu o comportamento.

— Ele fica te vigiando, sabia? — Fernanda comentou, uma tarde, enquanto eles conversavam no pátio com alguns outros amigos.

Clara riu.

— Vigiando? Não exagera.

— Estou falando sério! Ele fica de olho em você o tempo todo. Acho que o garoto tá caidinho por você, amiga.

Clara mordeu o lábio, tentando ignorar o que Fernanda dizia, mas, lá no fundo, ela sabia que havia um fundo de verdade. Nate não era apenas um garoto misterioso — havia algo mais profundo ali, algo que a atraía de uma maneira que ela não conseguia explicar.

Uma tarde, depois da escola, Clara decidiu ir ao parque novamente. Era um lugar onde ela costumava ir para pensar e relaxar. Quando chegou lá, para sua surpresa, encontrou Nate sentado em um dos bancos, o olhar distante, como se estivesse perdido em seus próprios pensamentos.

Ela hesitou por um momento, mas algo dentro dela a fez se aproximar.

— Você parece estar sempre nos mesmos lugares que eu — ela comentou, com um sorriso.

Nate olhou para ela, e seus lábios se curvaram levemente.

— Talvez eu só tenha bom gosto em lugares para pensar.

Eles sentaram juntos no banco, o silêncio entre eles mais confortável do que antes. Clara queria perguntar mais sobre ele, sobre sua vida, sua família. Ele nunca mencionava sua família ou sua casa, e ela começava a se perguntar por que.

— E sua família? — Clara perguntou, casualmente. — Eles gostam daqui?

Nate a olhou por um segundo, e ela pôde ver uma sombra de algo passar por seus olhos antes de ele responder.

— Minha família é... complicada. Mas eles estão se adaptando.

Clara percebeu que não era o momento certo para pressionar. Nate era uma caixa de segredos, e ela teria que ser paciente para desvendar o que ele escondia. O que ela não sabia era que, mais cedo ou mais tarde, aqueles segredos viriam à tona, e o que ela descobriria mudaria tudo.

Sombras do desejoOnde histórias criam vida. Descubra agora