Sombras do desejo

Cap.14

O vento soprava suave pelas árvores enquanto Maria Clara caminhava em direção à escola. O beijo com Nate no dia anterior continuava fresco em sua mente, como se tivesse acontecido há poucos minutos. Mas não era só o beijo que a perturbava. Era tudo o que ele representava. Nate não era apenas um garoto comum. Ele era um vampiro. E agora que Clara sabia disso, sua mente estava cheia de incertezas e dúvidas.

Ela olhava para as pessoas ao seu redor, se perguntando como ninguém notava o que ela sabia. Como ninguém via o perigo que Nate representava... mas, ao mesmo tempo, ela não conseguia vê-lo como uma ameaça. O beijo tinha sido mais do que uma simples troca de afetos. Era um lembrete de que, mesmo em meio à escuridão que ele carregava, havia algo que a fazia querer se aproximar ainda mais.

Assim que entrou no corredor da escola, Fernanda estava lá, encostada no armário, a observando com um olhar curioso. Desde que Clara descobrira sobre Nate, ela se distanciou um pouco da amiga, sem saber como contar uma verdade tão absurda.

— E então, como foi o piquenique? — perguntou Fernanda, mal conseguindo esconder o entusiasmo.

Clara sentiu o peso da pergunta, e seu estômago se revirou. Ela não poderia contar tudo, mas sabia que Fernanda perceberia qualquer tentativa de evasiva.

— Foi... diferente — respondeu ela, tentando parecer casual. Fernanda a olhava com aquele olhar típico de quem sabia que algo mais estava acontecendo.

— Diferente como? — Fernanda cruzou os braços, claramente curiosa. — Vai, me conta!

Clara respirou fundo. Não podia contar sobre a parte do vampiro. Pelo menos, não ainda.

— A gente... se beijou — confessou, sentindo as bochechas queimarem.

Fernanda ficou boquiaberta por um segundo, e logo um sorriso largo se formou em seu rosto.

— Ah, eu sabia! Eu sabia que ia acontecer! — Fernanda bateu palmas, claramente empolgada. — E aí? Como foi? Você gostou?

Clara riu nervosamente, mas não podia evitar a sensação estranha que a acompanhava. O beijo tinha sido incrível, mas o fato de Nate ser um vampiro tornava tudo mais complicado.

— Sim, foi bom... mas... — Clara parou, buscando as palavras certas sem revelar o que não podia.

Fernanda estreitou os olhos.

— Mas o quê? — Ela inclinou a cabeça, esperando algo mais.

Clara olhou para os lados, certificando-se de que ninguém as ouvia.

— Não sei... tem coisas sobre o Nate que você não sabe. Coisas que eu mesma ainda estou tentando entender — disse Clara, sabendo que aquilo era a única verdade que podia contar.

Fernanda a olhou por um segundo, pensativa, mas logo deu de ombros.

— Bom, ninguém é perfeito, né? Mas eu acho que ele realmente gosta de você. Só... tome cuidado. Parece que ele é complicado.

Clara riu, nervosa. "Complicado" era um eufemismo. Ele era um vampiro, afinal.

Enquanto isso, Nate...

Do outro lado da cidade, Nate estava em seu quarto, lutando com seus próprios demônios. Ele sabia que Clara agora conhecia sua verdade, e isso o deixava dividido. Parte dele se arrependia de ter deixado ela descobrir, de ter se aproximado tanto. Ele não queria arrastá-la para sua escuridão.

Mas outra parte dele... estava aliviada. Não precisava mais esconder quem era, e Clara, de algum modo, não o havia rejeitado. Pelo contrário, ela continuava a buscá-lo, mesmo sabendo o perigo que ele representava.

O beijo no piquenique havia sido inesperado, mas bom. Tão bom quanto ele jamais imaginaria que algo assim pudesse ser. Mas agora, ele sabia que precisava conversar com ela. Precisavam esclarecer as coisas. Clara precisava saber o que significava estar ao lado de alguém como ele.

De volta à escola...

Clara não conseguia se concentrar nas aulas. Seus pensamentos voltavam constantemente para Nate, para o que ele era, para o que isso significava para os dois. Ela sabia que deveria ter medo. Qualquer pessoa normal teria, mas ela não conseguia vê-lo como um monstro. Ele tinha algo mais. Algo que a puxava para ele, mesmo quando a razão lhe dizia para fugir.

Durante o intervalo, ela o avistou na biblioteca, seu refúgio habitual. Nate estava lá, com um livro aberto à sua frente, mas claramente perdido em pensamentos. Clara respirou fundo antes de se aproximar. Ela precisava de respostas.

— Nate — disse, sua voz baixa, mas firme.

Ele olhou para ela, surpreso por vê-la, mas sorriu suavemente.

— Clara. Oi — disse ele, fechando o livro e se inclinando para frente.

Ela sentou-se à sua frente, tentando não demonstrar o turbilhão de emoções que sentia.

— A gente precisa conversar. Sobre o piquenique... e sobre... você — Clara hesitou, mas sabia que não podia evitar o assunto.

Os olhos de Nate ficaram sombrios por um momento. Ele sabia que isso viria.

— Eu sei que sou... diferente. E sei que você tem todas as razões para fugir de mim — começou ele, sua voz baixa e controlada. — Mas o que aconteceu no piquenique foi real. Não posso negar que sinto algo por você.

Clara o olhou, tentando processar tudo. Sabia que ele estava sendo honesto, mas a verdade ainda era complicada.

— Eu não tenho medo de você, Nate — disse ela suavemente, surpreendendo a si mesma. — Só quero entender. Como... como isso pode funcionar entre nós?

Nate hesitou, seu olhar fixo no dela.

— Eu não sei, Clara. Eu nunca quis colocar ninguém nessa posição. Meu mundo é perigoso, complicado. Eu não queria te arrastar para isso. Mas você precisa saber... que se ficar ao meu lado, as coisas nunca serão normais. Eu não sou uma pessoa normal.

Ela sorriu suavemente, sentindo uma estranha mistura de alívio e aceitação.

— Eu sei disso. E, de alguma forma, não me importo — disse Clara, sua voz determinada. — Eu só quero que você me deixe fazer parte desse seu mundo. Quero entender. E quero você. Mesmo com tudo que isso significa.

Nate respirou fundo, claramente lutando contra seus próprios sentimentos. Mas o que quer que fosse, algo dentro dele parecia se entregar àquela conexão que eles compartilhavam.

— Eu não sei como isso vai funcionar, Clara, mas eu prometo tentar — disse ele finalmente.

E assim, apesar de todas as incertezas, Clara sabia que havia dado o primeiro passo para aceitar Nate, vampiro ou não. E, no fundo, ela sentia que, de alguma forma, isso poderia ser o início de algo mais forte do que qualquer um dos dois poderia imaginar.