Cap.16

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A mão de Clara estava entrelaçada com a de Nate, a sensação do toque frio dele era um lembrete constante do mundo em que ela estava se metendo. A escuridão da floresta a envolvia, mas a luz da lua ainda iluminava o caminho à frente. Clara se permitiu um momento de reflexão, pensando em como tudo isso havia começado. Um piquenique simples, um beijo inesperado e, agora, uma jornada para o desconhecido.

Enquanto caminhavam, a tensão no ar era palpável. Clara não sabia o que esperar, mas a determinação em seu coração não vacilava. Era como se ela estivesse prestes a cruzar um limiar, e a curiosidade a puxava adiante, mesmo em meio ao medo.

Após alguns minutos de caminhada, Nate a levou a uma clareira, um espaço aberto cercado por árvores imensas. O som do rio próximo preenchia o ar com uma melodia suave e tranquilizadora, mas Clara sentia que o que estava prestes a acontecer era tudo menos tranquilo.

— Aqui é onde venho quando preciso pensar — disse Nate, sua voz baixa, como se estivesse se preparando para uma confissão. Ele soltou a mão de Clara e caminhou para perto da margem do rio, olhando para as águas refletindo a luz da lua.

Clara o observou, sentindo uma mistura de empatia e ansiedade. Ele parecia tão perdido, tão atormentado por um passado que o seguia como uma sombra. Decidida, Clara deu um passo à frente.

— Nate, você não precisa fazer isso sozinho. Eu estou aqui com você — disse ela, quebrando o silêncio que se instalou entre eles.

Ele se virou para ela, a expressão em seu rosto era uma mistura de alívio e preocupação. Era evidente que ele estava lutando internamente.

— É difícil, Clara. Eu não sou como você. Eu não pertenço a este mundo — ele disse, a dor em sua voz quase visível. — Você não tem ideia do que eu sou.

— Então me conte — Clara respondeu, sua voz firme. — Me diga o que você precisa que eu saiba.

Nate suspirou, como se estivesse se preparando para algo monumental. Ele se afastou do rio e caminhou de volta em direção a ela, parando a uma distância que permitia que ambos respirassem, mas ainda assim próximos o suficiente para que Clara sentisse a intensidade dele.

— Eu fui transformado em vampiro há muitos anos. Eu não era apenas uma pessoa comum; eu era um ladrão, um fugitivo. Eu cometi crimes terríveis antes de ser mordido, e após isso, minhas ações se tornaram ainda mais sombrias. O poder que eu ganhei me corrompeu. Eu não estava mais apenas lutando pela minha vida; eu estava me entregando a um instinto que não reconhecia — ele disse, a voz embargada pela emoção.

Clara sentiu seu coração apertar. As palavras de Nate estavam cheias de dor e arrependimento, e ela queria fazer algo para aliviar esse peso que ele carregava.

— Mas você mudou. Você não é mais aquela pessoa, Nate. Você pode ser mais do que seu passado — ela afirmou, com convicção.

Ele balançou a cabeça, ainda lutando com suas próprias crenças.

— O passado não pode ser apagado. Eu... eu perdi o controle várias vezes, Clara. Não quero que você fique presa nesse ciclo, em um relacionamento com alguém que pode te machucar. Quando eu sinto minha sede, é como um monstro dentro de mim, esperando para ser libertado.

Clara deu um passo mais perto, sua determinação crescendo.

— Eu não tenho medo de você, Nate. Eu não tenho medo do que você é. O que importa é quem você escolhe ser agora — ela disse, sua voz um sussurro quase suave.

Ele a olhou com surpresa, como se suas palavras tivessem penetrado na armadura que ele havia construído ao seu redor. Os olhos verdes de Nate brilharam com uma nova luz, um misto de esperança e insegurança.

— Você realmente acredita nisso? — ele perguntou, a vulnerabilidade em sua voz era inegável.

Clara assentiu, o coração acelerando com a intensidade do momento.

— Sim. Eu quero te conhecer de verdade, Nate. Quero entender suas lutas e ser parte da sua vida. Não me deixe para trás por causa do que você foi. Deixe-me ajudar a construir algo novo, juntos — ela implorou, a sinceridade em suas palavras ecoando na clareira.

Nate olhou para ela, e a emoção em seu olhar era palpável. Ele parecia estar à beira de uma revelação, lutando contra os demônios que o assombravam. Com um gesto hesitante, ele estendeu a mão e, quando Clara a tomou, um novo entendimento fluiu entre eles.

— Eu não sei o que o futuro reserva para nós, mas prometo tentar. Para você — ele disse, a voz suave, cheia de uma nova determinação.

Enquanto os dois se encaravam, Clara sentiu uma onda de esperança invadir seu ser. Eles estavam começando a construir algo juntos, uma conexão que transcendia o medo e a incerteza.

— Então vamos descobrir isso juntos, um passo de cada vez — Clara respondeu, o sorriso em seu rosto iluminando a escuridão ao redor.

E ali, sob a luz da lua e com o murmúrio suave do rio ao fundo, Clara e Nate começaram a trilhar um novo caminho. Um caminho repleto de desafios, mas também de possibilidades. Clara não sabia o que o futuro reservava, mas naquele momento, sentia que, independentemente das sombras do passado de Nate, eles poderiam encontrar a luz juntos.

Continua...

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