O tempo parecia voar nas semanas seguintes, e a rotina escolar de Maria Clara começou a se ajustar novamente. Ela tentava manter o foco nas aulas, mas sua mente, frequentemente, voltava para Nathaniel "Nate" Carter. Havia algo nele que a intrigava, como uma peça de quebra-cabeça que não se encaixava, mas que ela não podia deixar de tentar entender. Ele estava sempre lá, presente, mas de uma maneira sutil, quase como se ele fizesse parte do cenário e, ao mesmo tempo, fosse completamente fora de lugar.
Fernanda, sua melhor amiga desde os tempos de ensino médio, percebia que algo estava diferente. Clara não era de esconder segredos, mas nos últimos dias, ela parecia mais distante, mais distraída. Elas se encontraram no intervalo para o almoço, como de costume, sentadas à sombra de uma árvore no pátio. A grama ainda carregava os tons dourados do outono, e o ar fresco parecia trazer uma certa leveza ao ambiente.
— O que está acontecendo com você ultimamente? — Fernanda perguntou, inclinando-se para pegar uma maçã da bolsa. — Você anda muito aérea.
Clara suspirou, mordendo o sanduíche, mas sem muito apetite.
— Acho que é o último ano. Estou meio sobrecarregada com tudo. Faculdade, provas... sabe como é.
Fernanda arqueou uma sobrancelha, claramente não convencida.
— Não tenta me enrolar, Clara. Eu te conheço. Tem a ver com aquele garoto, não tem?
Clara mordeu o lábio. Era impossível esconder algo de Fernanda, mesmo que tentasse. Ela conhecia cada uma das suas expressões e mudanças de humor.
— Talvez... — ela respondeu, hesitante. — Não sei, Nanda. Ele é diferente de todo mundo que eu já conheci.
— Diferente como? — Fernanda perguntou, agora genuinamente curiosa. — Diferente bom ou diferente do tipo "cuidado, ele pode ser um serial killer"?
— Não é isso. — Clara riu, mas logo seu rosto assumiu uma expressão pensativa. — Ele é misterioso, sabe? E parece... perigoso. Mas não de um jeito ruim. De um jeito que eu não consigo explicar.
— Perigoso nunca soa como uma coisa boa. — Fernanda deu de ombros. — Cuidado com esse tipo de atração. Pode ser emocionante no começo, mas...
Clara sabia que Fernanda estava certa, mas isso não a impedia de sentir aquela conexão intensa toda vez que estava perto de Nate. Ela mudou de assunto rapidamente, sem querer parecer obcecada com o garoto novo.
— E você? Como estão as coisas com o Lucas? — Clara perguntou, tentando desviar o foco.
Fernanda revirou os olhos.
— Ah, ele é ótimo, mas eu sinto que às vezes ele tá em outro mundo, sabe? Como se estivesse ali, mas ao mesmo tempo não. Enfim, nada demais. — Fernanda sorriu. — Mas não vamos falar sobre isso. Estou mais interessada em saber quando você vai me apresentar esse tal de Nate.
Clara riu, um pouco aliviada por Fernanda ter deixado o assunto passar.
— Quem sabe um dia...
**
Naquela tarde, Clara caminhava em direção à saída da escola quando viu Nate à distância, encostado no mesmo lugar onde o havia encontrado pela primeira vez. Ele parecia distraído, os olhos voltados para o horizonte, como se estivesse perdido em pensamentos. Ao seu lado, um grupo de alunos conversava animadamente, mas Nate parecia alheio a eles. Ela hesitou por um momento, pensando se deveria se aproximar ou não.
Antes que pudesse tomar uma decisão, Lucas e outros amigos se aproximaram dela.
— Clara! — Lucas a chamou, jogando o braço em volta de seus ombros com a familiaridade que ela sempre gostou. — Vamos ao parque mais tarde. Vem com a gente?
Clara olhou para o grupo e depois de volta para Nate. Algo dentro dela a puxava em direções opostas, mas antes que pudesse responder, Fernanda apareceu do nada e deu um sorriso para Lucas.
— Ela vai, claro! — Fernanda respondeu por Clara, já arrastando-a para longe. Clara riu, sabendo que Fernanda estava apenas tentando ajudá-la a se distrair.
Porém, antes de sair completamente, ela olhou por cima do ombro e viu Nate ainda a observando de longe. Seus olhos pareciam mais intensos do que nunca, e Clara sentiu uma estranha pontada de arrependimento por não ter falado com ele.
**
Mais tarde, no parque, o grupo de amigos ria e brincava como sempre. Clara, no entanto, estava distraída. Nate nunca estava longe de seus pensamentos, e, embora estivesse se divertindo com seus amigos, sentia que algo faltava. Lucas, sempre atencioso, percebeu.
— Tá tudo bem? — ele perguntou, sentando-se ao lado dela na grama. — Você parece estar em outro lugar.
Clara sorriu suavemente, tentando tranquilizá-lo.
— Só estou cansada, nada demais.
— Tem certeza? Se for algo com a escola ou qualquer coisa, sabe que pode contar comigo, né?
Clara assentiu, grata pela preocupação dele, mas havia coisas que ela não poderia explicar.
De repente, ela sentiu uma presença familiar. Ao virar-se para o lado, viu Nate parado a alguns metros de distância, observando a cena. Ele não fez nenhum movimento para se aproximar, mas seus olhos estavam fixos nela de uma forma que Clara nunca havia sentido antes: era como se ele estivesse lutando contra algo. Uma faísca de ciúmes? Talvez.
Nate ficou ali por alguns segundos, antes de desaparecer entre as árvores do parque, deixando Clara com uma sensação de vazio. Era claro que ele não gostava de vê-la tão próxima de Lucas e seus outros amigos, mas, como sempre, ele não disse nada. A tensão entre eles estava crescendo, e ela não sabia quanto tempo mais poderia continuar assim sem respostas.
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Enquanto caminhava de volta para casa mais tarde naquela noite, Clara se pegou pensando em Nate e na sua estranha ausência de explicações. Ele havia mencionado brevemente sua família, os Carter, mas nunca entrava em detalhes. Ela sabia que eles moravam em uma parte mais isolada da cidade, quase fora dos limites. Havia algo misterioso sobre eles, e Nate parecia determinado a manter sua vida privada distante de qualquer curiosidade que Clara ou qualquer outra pessoa pudesse ter.
Nos dias que se seguiram, Nate continuou mantendo uma distância, embora estivesse sempre presente. Ele aparecia nos momentos mais inesperados, como uma sombra silenciosa, mas nunca deixava Clara se aproximar demais. E isso só fazia a curiosidade dela aumentar.
Mesmo sem saber, Clara estava se envolvendo em algo muito mais perigoso do que poderia imaginar. Algo que ia além de sua compreensão e que, quando a verdade finalmente viesse à tona, mudaria tudo.
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Sombras do desejo
RomanceMaria Clara está prestes a descobrir que os segredos do seu coração estão mais entrelaçados do que ela imaginava. Quando o enigmático Nathaniel Carter aparece em sua vida, a jovem se vê envolvida em uma história de amor intensa e cheia de mistérios...