Cap.13

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Os corredores da escola pareciam mais longos do que o normal naquela manhã. Maria Clara estava distraída, imersa em seus pensamentos, mal notando os murmúrios e risos ao seu redor. A escola, normalmente uma zona de conforto, agora parecia carregada de tensões silenciosas. Ela sabia o que estava acontecendo: algo dentro dela estava mudando, e essa mudança a afastava das pessoas que mais importavam. Fernanda, sua melhor amiga, percebeu isso imediatamente.

— Clara, você está bem? — perguntou Fernanda, sua voz soando mais preocupada do que o habitual. A loira tinha o hábito de ser direta, de pegar Clara desprevenida com perguntas assim.

Clara se forçou a sorrir, tentando fingir que nada estava errado, mas o olhar perspicaz de Fernanda já a tinha desmascarado.

— Eu... — começou Clara, suspirando, — só estou com muita coisa na cabeça.

Fernanda parou de andar, puxando Clara pelo braço gentilmente. Elas estavam a poucos metros da sala de aula, mas o peso da conversa exigia um momento longe dos olhares curiosos.

— Muita coisa? Ou é sobre... ele? — Fernanda arqueou uma sobrancelha, sempre pronta para ir direto ao ponto. A menção de Nate Carter trouxe uma onda de calor ao rosto de Clara. Ela não conseguia evitar. Desde que Nate havia aparecido em sua vida, tudo parecia de cabeça para baixo.

Clara desviou o olhar, o coração acelerado. Fernanda sorriu, entendendo o silêncio como uma resposta clara.

— Ele é complicado, né? Mas não acho que seja o tipo de pessoa que você consegue simplesmente ignorar — disse Fernanda, sua voz suavizando, mostrando apoio.

Clara sabia que Fernanda estava certa. Nate tinha uma presença que não deixava espaço para dúvidas, mas ao mesmo tempo, era um mistério que ela ainda não havia desvendado completamente. E talvez, só talvez, fosse isso que a fascinava.

— Na verdade, eu tive uma ideia... — murmurou Clara, virando-se para Fernanda, ainda com um leve rubor no rosto. — Acho que vou chamar ele para fazer algo, tipo um piquenique. Só para a gente se distrair.

Fernanda abriu um sorriso animado, seus olhos brilhando de curiosidade.

— Um piquenique? Uau, você realmente gosta dele! — disse Fernanda, provocando.

— Não é isso! — Clara respondeu, rindo nervosa. — É só... Sei lá, ele parece estar sempre tão... sozinho. Talvez isso ajude a gente a se entender melhor.

As duas trocaram olhares cúmplices, e Fernanda deu um leve empurrão no ombro de Clara, incentivando-a.

— Vai lá, chama ele! Tenho certeza de que ele vai topar.

Mais tarde naquele dia...

Clara estava na frente do espelho, ajeitando o cabelo pela décima vez. O nervosismo tomava conta dela enquanto ensaiava mentalmente como faria o convite a Nate. Não era só o ato de chamá-lo para o piquenique que a deixava inquieta, mas sim a ideia de como ele poderia reagir.

Finalmente, após alguns minutos de hesitação, ela caminhou até onde Nate estava, sentado no pátio, lendo um livro. O coração de Clara batia tão forte que ela temia que ele pudesse ouvir.

— Oi, Nate — disse Clara, tentando parecer casual, mas sem muito sucesso. Ele levantou os olhos do livro, um leve sorriso surgindo em seus lábios.

— Oi, Clara — respondeu Nate, sua voz baixa e tranquila, como sempre.

Ela respirou fundo, lutando para não gaguejar.

— Eu estava pensando... você quer fazer algo amanhã? Talvez... um piquenique? — A palavra saiu com um tom envergonhado, suas bochechas corando imediatamente. Clara se amaldiçoou por isso, achando que parecia uma boba.

Nate piscou, surpreso por um momento, mas logo abriu um sorriso genuíno.

— Um piquenique? Parece uma boa ideia. Eu topo — respondeu ele, deixando Clara aliviada e ainda mais nervosa ao mesmo tempo.

No dia seguinte...

O dia do piquenique chegou. Eles se encontraram no parque, o sol dourando o céu de fim de tarde. Clara havia preparado tudo com carinho: uma cesta cheia de frutas, sucos e alguns sanduíches, mas quando os dois finalmente estavam deitados na grama, observando o céu e conversando sobre tudo e nada ao mesmo tempo, Clara se lembrou de um detalhe importante. Ela se virou de lado, encarando Nate com uma expressão de pânico repentino.

— Ai, que burra que eu sou! — disse ela de repente, escondendo o rosto nas mãos. Nate a olhou, confuso.

— O que foi? — perguntou ele, rindo suavemente.

Clara suspirou, embaraçada.

— Você não come, né? Que ódio de mim, por que eu inventei isso? — Ela queria sumir de tanta vergonha. Nate riu, balançando a cabeça, sua risada leve como a brisa ao redor deles.

Ele se aproximou, tirando suas mãos do rosto dela delicadamente, seus dedos roçando sua pele. Clara sentiu um arrepio subir por sua espinha. Quando seus olhos se encontraram, ela percebeu que ele estava mais perto do que nunca.

E então, sem aviso, Nate a beijou.

Foi um beijo suave no início, como se ele estivesse testando os limites. Mas logo, a intensidade aumentou, o mundo ao redor dos dois parecia desaparecer. Apenas o vento suave e o som distante das árvores permaneciam, enquanto os corações deles batiam no mesmo ritmo.

Quando o beijo finalmente cessou, Nate ainda mantinha o rosto próximo ao dela, seus olhos verdes brilhando intensamente.

— Acho que um piquenique pode ser interessante de outras formas — murmurou ele, fazendo Clara rir baixinho, sentindo o calor de um novo começo.

E assim, Clara percebeu que aquele simples convite havia mudado mais do que ela poderia imaginar. Nate, com todos os seus mistérios e segredos, estava mais próximo do que nunca. Talvez fosse isso que ela temia — e desejava — desde o início.

Sombras do desejoOnde histórias criam vida. Descubra agora