Sombras do desejo

Cap.5

Nos dias que se seguiram ao estranho encontro no parque, a vida de Clara parecia cada vez mais entrelaçada com a presença enigmática de Nate. Ele continuava a aparecer nos momentos mais inesperados, sempre distante o suficiente para não se envolver, mas próximo o bastante para que ela sentisse sua presença. Era como se um jogo silencioso estivesse sendo jogado entre eles, e Clara começava a se perguntar quais eram as verdadeiras regras.

Naquela manhã de sexta-feira, Clara estava no refeitório com Fernanda e Lucas, tentando manter uma conversa casual sobre o fim de semana. A escola estava cheia de risos e vozes, como de costume, mas, de alguma forma, Clara se sentia isolada, sua mente vagando para longe.

— Você tá mesmo prestando atenção no que eu tô falando? — Fernanda perguntou, franzindo a testa.

Clara piscou, voltando à realidade.

— Desculpa, Nanda. Só estou um pouco distraída.

— Já deu pra perceber. — Fernanda disse, com um sorriso travesso. — Deixa eu adivinhar, você tá pensando no misterioso Nate de novo, né?

Clara abriu um sorriso tímido, sabendo que Fernanda não a deixaria escapar dessa vez.

— Talvez. É só que... — Ela fez uma pausa, lutando para encontrar as palavras certas. — Eu não sei o que pensar dele. Uma hora ele é super reservado, na outra ele aparece do nada e some sem dar explicações. É frustrante.

Lucas, que estava ouvindo a conversa com um ar de interesse disfarçado, finalmente se manifestou.

— Parece que ele tá jogando um tipo de jogo, Clara. Cara assim adora te manter confusa. Eu já vi isso antes.

Clara ficou em silêncio por um momento, pensando nas palavras de Lucas. Era verdade que Nate nunca deixava claro suas intenções, e a incerteza estava começando a mexer com ela. Mas ao mesmo tempo, havia algo inegavelmente atraente naquele mistério todo, como um quebra-cabeça que ela não conseguia parar de tentar resolver.

Fernanda revirou os olhos.

— E o que você vai fazer? Ficar aí, esperando ele aparecer de novo do nada? Isso não é saudável, amiga. Talvez seja hora de confrontá-lo. Ou pelo menos descobrir o que ele quer.

Antes que Clara pudesse responder, um murmúrio percorreu o refeitório, e Clara sentiu a familiar presença de Nate. Ao olhar para a entrada, lá estava ele, caminhando com a mesma postura tranquila de sempre, mas com os olhos fixos diretamente nela. Clara sentiu um arrepio percorrer sua espinha.

— Falando no diabo... — Fernanda murmurou, dando uma cotovelada leve em Clara. — Aí está o seu mistério ambulante.

Clara engoliu em seco, sentindo o olhar de Nate perfurar o seu. Ele não estava sozinho desta vez. Ao seu lado, uma garota loira de pele clara caminhava com ele. Ela era extremamente bonita, com um ar quase sobrenatural, como se não pertencesse àquele lugar. Clara nunca a tinha visto antes, mas a sensação de desconforto era instantânea.

— Quem é aquela? — Lucas perguntou, também notando a garota. — Não parece ser daqui.

Clara não tinha resposta. Tudo o que sabia era que, por alguma razão, o fato de Nate estar com outra pessoa a incomodava mais do que ela gostaria de admitir.

**

Mais tarde, enquanto o dia passava e a escola esvaziava, Clara decidiu seguir o conselho de Fernanda. Ela precisava de respostas. Por isso, quando o último sinal tocou, ela esperou na saída até avistar Nate, já um pouco afastado dos outros alunos.

Ela correu até ele, chamando seu nome antes que ele pudesse desaparecer de novo.

— Nate! Espera.

Ele parou, virando-se lentamente, com aquele olhar enigmático que sempre a desconcertava. A garota loira já não estava com ele, o que a fez se perguntar para onde ela tinha ido tão rapidamente.

— O que foi? — ele perguntou, sua voz baixa e controlada, como sempre.

Clara hesitou por um segundo, mas logo decidiu não recuar.

— Eu... eu preciso entender o que está acontecendo aqui. — Ela gesticulou entre eles, sem saber exatamente como descrever a situação. — Você aparece, some, parece me observar o tempo todo, e agora aparece com essa garota nova. O que você quer, Nate?

Ele a observou por um longo momento, sem dizer nada, como se estivesse considerando se deveria ou não responder.

— Você não vai entender, Clara. — ele finalmente disse, a voz mais grave do que o normal. — Não é algo simples.

— Então me explica. — Clara insistiu, sentindo a frustração crescer. — Eu não aguento mais essa incerteza.

Nate suspirou, passando a mão pelos cabelos de maneira quase irritada.

— É mais complicado do que parece. Mas se você quer respostas... — Ele fez uma pausa, olhando em volta como se estivesse avaliando o ambiente. — Talvez eu possa te mostrar algo. Mas você precisa prometer que não vai contar a ninguém. Isso não é uma coisa que... humanos normais devem saber.

Aquela última frase pegou Clara de surpresa, e por um momento, seu coração acelerou. "Humanos normais"? O que isso queria dizer? Ele estava brincando com ela, ou havia algo realmente estranho acontecendo?

— Eu prometo. — ela respondeu, sentindo uma mistura de curiosidade e medo.

Nate olhou em seus olhos, como se estivesse verificando se podia confiar nela. E então, lentamente, ele se aproximou.

— Eu sou diferente, Clara. — Ele começou, com um tom sombrio. — Minha família... nós não somos como vocês. E isso torna as coisas complicadas. Especialmente quando se trata de você.

Clara sentiu um arrepio na espinha.

— Como assim, complicadas?

Nate suspirou novamente, parecendo pesar as palavras.

— Eu tenho que me afastar de você. Mas ao mesmo tempo, não consigo. E isso... isso pode ser perigoso para você, mais do que você imagina.

Ela estava prestes a responder, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Nate deu um passo para trás, os olhos se fixando em algo à distância.

— Eu preciso ir. — Ele disse rapidamente. — Não deveria nem estar te falando isso.

— Nate, espera! — Clara tentou alcançá-lo, mas em um piscar de olhos, ele havia desaparecido entre as árvores.

De novo.

Clara ficou parada ali, sozinha, a cabeça cheia de perguntas e o coração acelerado. O que ele queria dizer com "perigoso"? O que ele estava tentando esconder?

E quem era aquela garota loira que parecia estar sempre por perto?

De uma coisa Clara sabia: o mistério que cercava Nate estava longe de ser resolvido. E, apesar do medo crescente dentro dela, sua curiosidade apenas aumentava.

Ela sabia que, a partir daquele momento, sua vida jamais seria a mesma.