Cap.2

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Nos dias que se seguiram, Maria Clara não conseguia tirar Nathaniel "Nate" Carter da cabeça. Seu rosto estava sempre presente em seus pensamentos, o modo como ele olhava para ela com aquela mistura de intensidade e mistério a deixava perturbada. A escola, antes um lugar familiar e confortável, de repente parecia cheia de incertezas. Havia algo nele que a puxava, mesmo que soubesse que talvez fosse mais seguro se manter afastada.

Na manhã de segunda-feira, Clara se encontrou novamente no pátio, onde o tinha visto pela primeira vez. Ela se dirigiu à mesma árvore onde ele costumava ficar, mas desta vez ele não estava lá. Sentindo uma leve pontada de desapontamento, Clara deu de ombros e começou a caminhar para a sala de aula, tentando se convencer de que não estava à procura dele.

— Clara. — Uma voz baixa e familiar chamou seu nome, fazendo-a parar de repente. Ela virou-se e viu Nate emergindo das sombras, os olhos fixos nela com aquela intensidade que fazia seu coração disparar. — Acho que estávamos destinados a nos encontrar aqui de novo.

Ela sorriu, mas o coração batia forte em seu peito.

— Parece que sim.

Nate deu um passo à frente, encurtando a distância entre eles. Havia algo em seu olhar que a deixava à vontade e ao mesmo tempo em alerta. Era como se ele pudesse ver através dela, além da fachada de garota confiante e alegre que todos conheciam.

— Eu te assustei? — ele perguntou, o tom de sua voz grave e suave ao mesmo tempo.

Clara balançou a cabeça.

— Não... só me pegou de surpresa. Você é... diferente.

Ele arqueou uma sobrancelha, um leve sorriso tocando seus lábios.

— Diferente, como?

Ela hesitou antes de responder, tentando encontrar as palavras certas.

— É como se você fosse... um enigma. Algo que não consigo decifrar.

Nate riu suavemente, mas havia uma nota de tristeza em sua risada.

— Talvez porque há partes de mim que eu mesmo não consigo decifrar.

Clara franziu a testa, percebendo que havia mais coisas escondidas por trás do exterior calmo de Nate do que ela inicialmente pensava.

— Você carrega muita coisa, não é?

Ele desviou o olhar por um momento, antes de encontrá-la novamente.

— Todos nós carregamos, Clara. Alguns apenas são melhores em esconder.

O silêncio que se seguiu foi cheio de uma tensão silenciosa. Clara sentiu a urgência de saber mais sobre ele, mas também a cautela de não invadir demais. Havia uma linha tênue entre curiosidade e intromissão, e ela não queria cruzá-la, pelo menos não ainda.

— Vamos caminhar? — Nate sugeriu, rompendo o silêncio.

Ela assentiu, e eles começaram a caminhar lado a lado pelo pátio. O sol filtrava-se pelas árvores, lançando sombras dançantes no chão. A presença de Nate ao lado dela era reconfortante, mas ao mesmo tempo carregada de uma eletricidade que ela nunca havia experimentado antes.

— Você não é daqui, né? — Clara perguntou, quebrando a quietude.

Nate balançou a cabeça.

— Não, minha família se mudou para cá recentemente.

— Por causa de algo específico? — Ela perguntou, tentando não parecer intrometida.

Ele hesitou antes de responder.

— Algo assim. Apenas precisamos de um novo começo.

Clara percebeu que havia muito mais por trás dessa mudança do que ele estava disposto a compartilhar.

— E você está gostando daqui?

— É... diferente — ele respondeu vagamente. — Mas você é a primeira pessoa que realmente parece... se importar.

Ela corou, pegando-se surpresa com a honestidade dele.

— Eu acho que as pessoas só precisam de tempo para conhecê-lo.

— Talvez — ele disse, olhando-a de uma maneira que fez sua respiração acelerar. — Ou talvez algumas coisas sejam melhores sendo mantidas à distância.

Clara mordeu o lábio, sentindo a gravidade de suas palavras.

— E você acha que deveria se manter à distância?

Nate parou e a olhou nos olhos, o ar entre eles pesado com uma tensão não resolvida.

— Eu não sei, Clara. Parte de mim acha que sim, mas... a outra parte...

Ele deixou as palavras desaparecerem, mas Clara sabia o que ele queria dizer. Havia uma atração entre eles, algo inegável e avassalador. Ela sentiu um arrepio percorrer sua espinha, mas não era de medo. Era a excitação do desconhecido, do que poderia acontecer se ela se permitisse cair ainda mais fundo nessa relação.

— Eu não sou boa em manter distância — Clara admitiu, sorrindo de lado. — Especialmente quando algo me intriga tanto.

Nate sorriu de volta, mas seus olhos permaneciam sérios.

— Talvez você devesse ser.

Antes que Clara pudesse responder, o sinal da escola tocou, interrompendo o momento. Nate deu um passo para trás, a tensão entre eles se dissipando momentaneamente.

— Acho que temos que ir.

Ela assentiu, sentindo uma mistura de frustração e alívio.

— Sim, acho que sim.

Enquanto eles caminhavam de volta para a escola, Clara sentiu que algo havia mudado entre eles. Havia um entendimento silencioso, uma conexão que estava crescendo, mesmo que ambos soubessem dos perigos envolvidos. Mas, apesar dos avisos que seu coração lhe dava, Clara sabia que não conseguiria se afastar. Não agora, não depois de ter sentido a intensidade de Nate tão de perto.

E com isso, ela percebeu que estava entrando em algo que poderia muito bem ser a experiência mais transformadora – e talvez mais perigosa – de sua vida.

Sombras do desejoOnde histórias criam vida. Descubra agora