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As vezes eu queria saber como é se sentir feliz. Sabe? Não como um momento, mas como um estado de espírito. Ser feliz e eventualmente ficar triste, não ser triste e ficar eventualmente feliz.
Houve um tempo em que eu me sentia ingrato. Ingrato por ter uma boa condição financeira, bons pais, boa educação. O fato é que eu nunca me senti parte integrante de nada em toda a minha vida.Eu fui adotado com 11 anos. Não me entenda mal, eu amo meus pais. Eles me salvaram, me deram amor e uma vida que eu jamais teria vindo de onde eu vim. Mas com 11 anos você não é mais tão criança, não a ponto de não lembrar de nada. E a merda tá aí, eu lembro de tudo.
Apesar de toda essa sequela, eu vivia relativamente bem a minha vida até minha mãe descobrir uma doença autoimune.
A mulher mais foda e que eu mais amo em toda minha vida ia definhar até a morte e não tem nada que eu possa fazer.A maioria das pessoas que são adotadas, em algum momento da vida têm uma epifania do tipo "de onde eu vim?", "quais são as minhas raizes?" e blábláblá. Se você tiver uma história como a minha de pais viciados, que nunca nem cogitaram se tornar pessoas melhores pela sua existência, mas que no final das contas você acabou em um bom lar, com boas pessoas, boa educação e comida na mesa, eu diria pra apenas deixar o passado no passado. Quando se sai do inferno pra se viver no céu, você não faz perguntas, você só aceita e agradece. Mas as pessoas são complexas e assim como eu digo pra que não vá atrás desse tipo de pessoa e ambiente que não vão mais te agregar em nada, eu digo que esse é um erro que talvez deva ser cometido. Perguntas, ainda que muito ruins, também devem ser respondidas. Então vai lá, constata que você veio do pior lugar do mundo, volte pra casa, olhe pra cara das pessoas que te deram tudo e se sinta um merda.
É isso que um moleque problemático de 16 anos com internet faz: ele pega informações sobre seus genitores, mata aula e corre perigo sozinho pra se decepcionar. Meus pais nunca souberam que eu fui atrás dos meus genitores, isso destruiria eles. Naquele dia eu fui pro bairro mais perigoso da cidade e encontrei quem eu queria encontrar. Eles não me reconheceram de tão chapados, mas fingiram que sim e me pediram dinheiro pra comprar droga.
Lembro de ir pra casa com a cabeça a mil, mas pelo menos eu tive respostas pra seja lá o que eu estava me perguntando. Quando eu cheguei em casa, meus pais estavam muito preocupados e eu esperava um esporro daqueles, mas ao invés disso ganhei abraços apertados e choros de alívio.
E foi assim que eu passei de ingrato pra puto. Puto com o destino, karma ou o Deus que fosse que julgou que a minha mãe deveria ter a porra dessa doença enquanto os meus genitores viviam vidas miseráveis por escolha própria e afundados em droga. Era uma vida de merda, mas ainda era uma vida. E o que fazia deles mais merecedores do que a minha mãe de ter uma vida?
Eu costumava fugir de madrugada quando me sentia sufocado, com medo ou ansioso. Às vezes eu só precisava de um cigarro, às vezes eu precisava sentir que o tempo parou pra esquecer que a cada segundo que eu me lamentava, a minha morria mais um pouco. É estranho pensar que hoje, pela primeira, vez isso funcionou. Tirando o momento que cheguei, eu não lembrei de nada ruim enquanto estava naquele meio-fio com Jungkook.
Eu não sei o que Jungkook tem ou fez, mas eu voltei pra casa essa manhã me sentindo uma pluma de tão leve. Eu me sentia... feliz? Eu não sei dizer, eu não costumava me sentir muito dessa forma, mas acho que pode-se dizer que sim, eu estava feliz.
Chego na universidade tal qual um zumbi depois de passar a noite em claro com Jeon Jungkook. Eu gostaria muito de umas boas horas de sono, mas não me arrependo nem um pouco, na verdade eu ansiava pra que aquele encontro acontecesse mais vezes. Passo a manhã toda em uma aula atrás de outra quando finalmente chega a hora do almoço.
- Vamos logo que hoje tem cheesecake no refeitório! - Taehyung fala animado me puxando pela mochila.
- Calma, Tae! - eu falo rindo enquanto me deixo ser arrastado.
- Vai pegando a mesa pra gente que eu vou pegando as fichas! Yoongi e Jin disseram que já estão vindo também.
- Beleza. - respondo já escaneando o refeitório em busca de uma mesa que coubesse nós quatro.
Avisto Yoongi conversando com o resto do time de basquete e há uma boa mesa disponível ao lado. Me aproximo mais um pouco e vejo Jungkook animado demais, rindo alto e chamando atenção. Não parece ele.
- E aí, Yoon! - toco o ombro de Yoongi e logo a rodinha se abre.
- Fala, Minnie. Tae já conseguiu as fichas?
- Ele tá lá na fila e pediu pra ir pegando uma mesa.
- Vou lá então ajudar ele. Certeza que vai querer encher a bandeja e não vai conseguir trazer sozinho. - ele fala e sai atrás de Taehyung.
- Oi, Jungkook. - eu falo dando um aceno tímido.
- Ahn... oi, Park. - ele responde como se estranhasse o meu contato, quase como se me questionasse, exatamente como seria se isso tivesse acontecido até ontem antes de tudo.
Ele se vira de volta pro seu grupinho e a minha expressão murcha.Então era assim que ia ser? Eu não conheço Jungkook, não sei muito a respeito do seu jeito, da sua história ou das suas ambições, mas confesso que essa atitude vinda dele me afeta mais do que deveria. Eu senti que tivemos uma conexão ontem, uma daquelas raras como um eclipse e agora parece que tudo não passou de um surto. Parece que eu e ele nunca estivemos sentados naquele meio-fio, mas foi verdade, eu sei que foi, eu sinto em cada parte do meu corpo.
Tudo mudou, mas ainda seríamos estranhos.
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FOOLS [ JJK PJM ]
FanfictionNuma noite turbulenta Jeon Jungkook e Park Jimin passam a madrugada em claro conversando sobre seus problemas em um meio fio qualquer. Tudo havia mudado, exceto na universidade onde continuavam a fingir que não se conhecem.