De zero a dez?

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🩶🥃

A esclerose é uma vadia. Quando a minha mãe foi diagnosticada, eu não sabia nada sobre a doença e hoje eu sei muito mais do que gostaria. Basicamente a minha mãe vai definhar até a morte presa dentro do próprio corpo. Ela vai estar consciente enquanto assiste tudo se perder pouco a pouco: o movimento dos braços, das pernas, a fala, os dedos dos pés e das mãos... tudo. Não há nada a se fazer, só deixar o tempo levar tudo. A vida é um filha da puta injusta e a esclerose é amiga escrota dela.

Eu andava pelos corredores da universidade a passos rápidos. Eu estava atrasado depois de levar minha mãe na consulta com o fisioterapeuta. A coordenação motora dela já não era mais a mesma. Era sútil. Um simples pinçar de dedos que agora exigia esforço para ser executado.

Abro a porta num rompante e a sala toda volta a atenção pra mim.

- Está atrasado, Park. Sente-se em silêncio e abra o livro na página 95. - o professor Baek fala em tom sério, mas sei que ele gosta de mim. - Então como eu ia dizendo: trata-se de uma cláusula pétrea...

Não consigo prestar atenção em porra nenhuma que ele diz, então só começo a escrever qualquer coisa no caderno e sinto meus olhos mais pesados a cada piscada. É como se toda a energia do meu corpo tivesse sido drenada. Eu não sinto vontade de fazer nada e meu corpo vai sucumbindo ao cansaço até que... eu simplesmente durmo.

Jin não pegou essa matéria comigo. Eu não falo com ninguém aqui e consequentemente ninguém me manteria acordado, ou pelo menos me acordaria. Era o que eu pensava até ouvir uma voz grave e doce me chamar em tom baixo e cauteloso.

- Jimin... Jimin...

- Namjoon? - falo arrastado ainda com a visão meio embaçada. - Eu dormi muito? Que horas são?

- Uns 15 minutos no máximo. O professor deu um intervalo rápido e eu vim ver se você estava bem.

- Tá tudo bem sim, só estou um pouco cansado. Não precisa se preocupar, mas obrigado por isso. - ele sorri bonito e suas convinhas aparecem. - Acho que vou jogar uma água no rosto.

- Nada, que isso. Vai lá.

Me levanto ainda meio letárgico, vou até o banheiro, abro a torneira e levo a água gelada até meu rosto quente. Eu me sinto febril, mas sei que não estou com febre. As pessoas tem reações diferentes à tristeza, umas choram, umas gritam... eu fico me sentindo doente, sem forças, sem vontade, sem energia. Hoje eu me sentia muito triste, mas eu não poderia voltar pra casa e preocupar minha mãe ou simplesmente jogar tudo pro alto. Eu preciso ficar bem, mas sei que hoje não vai ser possível, então eu vou só deixar estar e quando eu chegar em casa vou fingir.

Não é esse o ponto de tudo isso? No final do dia nada vai ficar bem, o mal vai continuar vencendo e o mundo não é b-

- Você parece péssimo hoje. - ainda de olhos fechados, ouço a voz familiar interrompendo minha epifania enquanto molho o rosto.

- Que delicado da sua parte, Jeon. - respondo irônico encarando-o pelo reflexo do espelho.

- É um dos meus charmes. Toma. - ele coloca um copo de papel sobre a pia e cruza os braços se encostando na parede.

- O que é isso?

- Café.

- Comprou café pra mim?

- Sim. Por quê? Você não bebe café? - ele falava indiferente como se aquilo não fosse grande coisa, mas é.

- Bebo sim. Obrigado. - pego o copo e sinto meu coração quentinho pelo gesto.

FOOLS [ JJK PJM ]Onde histórias criam vida. Descubra agora