Capítulo 4 - O relógio quebrado

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Los Angeles, California.

Três meses após a morte de LingLing.

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Orm estremeceu ao sentir o vento gelado bater contra seu rosto. Caminhava lentamente pela cidade não se importando com a noite escura, ou com a densa neblina e flocos de neve. Era uma noite tranquila, no entanto, não deixava de ser algo perturbador para o que chamava de pensamentos frágeis e medrosos que insistiam em continuar rodeando sua mente. O caminho que traçava era conhecido e muito frequentado pelas inúmeras visitas que fazia, sempre no mesmo dia e horário. Era comum as pessoas sentirem pena, mas Orm não se importava. Era onde precisava estar, era recente e era difícil suportar.

Ela suspirou, e um vapor se formou em frente ao seu rosto. Orm apertou o celular contra sua luva grossa antes de esfregar as pernas com mais força, finalmente conseguindo derreter um pouco do gelo interno e, assim, voltar a se movimentar, dessa vez mais rápido buscando chegar o quanto antes em seu destino e quem sabe, colocar toda a sua dor para fora de uma vez. Ela prometeu a Ling ficar viva e bem, mas a cada dia que se passava, começava a notar a dificuldade que teria para manter aquela promessa, ainda mais quando a pessoa que deveria proteger e cuidar havia partido.

Orm se sentia tola e impotente. Não importava quanto tempo se passasse, ela nunca esqueceria aquele dia. Se sentia culpada por tudo aquilo, se tivesse ficado com Ling naquela noite, talvez o destino teria tomado outro caminho. Ling estaria bem e Orm poderia finalmente se confessar a ela, até mesmo chegou a planejar diversas vezes seus discursos. O assassino continuava a solta, os policiais pareciam não saber por onde procurar e Orm se sentia feliz de ter seu amigo e sua família, pois caso contrário, não saberia o que fazer.

Afastando os pensamentos fantasiosos. Orm avançou um bom trecho do caminho. Agora entrando por uma pequena trilha escura, com apenas vislumbres da lua que iluminava parcialmente a trilha. Era uma pequena colina - não era alta, o que facilitava para que seus passos se tornassem mais rápidos, além de levá-la diretamente ao seu destino. Tudo era sossegado, levemente enevoado, quieto. Orm acharia confortável viver em um lugar como aquele, onde sua mãe não a perturbaria a todo momento para saber como estava e seu pai deixaria de importuná-la para largar a carreira de atriz e assumir a empresa da família. Sim, seu pai também era dono de uma grande empresa alimentícia que exporta e importa, agora deseja que assuma a empresa. Ela não pode culpá-lo, podia ver o medo nos olhos de seus pais, depois o que aconteceu com Ling. Se lembrou do funeral e de como os pais e irmão de Ling choravam sem parar.

Os olhos âmbar e brilhantes de Orm fitaram o céu noturno, as nuvens brancas sumiam lentamente para um horizonte desconhecido. E assim que notou onde estava, parou diante do cemitério. Seu olhar percorreu pelo muro recém reformado e depois para o caminho que a levaria em direção a porta principal. Eram apenas alguns metros de distância, mas havia um sentimento macabro que a perturbava sempre que voltava naquele lugar. Como um sentimento desconhecido que a cada dia se intensificava em seu peito. E assim como todas as vezes que ficava tão próxima daquele lugar, Orm reconsiderou a ideia de voltar.

A brisa gélida soprava contra as folhas, o barulho poderia ser assustador para alguns. Porém para Orm era diferente, estava diferente. Deixando um suspiro fraco sair por entre seus lábios, ajeitou seu casaco buscando se aquecer e, assim como outras vezes, começou a caminhar até o portão e – após um segundo tentando controlar sua respiração que voltava a se tornar rápida e dolorosa, seguido pelo mesmo sentimento desconhecido – Orm abriu o portão e entrou pelo grande cemitério. Por um breve momento, viu o coveiro a olhando e sorrindo fracamente em sua direção.

-Sr. Robert, como vai? - O cumprimentou brevemente, antes de entrar

-Indo e vindo, mas minha saúde está cada dia melhor

O tempo entre nós - LINGORMOnde histórias criam vida. Descubra agora