Capítulo 2 - A carta

479 48 6
                                    

Naquela noite, após o jantar e os ensaios, decidiram ensaiar juntas em um dos quartos do hotel onde estavam hospedadas. O clima estava mais leve, e ambas riam e brincavam enquanto trabalhavam nas falas de suas personagens. Entre uma linha e outra, as risadas diminuíram, e um silêncio confortável se instalou. Ling olhou para Orm, percebendo o quanto ela significava para ela, não apenas como uma colega de trabalho, mas como uma amiga próxima, talvez até algo mais.

Não seja estranha Ling, ela é sua colega de trabalho – Se xingou mentalmente por tais pensamentos.

-Você tem que experimentar isso – Orm voltou a sala com um pote em mãos

Ela olhou para o pote, um pouco desconfiada. - Isso é molho de ostra?

-Sim, puro – A animação era contagiante, mas Ling não conseguiu esconder a expressão de descrença.

-Você é inacreditável

-É gostoso – Deu de ombros e se sentou no sofá, abrindo o pote e colocando uma colher generosa do molho na boca.

Riu, balançando a cabeça em incredulidade.

-Acho que vou vomitar

A mais nova revirou os olhos, mas o sorriso no rosto não desapareceu. - Idiota, é bom... se der uma chance, você gosta

Ling olhou para ela com um misto de espanto e divertimento. - Você e suas comidas exóticas. É impressionante como consegue encontrar algo novo para experimentar a cada dia.

A constatação fez a mais nova rir, dando um leve empurrão em Ling.

-É uma das minhas qualidades.

O ambiente estava mais leve, e as tensões do dia pareciam um pouco menos pesadas. Ling sentou-se ao lado de Orm, ainda um pouco inquieta, mas amparada pela presença da amiga e pelo desejo sincero de Orm em animá-la.

-Ei... eu queria agradecer por estar ao meu lado. Esses últimos dias não têm sido fáceis, e não sei o que faria sem você.

A outra sorriu, um sorriso que aquecia o coração de Ling.

-Você não precisa agradecer. Eu estou aqui porque quero estar, porque... você é importante para mim

O momento entre elas ficou carregado de algo novo, algo que ambas sentiam, mas que ainda não haviam tido coragem de expressar em palavras. Ling olhou para a televisão que passava um filme aleatório, e por um momento de coragem deitou sua cabeça no ombro de Orm, que sorriu brevemente, antes de levar mais uma colher de molho na boca.

Ela é um ser humano único. A mais velha sorriu e fechou os olhos sentindo o sono chegar.

As semanas seguintes foram uma montanha-russa emocional para Ling. Enquanto as gravações da série avançavam, podia sentir sua conexão com Orm se fortalecendo a cada cena. As duas atrizes tinham uma química natural, e os diretores estavam empolgados com o resultado. No entanto, Ling não conseguia se livrar da sensação de que algo estava errado.

Um dia, após uma longa gravação de uma cena particularmente intensa, Ling encontrou um envelope sem remetente em seu camarim. Ela o abriu com uma sensação de apreensão crescente. Afinal não era comum receber envelopes e ainda mais que seu camarim só era permitido entrada dela e do pessoal que cuidava de suas roupas e maquiagem.

Dentro, havia uma carta escrita à mão, com uma caligrafia irregular e ameaçadora:

"Você está linda hoje, uma pena que escolheu o caminho errado, terei que tomar providencias"

O coração de Ling disparou.

-Que brincadeira sem graça é essa.

Ela sabia que tinha haters, pessoas que a criticavam por qualquer motivo, mas isso parecia diferente. Engolindo em seco, releu novamente a carta, havia algo profundamente perturbador naquelas palavras.

O tempo entre nós - LINGORMOnde histórias criam vida. Descubra agora