Holly Potter - Entre Mundos e Varinhas

Capítulo 36 - Escuridão

A sala era úmida e fedia a urina. A única luz vinha de uma lâmpada amarela, acesa acima dela. Suas pernas e braços estavam amarrados ao metal da cadeira por cordas ásperas, o único móvel daquela pequena e deplorável sala.

As feridas causadas pelo chicote em suas pernas ardiam, mas eram queimaduras nos braços, pela ponta de um cigarro, que realmente a faziam sofrer. No entanto, ela não soltou nenhum grito, nem implorou por misericórdia.

A jovem, que não devia ter mais do que dezesseis anos, tinha a pele bronzeada brilhando de suor e água, resultado de um afogamento a seco. Seus cabelos castanhos, curtos e úmidos, grudaram em seu pescoço e testa.

Um dos olhos estava tão inchado que não abria, enquanto a visão do outro estava turva. Ela podia ouvir os passos de seu algoz na sala, estalando o chicote contra a palma da mão.

A missão havia falhado, uma tarefa simples: atirar na herdeira do grupo Cross. O problema foi que a mulher estava grávida, e a assassina A12 não foi capaz de atirar. Isso teve seu preço. Falhar na missão colocava a agente à mercê do carrasco da organização.

Ela sobreviveria, pois era um ativo, mas pagaria caro por seu fracasso. Quando o chicote desceu sobre ela, acertando sua bochecha e pescoço, a respiração engasgou.

Holly abriu os olhos e encarou a escuridão que recuou aos poucos quando seus olhos acostumaram. Ao deslizar as mãos pelo lençol macio, ela percebeu que não tinha os membros presos. Estava no conforto do dormitório do segundo andar da Casa Corvinal, em Hogwarts.

Ela sentou-se, abandonando o sono, e pegou sua varinha, lançando um feitiço de Tempus. Eram 3h23 da madrugada. O pesadelo era sua penitência por esquecer de praticar Oclumência antes de dormir. Estava tão cansada do dia, que as conversas com seus colegas a fizeram esquecer.

Consciente de que não conseguiria mais dormir, ela deixou o calor de sua cama e seguiu para o banheiro.

Encarou sua figura no espelho do recinto vazio. Sua aparência era tão diferente da sua vida passada, que quase parecia uma ilusão, no entanto, ajudava a afastar um pouco de quem realmente era, todavia jamais esqueceria sua vida cruel.

Ela lavou o rosto e, em seguida, desceu para a sala comunal, que estava deserta e silenciosa. Sentou-se no tapete perto da lareira, com as pernas cruzadas, e tentou acalmar sua mente, mesmo que fosse difícil com as cenas do pesadelo ainda frescas em sua memória.

Levou quase uma hora para acalmar os pensamentos, afastar as cenas e a dor fantasma que as acompanhava.

Decidiu que precisaria falar com o Professor Snape para continuar com suas aulas de Oclumência.

Após três horas, ela finalmente conseguiu respirar com normalidade. O pesadelo parecia um cenário distante, e o tremor em suas mãos havia cessado.

Holly levantou e voltou para o quarto. Ainda eram 6h, e a maioria dos alunos dormia. Ela pegou um conjunto de moletom, calçou seus tênis e saiu da sala. Embora o horário permitido para sair fosse às sete, ela precisava correr. Se quisesse funcionar naquele dia, precisava queimar a energia acumulada em seu corpo.

Andou sem pressa para o campo de Quadribol, que estava vazio naquele horário, ela seguiu para lá pelos corredores silenciosos. O ar fresco da manhã acalmou seus batimentos cardíacos, e após se alongar, ela começou a correr, dando voltas ao redor do campo.

Por sorte, o campo tinha um tamanho mediano, equiparando-se a uma pista de corrida de escola não mágica.

Holly focou na sua respiração, no batimento cardíaco e em cada passo que dava, até que, subitamente, ouviu vozes. Ela parou e olhou para cima, percebendo que o time da Lufa-Lufa havia chegado para treinar. Lançou novamente o feitiço de Tempus e viu que era um pouco depois das sete horas. Ela havia corrido por uma hora. Poderia correr mais, porém, tinha que lembrar que ainda estava em um corpo infantil.