9- Segredos ocultos

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Thorgar, nos conduziu para um abrigo improvisado, enquanto o vilarejo continuava seu ritmo lento e desolador, como se a própria terra estivesse cansada do fardo da existência. Caminhávamos em silêncio pelas ruas cheias de lama, as poças refletindo a luz cinzenta do céu acima. O som abafado de nossas botas contra a terra úmida era um lembrete constante do peso da missão que nos aguardava. Ao longe, ouvia-se o som ocasional de um martelo batendo em metal, mas mesmo isso soava cansado, como se a força do vilarejo estivesse sendo sugada por algo invisível e terrível.

Entramos em uma casa de pedra simples, cujas paredes frias e austeras pareciam sussurrar histórias de tempos melhores. O salão era modesto, mas funcional, com uma mesa de madeira rude no centro, iluminada apenas por uma lamparina de óleo. As sombras dançavam nas paredes de pedra, criando formas distorcidas que pareciam ter vida própria, acompanhando cada movimento das chamas.

Thorgar entou-se à nossa frente, seu rosto marcado pela idade e pelas dificuldades. Seu olhar era sombrio, carregado de uma tristeza que parecia afundar ainda mais seu corpo já curvado. "Os goblins são cruéis e implacáveis," começou ele, sua voz grave ecoando no salão como um lamento. "Mas os hobgoblins... eles são diferentes. São organizados, inteligentes, estrategistas. Usam os goblins como ferramentas de terror, mantendo o vilarejo à mercê de seus caprichos. Nossos suprimentos estão acabando, e os poucos recursos que restam não serão suficientes por muito tempo."

O ar ao nosso redor parecia mais denso enquanto Thorgar falava, como se a própria casa estivesse impregnada pelo desespero que ele transmitia. Cada palavra era um reflexo da luta interna que ele enfrentava—um líder impotente diante de uma ameaça que não podia vencer sozinho.

Zathor, com seu olhar calculista e frio, começou a ponderar sobre uma estratégia. Ele era sempre direto, sem rodeios, mas havia uma precisão mortal em suas palavras. "Precisamos de uma estratégia que nos permita atacar quando eles estiverem despreparados," disse ele, seus olhos focados no anão.

Eu senti a adrenalina começar a pulsar nas minhas veias enquanto minha mente trabalhava rapidamente nas possibilidades. "Atacar os goblins faz sentido," acrescentei, enquanto olhava para o mapa rudimentar que Thorgar havia espalhado sobre a mesa. "Mas não podemos fazer isso sem informações precisamos saber mais sobre a fortaleza deles e, sobre sua liderança."

O anão hesitou, seu rosto refletindo a luta interna que enfrentava. Era evidente que pedir ajuda externa era uma humilhação para ele, mas a necessidade de proteger seu povo era maior. Finalmente, ele falou, sua voz cheia de resignação. "Há uma druida curandeira nas proximidades. Seu nome é Ariendel. Ela é poderosa e conhece a região melhor do que qualquer outro. Se alguém pode nos ajudar a entender melhor o inimigo, é ela."

Com a decisão tomada, partimos imediatamente. O caminho até a casa de Ariendel era curto, mas árduo. Passamos por trilhas tortuosas e sombrias, cercadas por florestas densas cujas árvores antigas pareciam curvar-se sobre nós, como se estivessem espreitando, curiosas e ameaçadoras. O som de galhos quebrando e folhas secas sob nossos pés era a única trilha sonora da jornada, além dos ocasionais cantos de corvos que voavam sobre nossas cabeças, sentinelas da morte que aguardavam pacientemente por sua oportunidade.

A casa de Ariendel surgiu à nossa frente como uma miragem sombria em meio à floresta. Era uma construção simples de madeira e pedra, coberta por musgo espesso e hera, fundindo-se tão perfeitamente com a paisagem que parecia fazer parte da própria floresta. O ar ao redor da cabana era impregnado de uma sensação de tranquilidade inquietante, como se a própria natureza estivesse vigiando cada passo que dávamos.

Ariendel apareceu na porta antes que pudéssemos bater. Ela era uma mulher de estatura média, com cabelos longos e grisalhos que caíam em ondas soltas sobre seus ombros. Seus olhos verdes brilhavam com uma intensidade que refletia tanto sabedoria quanto uma crueldade velada. Seu olhar nos avaliou rapidamente, sem deixar transparecer qualquer emoção além de uma curiosidade fria.

"Vejo que vocês buscam ajuda," disse ela, sua voz suave, mas com uma advertência subjacente que não poderia ser ignorada. "Ninguém vem até mim sem um motivo. E minha ajuda nunca vem sem um preço."

As palavras dela pairaram no ar, carregadas de uma expectativa inquietante. Sabíamos que qualquer aliança com Ariendel traria consigo seus próprios riscos, mas não tínhamos muitas opções. Thorgar explicou brevemente nossa situação, e Ariendel escutou em silêncio, seus olhos fixos nas chamas da pequena fogueira que crepitava dentro da cabana.

"Os goblins pressionam todos nós," disse ela, após um longo silêncio. "Eles me forçaram a buscar ingredientes em rotas escassas, limitando meus recursos e impedindo-me de produzir meus elixires. E se eles continuarem, este vilarejo não será o único a cair."

Enquanto ela falava, aprofundei minha sondagem mental sobre Ariendel, deixando minha mente deslizar pelas camadas superficiais de seus pensamentos. O que descobri foi perturbador: Ariendel não era apenas uma curandeira. Ela havia conduzido experimentos sombrios em prisioneiros, infectando-os com doenças raras para observar os efeitos e desenvolver elixires que prometiam prolongar a vida e garantir imunidade. Suas vítimas, muitas delas inocentes, haviam sido deixadas para sofrer e morrer em agonia, enquanto Ariendel dissecava seus corpos em busca de respostas.

Compartilhei o que descobri com Zathor através de uma conexão mental rápida. Sua expressão endureceu. "Ariendel está jogando um jogo perigoso," ele murmurou, seu olhar sombrio. "Precisamos estar preparados para qualquer traição."

Sem perceber nossa descoberta, Ariendel nos conduziu até uma clareira não muito longe de sua cabana. O lugar emanava uma sensação de morte iminente. Ao longe, uma caverna sombria e imponente surgia como a boca de um monstro prestes a devorar tudo à sua volta. Lobos ferozes guardavam a entrada, com goblins montados em suas costas, suas risadas guturais ecoando pela floresta. O chão ao redor da caverna estava coberto de ossos, um testemunho macabro da brutalidade das criaturas que habitavam ali. O ar estava impregnado com o odor nauseante de carne podre e decadência.

"É aqui que eles se escondem," explicou Ariendel, apontando para a caverna. "Os goblins vivem nas profundezas, protegidos por armadilhas e pela liderança astuta dos hobgoblins. Eles são astutos, organizados, e sua fortaleza é tanto física quanto mental."

Com essas informações, Zathor e eu começamos a formular uma estratégia. Sabíamos que um ataque direto seria suicida. Precisávamos de uma infiltração precisa, onde cada movimento fosse calculado com perfeição. Decidimos criar uma distração para os lobos, neutralizar os guardas goblins e, então, invadir a caverna de maneira cirúrgica.

A escuridão começava a cair ao nosso redor, e a sensação de perigo iminente pairava sobre nós. Cada movimento precisava ser perfeito, pois qualquer erro poderia resultar em nossa morte. Com a noite se aproximando e as sombras engolindo o terreno, sabíamos que a batalha que se aproximava não seria apenas física, mas também um teste de estratégia, inteligência e coragem.

Eu sentia que a jornada havia realmente começado. E as sombras da caverna guardavam mais do que apenas goblins e lobos. Elas escondiam segredos antigos e perigosos, prontos para serem desenterrados—se eu sobrevivesse para revelá-los.

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