10- Assassino silencioso

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Enquanto os guardas mantinham suas posições rígidas, seus olhos varrendo o ambiente em busca de qualquer ameaça, senti aquela pressão familiar começar a crescer dentro de mim. Era uma sensação que, com o tempo, aprendi a controlar e a utilizar como uma extensão de mim mesmo. Aquela força psíquica não era apenas um dom que se manifestava esporadicamente—ela havia se tornado parte integrante da minha existência. Cada pensamento, cada emoção, cada ínfima alteração ao meu redor reverberava dentro da minha mente como um eco distante, mas nítido. Era como estar no centro de uma tempestade, com o vento e os raios dançando ao meu redor, enquanto eu permanecia imóvel, impassível, moldando o caos com minha vontade.

Eu podia sentir as mentes à minha frente, seus pensamentos girando em redemoinhos caóticos, e sabia que, a qualquer momento, eu poderia destruí-los sem precisar levantar uma mão sequer. Não era necessário esforço físico. Eu não precisava de espadas, lanças ou qualquer arma mundana. Meus poderes iam além da matéria, penetrando a própria essência da vida. Uma simples ideia—um comando silencioso dentro da minha mente—era suficiente para dominar os outros.

Fechei os olhos, deixando que a escuridão interna se expandisse. O mundo ao meu redor ficou em silêncio enquanto mergulhava nas mentes dos guardas. Suas consciências eram frágeis comparadas à vastidão da minha própria mente, como folhas sendo levadas pelo vento. Eu os senti vacilar, como se cada um estivesse sendo puxado para um sono inevitável, suas energias drenadas lentamente. Os músculos relaxaram, as respirações se tornaram lentas e superficiais, e, em questão de segundos, seus corpos cederam ao chão, entregues a um sono profundo e induzido.

Mas eu não me contentei apenas em colocá-los para dormir. O verdadeiro poder do que eu fazia não estava apenas em controlar seus corpos, mas em moldar suas realidades. Dentro daquele sono, eu me infiltrei ainda mais em suas mentes, distorcendo suas percepções, criando horrores que os assombrariam até o fim. Arrastei-os mentalmente para um abismo escuro e gélido, onde suas consciências debatentes eram submersas em águas negras. Eles sentiam o desespero de lutar para respirar, a dor de seus pulmões implorando por ar que nunca chegaria. O terror os consumia, e, no mundo real, suas respirações começaram a falhar. Cada inspiração tornava-se mais rasa, até que, finalmente, cessaram. Tudo isso com a força de um único pensamento.

Quando abri os olhos novamente, os corpos dos guardas estavam ali, inertes no chão. A vida havia sido drenada deles sem que eu precisasse levantar um dedo. A morte não veio de uma lâmina ou de uma flecha. Ela veio da minha mente, da minha capacidade de dominar completamente outra existência. Um poder que ultrapassava a compreensão dos meus companheiros, que agora me observavam com um misto de admiração e horror. Eles sabiam que eu era poderoso, mas, naquele momento, o verdadeiro alcance das minhas habilidades começou a se desvelar para eles. Eu não era apenas um soldado ou um aprendiz. Eu era uma força. Algo que não poderia ser detido facilmente.

Meus poderes psíquicos tinham evoluído além do que qualquer um de nós poderia ter previsto. A capacidade de penetrar nas mentes, dobrar a realidade dentro delas, manipulá-las como bem entendesse—tudo isso me transformava em algo mais que humano. Eu podia fazer com que alguém esquecesse de respirar, fizesse com que a própria percepção do mundo ao redor se desmoronasse, prendendo-os em horrores eternos que pareciam tão reais quanto o chão sob seus pés. Esse era o verdadeiro poder que eu carregava, e com ele, sabia que poderia alterar o curso de qualquer batalha, de qualquer vida, apenas com minha mente.

E enquanto o peso desse poder ainda pulsava dentro de mim, seguimos em frente. A caverna que nos aguardava parecia uma criatura viva, faminta por nossa presença. Assim que cruzamos sua entrada, o cheiro denso de podridão tomou conta do ar, atingindo nossas narinas com uma intensidade nauseante. Era um odor que trazia consigo a sensação de morte e decomposição, como se algo muito antigo e macabro tivesse sido enterrado ali há milênios e agora estivesse se decompondo lentamente, esperando por seus próximos sacrifícios.

As paredes da caverna eram rugosas, com saliências e fendas que se estendiam como cicatrizes. O chão, coberto por pedras irregulares, emitia um som oco a cada passo que dávamos, como se estivéssemos pisando sobre os ossos de criaturas que haviam perecido ali. No teto, pequenas fissuras deixavam escapar gotas de água que pingavam ritmicamente em poças escuras, criando um som constante que se misturava com o eco distante de nossas próprias respirações. A luz na caverna não vinha de fontes naturais, mas de pedras encantadas incrustadas nas paredes. Suas emanações eram suaves, em tons de verde e azul, mas não traziam conforto. Pelo contrário, pareciam lançar sombras que se contorciam, como se tivessem vontade própria, prontas para nos engolir.

Conforme caminhávamos mais fundo, a sensação de ser observado se intensificava. A caverna não era apenas um espaço vazio e inerte. Era algo mais, algo que parecia vivo, pulsando ao nosso redor. As paredes pareciam se fechar à medida que avançávamos, e o ar ficava cada vez mais denso, como se estivesse sendo comprimido pela própria presença da caverna. Cada pedra, cada fissura, parecia sussurrar algo inaudível, algo sombrio e ancestral, como uma entidade adormecida esperando o momento certo para despertar.

E enquanto tudo isso acontecia ao meu redor, minha mente não parava. Eu me via preso em uma reflexão constante, não apenas sobre o que estava acontecendo, mas sobre o que eu me tornara. O jovem que antes andava perdido pelas ruas de Astaris, tentando lidar com dores de cabeça que não compreendia, havia sido substituído por uma arma viva. Uma força que poderia controlar mentes e manipular realidades. Mas a que custo? Será que ainda havia algo de humano dentro de mim, ou eu estava me transformando em algo mais frio, mais distante, à medida que meus poderes cresciam?

Eu era apenas uma pequena peça dentro da vastidão de algo muito maior. Mesmo ao lado de Draco, eu sentia como se minha presença fosse insignificante. Ele era um ser incomensurável, dotado de um poder que eu apenas começava a entender. Por mais que eu estivesse crescendo em força e habilidades, a verdade era que, ao seu lado, eu ainda era pequeno. Como uma criança à sombra de um colosso. E isso me fazia questionar: quão vasto era o mundo além de Astaris?

Meu conhecimento sobre o mundo vinha de livros—histórias antigas e mapas empoeirados. Astaris, por maior que fosse, não era o mundo inteiro. Eu sabia sobre reinos além, mas eram apenas nomes em pergaminhos, como Torturga, ou terras envoltas em mitos e lendas. Existiam desertos imensos, onde tempestades de areia cobriam cidades inteiras, mares profundos que escondiam civilizações submersas e montanhas eternas, cujos picos tocavam o céu. Mas havia também lugares que os próprios livros tratavam com cautela. Zonas inexploradas, onde o tempo parecia não existir e onde ninguém ousava aventurar-se.

Esses lugares alimentavam minha imaginação. Será que existiam raças tão antigas que seus nomes foram esquecidos? Civilizações tão avançadas que dominaram forças além da magia que conhecemos? Os tomos que eu lia mencionavam impérios que se ergueram até o apogeu e desapareceram sem deixar rastros, como se tivessem tocado segredos proibidos. O que havia além do que eu conhecia? Aquelas terras poderiam abrigar respostas sobre meu próprio destino, ou seriam apenas miragens de um passado perdido?

Por mais que meus poderes aumentassem, eu me sentia limitado pela pequena parcela de mundo que conhecia. Será que algum dia eu poderia ver com meus próprios olhos essas terras distantes, sentir a presença dessas civilizações esquecidas? Ou eu estava condenado a permanecer nas sombras, limitado ao papel que Draco traçara para mim?

A sensação de que havia algo maior em jogo, algo além de tudo que eu conhecia, me assombrava. O mundo era vasto, muito maior do que Astaris, e eu estava apenas começando a entender quão pequeno eu era diante de sua grandiosidade.

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