19- Pesadelo

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Acordei com o coração batendo no peito, como se fosse explodir a qualquer momento. O suor escorria pelo meu corpo, e minha respiração estava descompassada. Eu sabia que estava desperto, mas, quando fechava os olhos, ainda sentia a presença daquela coisa. Aquela criatura, aquela entidade cósmica que vi no meu sonho... não, no meu pesadelo. Sua imagem não me deixava. Era como se o caos ainda estivesse preso à minha mente, como uma cicatriz que eu jamais conseguiria apagar. Mesmo acordado, a sensação sufocante do terror me invadia.

Meu corpo estava fraco, drenado de toda energia. Cada músculo tremia sob o peso de uma exaustão que parecia vinda de dias de batalha. Meus olhos pesados varreram as paredes de pedra simples do quarto em que estava, no vilarejo de Tharbandir. O calor da fogueira do lado de fora parecia distante, como se eu estivesse separado do mundo por uma camada nebulosa de sonhos.

Algo dentro de mim havia mudado depois daquele pesadelo ou da batalha. Era como se uma parte de mim tivesse despertado, mas, ao mesmo tempo, eu me sentia incompleto. Minha cabeça latejava, e os sussurros que sempre ouvi estavam em silêncio. Tentei, com esforço, acessar meus poderes, mas não havia nada. Apenas um vazio.

Tentei me levantar, mas meus músculos recusaram a obedecer. O peso daquele sonho ainda pairava sobre mim. A imagem da criatura – cabeças grotescas, olhos famintos – continuava presente na minha mente. Aquilo não era uma simples criação da minha imaginação. Era um presságio.

Olhei em direção à fogueira através da abertura da porta. Zathor estava deitado, enfaixado e visivelmente exausto após a batalha. No entanto, foi Ariendel quem realmente capturou minha atenção. Sentada próxima às brasas, ela brincava distraidamente com um graveto. O gelo. Vi o fino traço de gelo que se formava ao redor da fogueira enquanto ela desenhava no ar. Druidas não tinham habilidades de manipular gelo.

Me aproximei, lutando contra a fraqueza em meu corpo, e me sentei ao lado dela com grande esforço. O silêncio foi quebrado apenas pelo crepitar das chamas e o vento lá fora.

"Ariendel," murmurei, a voz fraca. "Você percebe o que está acontecendo?"

Ela ergueu o olhar, seus olhos verdes brilhando com uma intensidade que eu nunca tinha visto antes. "Isaac, algo está mudando. Não só em mim, mas em todos nós." Sua voz carregava uma gravidade que não podia ser ignorada. "A batalha contra o hobgoblin... aquilo despertou algo. Algo maior do que nós."

Assenti, absorvendo suas palavras, mas uma inquietação permanecia. Algo não fazia sentido. "Por que você decidiu ficar conosco, Ariendel? Qual o real motivo?"

Ela hesitou por um momento, seus olhos voltados para o fogo, antes de responder. "Há algo que não posso ignorar. Desde que me uni a vocês, percebi que há forças maiores se movendo. Forças que vão além da minha compreensão como druida. O equilíbrio do mundo está em risco, e... se eu não estiver com vocês, temo que estarei sozinha diante dessa tempestade." Ariendel fez uma pausa, a intensidade de suas palavras pesando no ar. "Mas também é por interesse próprio. Vocês são... uma proteção. No meio desse caos, estar ao lado de vocês me dá alguma segurança. Não sei o que nos espera, mas sei que sozinha não sobreviveria ao que está por vir."

Suas palavras ressoaram em minha mente. Uma parte de mim compreendia sua lógica – estar junto significava proteção. Contudo, uma sombra de dúvida ainda pairava. Ariendel tinha seus próprios motivos, e talvez, no fundo, cada um de nós estivesse buscando sobreviver a um destino que parecia maior do que qualquer batalha.

"E o anel?" murmurei, desviando o olhar para minhas mãos. "Onde está o anel?"

Zathor, mesmo em meio à exaustão, ergueu o olhar para mim. "O anel? Não o vi desde a batalha. Talvez tenha se perdido... ou derretido na transformação."

"Derretido?" Ariendel repetiu, a voz carregada de ceticismo. "Isaac, se o anel era tão poderoso quanto você disse, não teria simplesmente desaparecido."

Minha mente trabalhava freneticamente. O anel era uma peça chave. Ele não me dava força, mas ocultava completamente minha presença mágica. Era o que permitia que eu permanecesse nas sombras, invisível aos olhos dos inimigos.

Zathor suspirou, tentando achar sentido. "Talvez... a energia do anel tenha sido absorvida durante sua transformação. Isso explicaria por que você ainda consegue se esconder tão bem, mesmo sem o anel."

Essa hipótese me atingiu como um golpe. Eu não sabia o que pensar. Tudo – o pesadelo, o anel, a batalha – parecia conectado de maneiras que eu não conseguia desvendar. Ariendel me olhou, seus olhos buscando respostas que eu também não tinha.

"Você não está me contando tudo, Isaac," ela disse, sua voz agora firme. "Esse poder que você possui... não é natural. Não foi só o anel, foi?"

Desviei o olhar, sentindo o peso das suas palavras. "Eu... não sei. Há algo dentro de mim que eu ainda não entendo. O anel, a transformação, o que está acontecendo comigo – com todos nós. Algo mudou, algo maior está despertando. E eu não sei se podemos controlar."

O silêncio voltou, pesado e tenso. Ariendel olhou novamente para as chamas, o gelo ao redor da fogueira refletindo o que todos nós sentíamos – uma mudança profunda e inevitável.

"Isaac," Ariendel sussurrou, sua voz suave como o vento. "Você acha que estamos prontos para o que está por vir?"

Eu não tinha uma resposta. O futuro era uma sombra que crescia a cada passo, um presságio do caos que nos aguardava. Fechei os olhos, tentando encontrar alguma clareza, mas tudo que encontrei foi o eco daquela criatura, me observando nas profundezas da minha mente, aguardando pacientemente o momento de seu retorno.

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