Capítulo 2 - Jack (revisado)

7.9K 639 44
                                    

— Jack! Acorde, Jack! - ela chama, me sacudindo. - Está nevando! O lago está congelado. - me viro para ela, seu sorriso é enorme e me contagia rapidamente. - Vamos!

Ela me puxa pela mão, então corremos para fora da nossa pequena casa de madeira. Noto a lareira acesa e por um momento não quis sair, tive uma sensação ruim. Pegamos nossos patins de gelo e os calçamos. Eu disparo em direção ao lago que no verão é perfeito para nadar. Mas preferimos assim, no inverno, é mais divertido. Para aquecer, começo deslizando por toda a sua volta, depois umas duas piruetas.

 Venha, Mary! - ela sempre tem medo de vir, tenho que ir até ela e segurar suas mãos. Quando ela já está no lago, eu a solto e me distancio.

 Não, Jack! Espere!

 Você consegue, Mary. Melhorou muito ano passado.

Com alguns escorregões, ela vem até mim e me empurra, mas sou habilidoso demais para cair. Eu rio de sua expressão marrenta, sabendo que ela não está aguentando segurar a risada. Logo estamos rindo e cantando enquanto giramos de mãos dadas, apertando cada vez mais com receio de escapar e acabarmos no chão, seus cabelos escuros se esvoaçando e suas bochechas coradas por conta do frio.

-Jack! Mary! - mamãe chama. - Saiam daí, começou a nevar ontem, a camada está fina!

 Estamos aqui a um bom tempo, mamãe! Está tudo bem.

 Vocês nem estão agasalhados. - com todo aquele movimento mal dava para sentir o frio. Mas mamãe tinha razão, não devíamos estar ali.

A empolgação é maior e não damos ouvidos. Nesse momento ouço o gelo rachando.

 Corre, Mary! - não há tempo, ela cai primeiro, em seguida eu. Os patins são pesados e afundamos facilmente.

A água é fria e tudo escuro demais. Depois só o que sinto é o vazio.

 Depois só o que sinto é o vazio

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Por isso eu nunca dormia.

Sempre havia o pesadelo, não importava quão feliz eu estivesse, nenhuma noite da minha vida tinha sido tranquila pelo que eu me lembre. Não me lembro de nada do que aconteceu antes de me tornar o que sou. E agora eu sonhava até quando estava desacordado sem querer.

Não entendo porque essas pessoas existem na minha mente, porque me assombram. Não gosto de pensar que aquilo poderia ter sido real, que a garota pudesse ter sido minha irmã, se não lembro de ter vivido isso, não poderia ser culpado pelo que aconteceu. Já me senti muito sozinho, mas não tanto quanto após esses pesadelos, sempre o mesmo. A única pista de quem eu era, ou fui.

Eu estava quase acordando, sentia que não estava embaixo da neve que era onde eu deveria estar. Alguém me fazia companhia e não gostei disso. Senti sua mão se aproximando. Agarrei seu pulso, empurrando seu pescoço com o outro braço e a imobilizando no chão com os joelhos. Era uma garota. Muito loira de olhos azuis como o céu. Meu gesto claramente a tinha assustado, mas eu não me deixaria levar por sua expressão inocente de lábios rosados e faces coradas.

— Quem é você?

— Elsa... meu nome é Elsa. - parei de força-la com o braço percebendo que estava sufocando.

— O que você é? Porque está me vendo?

— Vendo? Acho que porque eu sou como você.

— O quê? - ela abriu a palma da mão e produziu flocos de neve que dançavam levemente enquanto caíam. - Impossível.

— Eu também pensei que fosse. - continuei encarando os flocos caídos. Ela era paciente, não tentou se soltar e nem pediu. Saí se cima dela.

— Me desculpe pelos modos, eu estou tendo uns reflexos estranhos ultimamente...

Minha cabeça estava tão bagunçada quanto a maçaroca de neve que me embalou.

— Não foi nada, eu teria feito o mesmo. - ela sentou-se, seu vestido azul era tão escuro que contrastava com sua pele, não dava para não notar sua beleza. Então vi sangue em sua roupa.

— Você está ferida?

— Ah! Estou bem. - ela cruzou os braços em cima do que eu acho que deveriam ser as mangas de seu vestido. Parecia desconfortável por eu estar olhando. Peguei na barra de meu moletom para tirar. Moletom? Espera, em que século eu estava? Tenho certeza de que...

Não. Eu estava muito confuso mesmo.

— Não precisa, por favor. - ela disse enquanto eu fiquei parado tentando pensar. Corada de timidez.

— Tudo bem. - arregacei as mangas por mania. De onde veio essa mania?

— Então está aqui para ajudar o inverno? Eu posso fazer isso. - ela disse.

— O que quer dizer?

— Você não é Jack Frost?

— Como sabe?

— Eu conheço sua lenda. - ela percebeu que não compreendi. - Há livros em meu pala... em... minha casa. Eu sempre lia para me refugiar, você faz coisas boas com seu poder e eu também queria ser assim, porque até então tudo o que tenho feito é destruir. Olhe no que resultou essa avalanche, nem sei onde estou.

Ótimo, agora enxeridos escreviam sobre mim, certamente todos eram anônimos. Deviam fantasiar demais, pois eu não era tão herói assim. Só deixava a estação mais fria e congelava muito bem os lagos para uma patinação segura. 

— Eu provoquei a avalanche. - admiti, não podia deixá-la se culpar. Ela me olhou incrédula. - Conhece Fadas do Verão? - ela negou. - Bem... elas não são muito amigáveis, são meio "esquentadas" e disseram que cheguei cedo demais. Foi divertido irritá-las até que me lançaram uma maldição. - agora vinha a parte ruim e não queria que Elsa se zangasse, porque estava tão perdido quanto ela. - Quem fosse pego no embalo, viria parar aqui, nesse fim de mundo.

— Ah, não. - ela se levantou e começou a procurar por algo que sabia que não encontraria.

— A intenção era que boa parte daquela cidade viesse também, para que eu tivesse que arcar com as consequências e me sentisse culpado. Mas só há nós dois aqui. - ela estava de costas para mim, houve silêncio - Você vivia lá? - a vi passar uma mão pela bochecha, então se virou.

— Eu me arrisquei para protegê-los, quando na verdade era o seu trabalho! Mas você estava ocupado demais desmaiado.

— Eram cinco fadas! E porque tem esses poderes se não ajuda com o inverno?

— Isso é problema meu! - ela se recompôs, suavizando o rosto. - Não há como ir embora daqui?

— Nunca fui banido, Mas deve haver um jeito. As fadas não me mandariam para um lugar que eu não pudesse voltar, muitas vezes o inverno depende totalmente de mim.

— Hm... Obrigada - ela começou a andar. 

— Aonde vai? - fui atrás. - Deveríamos ficar juntos. - ela suspirou cruzando os braços sobre si.

— Tudo bem, ficaremos juntos.

Sorri. Mas internamente, uma sensação bizarra me corrompia.




__________________________________

Nota pessoal: escrito pela primeira vez um jul/2015

A Rainha e o GuardiãoOnde histórias criam vida. Descubra agora