Capítulo 14 - Jack (revisado)

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Senti uma essência vital me preencher por inteiro. Não acreditava que ainda pudesse estar vivo depois das condições em que a rainha me deixara. Porém, alguma força irracional foi implantada em mim, me sentia em meu corpo jovem outra vez. Abri os olhos, o céu acima era branco de onde a neve caía silenciosamente na destruição adiante. Não tinha ideia do que havia acontecido. Senti que uma de minhas mãos estava sendo segurada, olhei para o lado. A mão de Elsa estava entrelaçada frouxamente na minha perto de seu queixo. Sua respiração fraca batia em meus dedos. Me apoiei num cotovelo e toquei em suas lágrimas congeladas em seu belo rosto. Notei o ferimento em sua coxa, o toquei, mas não consegui curá-lo. A chamei uma vez, mas infelizmente não tive resposta. A peguei em meus braços e coloquei a mão sobre seu peito, se ela me passara sua energia talvez conseguisse lhe devolver. Não. Meus poderes não estavam regenerados ainda, Elsa usara toda sua força para me trazer de volta.

— Porque fez isso?! - reclamei com seu corpo inconsciente. Acariciei seu cabelo, me questionando porque ela era tão perfeita em tudo menos em não se sacrificar pelos outros. Desejei que acordasse.

Trouxe sua cabeça para o meu ombro a aconchegando em mim. Rasguei uma parte de seu vestido que já não estava tão inteiro quanto deveria e enfaixei sua coxa machucada. Olhei ao redor procurando por qualquer coisa, mas estávamos no meio do nada de novo. Como foi que paramos ali? Me sentia meio culpado mesmo que tudo fora planejado pelas fadas e até pela rainha apesar de elas nunca terem trabalhado juntas. Elsa podia estar segura em seu palácio, mas eu a arrastei para minha maldição.

— Jack... - sua voz me acalmava de imediato. Nos afastei minimamente para olhar em seus olhos. Não resisti a um sorriso por vê-la acordada. - Você está vivo...

— Você não tinha que fazer isso...

— E o que faria sem você? Aliás, preciso de ajuda para conseguir nosso guardião de volta. - sua voz estava tão baixa, que se não fosse pelo deserto que estava naquele lugar, não a escutaria de modo algum.

— Você está fraca demais, ir atrás das fadas é suicídio. E mesmo se conseguirmos chegar lá, como saberemos que ele está...

— Não se atreva a dizer isso. - suas lágrimas começaram a descer de novo. - Irei sozinha se você não for comigo, nós o fizemos. Eu jamais abandonaria Olaf assim, então ele também não.

Ela se sentou e se esforçou para ficar em pé. Segurei seus ombros frios.

— É óbvio que vou com você, mas... Não sei se suportaria perder você. - seus braços se agarraram ao meu pescoço, apertei sua cintura - Amo você... - sussurrei.

— Preciso dizer isso também ou não está claro o bastante? - eu sorri e segurei seu rosto para beijá-la.

Nunca tinha me imaginado em uma situação daquelas, em que me apaixonaria por uma pessoa, e precisaria dela pelo resto da vida. Principalmente pela rainha mortal de algum país, eu era apenas o andarilho Jack Frost que fazia travessuras e congelava tudo o que via na frente. O fato de ter criado um guardião com Elsa como se tivéssemos tido um filho me assustava um pouco, era biologicamente impossível que eu pudesse fazer isso porque guardiões não tinham prole, e principalmente porque tínhamos apenas trocado alguns beijos. Mas até nisso fomos manipulados. Fizemos um guardião juntos através de nossos sentimentos um pelo outro, ele poderia ser apenas um bebê indefeso na mão daquelas fadas. Precisávamos resgatá-lo.

De repente senti algo batendo no meu tornozelo, olhei para baixo para encontrar um pequeno boneco de neve cabeçudo. Ele gesticulou chamando a mim e a Elsa. Então ela segurou minha mão e me puxou para iniciarmos nossa caminhada sem saber exatamente se seguíamos para o lado certo. Eu esperava que sim.

Elsa mancava e de vez em quando tinha que se segurar mais firme em minha mão, tentei insistir que devíamos descansar, mas ela negava com autoridade

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Elsa mancava e de vez em quando tinha que se segurar mais firme em minha mão, tentei insistir que devíamos descansar, mas ela negava com autoridade. O bonequinho de neve era desastrado e toda vez que tropeçava se desintegrava em um montinho e Elsa tinha de revivê-lo. Isso a estava cansando também, tinha que fazer alguma coisa.

Peguei o boneco tentando não desmanchá-lo.

— Você pode nos guiar assim? - ele não respondeu, mas suas órbitas vazias me encararam. Então o coloquei sobre meu ombro e não ouvi reclamações.

Andamos por mais algum tempo, não sei exatamente quanto, pois não sabia mais como o tempo passava. De repente senti um tremor abaixo dos meus pés. A neve começou a vir de todos os lados diretamente para nós. Não havia para onde correr, nem poderes para conter a avalanche. Eu e Elsa nos entreolhamos, sabíamos que não íamos morrer. Então ela me abraçou e esperamos.

Senti a claridade e a leve quentura sobre o rosto

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Senti a claridade e a leve quentura sobre o rosto. Ainda havia neve, muita neve por sinal, ao redor de nós. Porém também havia sol. O clima naquele lugar parecia diferente, mais real. Pinheiros espalhados tinham neve que derretia sobre eles. Era o fim do inverno.

Me mexi para tentar sair da neve, Elsa encostada em meu peito não parecia estar acordada. O gelo começou a derreter e senti minhas roupas ainda mais úmidas. Fomos levados pela água lentamente até o chão. Olhei em volta e percebi que estávamos na base de uma montanha, mesmo dali de baixo, sentado no chão, eu podia ver as torres mais altas do castelo de Arendelle. Tínhamos simplesmente saído da fenda do tempo.

Tentei acordar Elsa, mas ela parecia mais fria e pálida que o normal. A peguei em meus braços notando que o sangue em sua coxa tinha aumentado. Iniciei minha caminhada em direção ao palácio. Mas logo que adentrei o bosque dos pinheiros, uma garota apareceu na minha frente a seis metros de mim. Seus cabelos eram curtos e castanhos, os olhos verdes e redondos me pareceu vagamente familiar. Ela colocou um dos pés com botas pretas na frente do outro em posição de... ataque?

Não tive tempo de ver o que me acertou, mas tinha certeza que era feito de ferro.





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Nota pessoal:

Escrito pela primeira vez em 2018/jan

A Rainha e o GuardiãoOnde histórias criam vida. Descubra agora