Não podia acreditar que a pessoa que admirei na infância, nos trouxe para lugar nenhum. Eu não pretendia voltar para casa, mas também não queria estar tão longe, queria fazer visitas em algum momento, sentiria muitas saudades de Anna. Estar naquele vazio era como se estivesse morta. Jack Frost não se parecia muito com o que as lendas descreviam, eu o imaginava um herói bem vestido com uma capa encapuzada e um rosto adulto. Eu sonhava em encontrá-lo para que me ensinasse a fazer coisas boas e ter controle, passei por muita coisa e já o tinha esquecido questionando sua existência, então finalmente o conheço. Também não foi como imaginei, mas ele foi gentil até certo ponto e se demonstrou arisco como eu.
Não queria que ele soubesse quem eu era, nunca conheci um garoto e troquei tantas palavras em tão pouco tempo, porque meus poderes eram ameaça e sempre fui vista como princesinha mimada por quase não sair do meu quarto. Quando me tornei rainha, alguns duques me foram apresentados, já falei mais com os guardas dando ordens do que com eles.
Queria que Jack Frost me conhecesse como eu queria ser. Nada de palácios e monarquia. Apenas eu e o poder que tenho, quem eu realmente sou.
— Você não acha que vai esbarrar em uma saída, acha? Já estamos andando há uns quarenta minutos e o máximo que encontramos foi o olhar um do outro. - ele havia ficado em silêncio até aquele momento, porque não podia continuar?
— Andar me distrai. - não sei porque contei isso a ele. - O que você sugere?
— Procurar pistas de que há algum ser vivo por aqui.
— E faríamos isso parados? - ele se ajoelhou e começou a cavar. Depois de algum tempo, sorriu.
— Ossos.
— Isso é bom?
— Significa que há comida. - ou que o pobre bichinho morreu de fome. Jack tapou o buraco. - Acho que podemos passar a noite aqui.
Eu discordava, não havia sinal algum de animais ou humanos, a não ser mortos. Devíamos andar mais para ver se achávamos alguma árvore diferente, todas eram tão secas e tristes. Me sentei na sua frente e percebi como estava exausta, descansar um pouco seria bom. O céu nublado já estava ficando escuro, eu dormiria naquele instante, mas não achei adequado. Fiquei remexendo na barra ensopada de meu vestido, distraída.
— Você é da realeza. - disse de repente, o encarei.
— Porque acha isso?
— Você age como alguém que é.
— Está enganado. - ele esticou o braço e arrancou o colar que eu tinha em meu pescoço. - Ei!
— Então você roubou isso. - tentei pegar, mas ele ergueu a mão.
— Eu ganhei!
— Da rainha? - outras tentativas inúteis minhas de pegar o colar.
— Eu sou a rainha! - escapou, eu estava irritada. Ele sorriu totalmente radiante por eu ter admitido. Então se levantou e fez uma reverência graciosa, para o meu espanto.
— Mil perdões, vossa Majestade. - ele estendeu o colar, o tomei de sua mão.
— Compreendo por que as fadas te mandaram pra cá. Você é muito chato.
— No fundo vocês gostam.
O ignorei e passei o dedo pela pedrinha de diamante que havia no centro do pingente de floco de neve, peguei mania disso desde que Anna me dera. Ela o encontrou em um baú no quarto de nossos pais e o mandou para polir. Era lindo e não tirei desde o dia em que coloquei pela primeira vez.
— Tem valor sentimental pra você? - ele estava sério agora, não sabia responder, o ganhei havia pouco tempo, mas era como se sempre tivesse feito parte de mim.
— É... um pouco.
— Também sou apegado ao meu... ah, não! Meu cajado! - ele grunhiu com as mãos no rosto e se deixou cair no chão. - Malditas fadas! - murmurou.
— Cajado? - não tinha isso nas lendas.
— Era um bom amigo. Era a única coisa que eu realmente tinha além de minhas roupas, eu vivo viajando. - parecia divertido.
Viver sem compromissos, caçando o próprio alimento. Porque meu destino foi ser rainha? Ficaria muito feliz de ajudar o inverno onde quer que ele precisasse estar. Me deitei também, pensando na possibilidade.
— Você gostaria? - perguntou notando meu sorriso. Assenti olhando o céu, as nuvens estavam menos carregadas, pude ver a lua atrás delas, mas logo desapareceu. Minhas pálpebras estavam fechando sem minha vontade. - Pode dormir se quiser, farei a vigília para que não sejamos atacados pelo nada.
Não discuti, apenas me deixei levar pelo sono.
Ouvi meu nome ser gritado duas vezes, mas me recusei a acordar.
— Elsa! - então abri os olhos e me vi caindo de cabeça em um abismo. Minha cintura foi agarrada e soltei um grito estrangulado. - Elsa, me de sua mão. - olhei para cima e vi Jack, aflito.
Me esforcei para alcançar sua mão, então ele me puxou e caímos um por cima do outro na neve.
— Você não deveria estar vigiando? - ofeguei.
— Fui dar uma volta.
— Porque... - olhei em volta, tudo estava diferente, atrás de nós havia pinheiros e a nossa frente o abismo. - Porque estamos aqui?
— A paisagem se modificou. Temos que sair daqui, porque acho que sua modificação não terminou. - concordei e me lembrei do colar, o vasculhei pelo chão e segurei firme quando encontrei. - Vamos.
Nem demos o primeiro passo e um terremoto derrubou Jack em mim. A beira do penhasco começou a desmoronar e rachar, ele já de pé outra vez, agarrou minha mão e começamos a correr para além dos pinheiros.
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Nota pessoal: escrito pela primeira vez em jul/2015
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A Rainha e o Guardião
FanfictionElsa de Frozen e Jack Frost de A Origem dos Guardiões se encontram em uma nova aventura congelante, eles são pegos por uma maldição que dura por dias, trazendo conflitos e fraquezas. Eles só querem voltar para casa, mas de acordo com um destino, aca...