Agarraram Elsa com as mãos tão quentes que deixaram marcas em seus braços, a levando para um corredor escuro. A casa parecia muito maior por dentro. Também me trouxeram para a saleta, não tinha mais meus poderes para me defender, totalmente vulnerável, me sentei onde mandaram.
— O que vão fazer com Elsa?
— Não se preocupe com ela agora... - disse uma das fadas, ouvi um grito estrangulado, me levantei, mas me forçaram a sentar de novo.
Ela colocou a mão na minha testa e então, apaguei.
Tive vislumbres de um bebê nascendo a partir de um floco de neve. E depois me vi outra vez no pesadelo em que me afogo no lago. O bebê sorria para os outros flocos que caíam, alguns iam para sua boca e isso parecia alimentá-lo. Era independente, nasceu para ficar ali. Mas então tudo a sua volta começou a derreter, uma Fada do Verão a pegou com raiva. Você não deveria existir, criatura fria, o fogo predomina aqui. A fada a levou para um castelo brilhante onde encontrou outras fadas amarelas.
— O que faremos com ela? Não há meio de matá-la, é imortal.
— Poderíamos levá-la a uma família, para ser criada como humana, antes que crie uma consciência e uma população como a nossa.
— Não. - falou a fada que emitia tanta luz que mal podia enxergar seu rosto - Vamos atacá-la para que ela se congele como autodefesa e a esconderemos no cofre do Sol.
...
— Majestade! Acabo de ver outro guardião nascer. - uma fada esbaforida entra no palácio.
— Como?
— Foi escolhido pela lua. Ele saiu de um lago e está congelando tudo o que fizemos. É um garoto, já na adolescência. Devemos capturá-lo? - a rainha pensou por um instante.
— Não, se fizermos isso, vamos irritar a Lua. Temos que agir devagar. Vamos amaldiçoá-lo quando o quinto espírito escolher seu próximo corpo. Eles se apaixonarão, assim teremos controle sobre os dois. Poderemos finalmente exterminar o inverno.
— Não! - gritei me levantando.
Agora eu estava em algum lugar escuro, mas em uma cama macia e havia cobertores em mim. Localizei claridade através de uma cortina, as puxei e olhei para fora. A neve caía calmamente. Mas não queria saber onde estava, queria encontrar Elsa.
— Jack! - aquela voz... - Acorde, Jack! - a garotinha abriu a porta e eu paralisei. Como eu poderia estar ali? Ainda estava sonhando?
— Não é possível...
— Eu também não estou acreditando! Vamos logo - Mary estava na minha frente e era completamente real. Ela sorriu e pegou minha mão. Não me mexi. - Jack, você está bem?
— Preciso achar Elsa. - saí correndo da casa vendo a lareira acesa na sala.
— Mas quem raios seria Elsa? - Mary também veio e com os patins de gelo na mão. - Nunca vi você falando com nenhuma garota da vizinhança.
Minha memória voltou aos poucos. Mary era minha irmã, meus pais eram pobres. Eu vivia trabalhando com meu pai para termos o que comer, por isso eu não tinha tempo fazer para amigos.
Senti náuseas, aquele não era o lugar que eu vivia, minha memória estava ampliada, vivi mais tempo que o meu corpo humano aguentaria. Como se nada do que fiz como guardião tivesse acontecido, não passara de um sonho. Mas Elsa... ela nem tinha nascido naquele tempo. Me joguei de joelhos na neve. A última vez em que minha mente foi tão manipulada, foi quando Breu me atraiu para onde estava mantendo as Fadinhas do Dente presas em gaiolas. Se eu me lembro de isso ter acontecido e sabia naquele momento que Elsa era uma rainha do século XIX, então não estávamos presos em uma maldição. Estávamos dentro de uma fenda no tempo.
Coloquei as mãos na lateral da cabeça, achando que poderia explodir.
— Jack, porque está tão triste? Está nevando e podemos patinar, se você quiser podemos chamar essa tal Elsa.
A voz de Mary me irritava, agora que sabia que ela não morreria, porque eu estava ali para impedir. Tudo que eu queria era não ter sido escolhido.
— Tudo bem, eu vou sozinha. - quando ela passou por mim, puxei os patins de sua mão.
— O lago não está totalmente congelado, não deve ir agora.
— Está parecendo a mamãe falando assim.
Voltei para dentro da casa que não considerava mais minha e me sentei em frente à lareira para pensar.
Aquilo devia ser uma ilusão, eu não estava ali de verdade. Precisava descobrir um meio de acordar ou tentar sair dali e ir encontrar a fenda do tempo que as Fadas do Verão estavam usando. Podia tentar convocar uma delas, mas não sei se elas me reconheceriam ou achariam estranho o fato de um desconhecido chamá-las.
— Jack, onde está Mary? – uma mulher interrompeu meus pensamentos.
— Mãe...? – olhei para ela um pouco mais, queria me lembrar de seu rosto quando saísse dali.
— Onde está Mary?
Olhei pela janela já dizendo que ela estava logo ali, mas não estava. Saí correndo da sala e me deparei com ela criando coragem para ficar em pé no lago congelado.
— Ei, Mary. - a puxei pelo braço. - Não deveria estar aqui.
Ela começou a resmungar enquanto eu a levava para dentro. Aquela sensação de recomeço era boa, mas Elsa continuava em perigo em algum lugar no mundo e no tempo. Eu não poderia viver ali para sempre e esquecer dela.
— Você está muito chato hoje.
Ignorei o comentário de Mary e fui para o quarto, eu ainda precisava pensar. Talvez estivesse sendo cruel, não me importava com o que deveria, mas me fizeram ser assim.
De repente, um homem apareceu na porta. Meu pai.
— Vamos até a cidade vender o resto das avelãs? - me lembrei de que éramos comerciantes e sobrevivíamos da venda daquelas avelãs. Eu não tinha escolha, senão concordar.
Andamos até um celeiro carregando os três sacos de avelãs. Engatamos o cavalo na pequena carroça, coisa que eu parecia saber fazer desde que nasci.
O caminho era longo e andamos pelo que parecia a eternidade, eu já a tive e sabia que ela poderia durar séculos ou até mesmo um segundo. Meu corpo não estava aguentando, era fraco, preferia ser um guardião. Eu relembrava a visão que me mostraram, quem era aquele bebê? Seja lá quem fosse, tinha mais séculos que eu. Mas também era inocente, nada do que fizeram com os seres do inverno foi justo, não escolhemos aquilo.
Se aquilo não passasse de um sonho, eu fui parar ali desmaiando. Então para voltar e acordar, eu deveria dormir de novo. Era o que eu faria quando voltasse, entraria no lago, me afogaria de novo.
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Nota pessoal:
Escrito pela primeira vez em 2015/out
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A Rainha e o Guardião
FanfictionElsa de Frozen e Jack Frost de A Origem dos Guardiões se encontram em uma nova aventura congelante, eles são pegos por uma maldição que dura por dias, trazendo conflitos e fraquezas. Eles só querem voltar para casa, mas de acordo com um destino, aca...