Capítulo 10 - Jack (revisado)

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Minha família dormia. Me senti culpado pelo que estava fazendo, mas aquele não era meu lugar. Não depois que morri. O que estava vivendo ali poderia não ser real e não passaria de uma lembrança. Melhor assim.

Estava nevando, eu tremia e meu coração palpitava. Esperava que eu não estivesse me matando de verdade. Iria dormir ali, mas deveria acordar do outro lado. Era arriscado, mas por ela eu tentaria, se morresse seria por que não havia meio de voltar para vê-la. Então isso era o certo. Certo?

Caminhei até o lago e tirei os sapatos. Com o martelo que encontrei, trinquei a camada de gelo e a quebrei, fazendo um buraco do meu tamanho. Entrei no lago, obviamente pegando uma hipotermia. Ainda estava prendendo a respiração, me deixei levar ao fundo até o buraco lá em cima não passar de uma lua mal feita.

Então deixei a água entrar em minhas narinas e o afogamento me consumir.

Então deixei a água entrar em minhas narinas e o afogamento me consumir

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Ar. Eu precisava de ar. A superfície me esperava e eu a queria. Emergi arfando. Aquele não era o lugar que eu esperava estar. Não havia lago. Nem neve. Nem mesmo lógica racional. Eu me encontrava em uma banheira de um quarto assustadoramente branco. Sem portas ou janelas. Não acreditava que tivesse dado certo, que poderia achar Elsa e resgatá-la das fadas.

Senti meu poder voltar para mim e criei uma perfuração na parede para que pudesse olhar através dela. Do outro lado vi luz, uma luz quente e ofuscante, mas não era fogo. Sem nenhuma fada à vista, derreti o restante da parede de gelo para que eu passasse, prossegui meu caminho que não sabia onde iria dar. Estava tudo iluminado, não era uma casa, parecia uma caverna.

Corri por alguns minutos sempre em frente. Logo adiante localizei uma fada robusta. Estava com tanta raiva daquelas criaturas que parti imediatamente para o ataque. Ela rosnou pra mim e antes que pudesse me lançar seus poderes, atingi seu peito com uma rajada de gelo. Ela não morreria, mas sei que a sensação deveria ser horrível ao penetrar em seu coração.

De repente, cheguei a um porão. Havia uma escada que levava a uma portinhola aberta, subi por ela e saí em um dos corredores da casa. Estava vazio, mas ouvi passos se aproximando, me escondi atrás de uma parede. Foi burrice, pois lá encontrei mais três. Pensando rápido ergui uma parede de gelo e saí correndo.

Notei alguns pontos mais frios no corredor e diminui o passo tentando sentir melhor. Aquela temperatura só poderia significar que Elsa estava por perto. Toquei uma parede que estava gelada e instantaneamente ela começou a tremer e a rachar abrindo uma porta. Lá dentro não estava muito claro, mas logo vi Elsa jogada no chão e uma outra mulher que quando me olhou, senti sua ternura. Mas suas palavras me fizeram perder qualquer esperança.

— Você chegou tarde, Frost.

— Não... - me aproximei de Elsa e me ajoelhei ao seu lado.

Ela estava viva, mas sua respiração era fraca. Estava tão magra e suas bochechas não estavam mais rosadas. Seus cabelos pareciam mais compridos que desde a última vez que a vi.

— Ei, Elsa... - acariciei seu rosto - Eu estou aqui...

— Ela não irá acordar. - disse novamente a mulher.

— O quê...?

— Está assim desde que o guardião nasceu.

— Guardião? - a encarei.

— Seu filho, Frost. Aliás, as fadas o pegaram... Como disse: você chegou tarde.

— Como é?! Elsa teve um bebê?

Impossível, como pude ter demorado tanto para perceber que poderia voltar? Como poderia ainda estar vivo se quando me congelaram estava completamente humano? E agora descobria que Elsa havia sofrido esse tempo todo e tido uma criança? Eu tenho certeza que me lembraria se tivéssemos concebido uma criança, todos nossos beijos estavam vivos em minha memória.

— Tenho que tirar vocês daqui. Onde está esse... essa... o novo guardião?

— Ele já deve estar muito longe, não adianta procurá-lo.

— Vou precisar carregá-la, você tem poderes para nos defender?

— Suficiente para congelar algumas fadas.

— Ótimo, então vamos.

Tomei Elsa nos braços e fomos à fuga.

Quase não conseguimos passar pela porta, pois estava pegando fogo e corria o risco de machucar Elsa

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Quase não conseguimos passar pela porta, pois estava pegando fogo e corria o risco de machucar Elsa. Todas as fadas acabaram congeladas com uma expressão de fúria estranha. A floresta à nossa frente era escura e fechada, mas não tínhamos outra direção para correr.

Resolvemos parar apenas quando não era mais possível ver a casa resplandecente das fadas.

Deitei Elsa no chão com sua cabeça em meu colo. Tirei seu cabelo de seu rosto, estava meio chamuscado, mas ela não estava ferida. Apenas desejei que ela acordasse ou sentisse que eu estava ali. A mulher de cabelos platinados desabou ao nosso lado, parecia esgotada.

— Vai me dizer quem é você?

— Rainha do Inverno. Eu devia ser a guia de vocês, mas estive presa esse tempo todo no covil das Fadas do Verão.

A rainha me encarava, a única coisa que eu enxergava eram seus olhos prateados. Me virei novamente para Elsa, devíamos cuidar dela.

— Você não pode fazer nada por ela? – perguntei.

— Me desculpe, mas não tenho poderes medicinais.

Eu não sabia o que fazer, só conseguia curar e Elsa não precisava disso. Me recostei na árvore e fiquei acariciando os cabelos dela. Deveríamos continuar a caminhar pela manhã. Descobrir como sair da fenda do tempo amaldiçoada.

Depois de um tempo a rainha disse que iria dar uma olhada no perímetro onde estávamos. Permaneci ali e logo Elsa despertou lentamente. Assim que seus olhos encontraram os meus ela começou a chorar em desespero.

— Não! Você não é real! Cansei de ter você em meus sonhos... - Ela cobriu os olhos com as mãos.

— Não, Elsa, sou eu. - tirei suas mãos e segurei seu rosto para que ela visse que não estava sonhando. - Eu estou aqui. Nós conseguimos, podemos tentar ir para casa de novo.

Não sei se fora boa ideia, ela chorou ainda mais e negou com a cabeça.

— Eu perdi todas as esperanças, já tinha aceitado que você jamais voltaria. Nós... nós temos um... Eu nem sei como te dizer isso...

— Eu sei, eu só não compreendi como...

— A rainha disse que o criamos por causa das circunstâncias. Ele foi extraído de mim, de meus poderes, mas carregava uma parte sua. É como se fosse um filho nosso.

— Um filho...

Elsa chorou em meu ombro, eu a abracei tentando assimilar tudo, nem conseguindo imaginar o que ela passou. Limpei suas lágrimas e beijei sua testa mantendo nossas cabeças encostadas.

— Não faça isso de novo, não me deixe...

— Não pretendo deixar isso acontecer.


A Rainha e o GuardiãoOnde histórias criam vida. Descubra agora