Nós não lutamos nossa batalha. Não era de meu feitio estar tão preocupado, mas certa histeria estava nos cercando quando Rapunzel estava demorando muito tempo para voltar. Eu não sabia como o tempo passava lá, mas para nós em Arendelle já tinham se passado três dias.
Não fiquei no castelo por muito tempo, aparecia lá quando sabia que Elsa queria falar comigo e na maior parte do tempo eu ficava nos telhados ou simplesmente andava pelas ruas, observando pessoas discretamente, porque agora elas me viam. Como um humano. Eu não conseguia mais voar, mas ainda era um bom escalador.
O ambiente era estranho demais para mim. Eu nasci em uma vila pobre e por todos aqueles anos vivi na simplicidade. Não queria que um motivo bobo assim fosse minha desculpa para poder me afastar do que tinha medo. Mas além de tudo eu me sentia deslocado ali. Humano? Filho? Eu não servia mais para ser um ser comum. Apreciava minha liberdade.
De repente ouvi Elsa me chamando com urgência. Desci do telhado e cheguei até a sacada do quarto gigantesco. Ela estava totalmente recuperada e obviamente linda em seu vestido longo. Notei que ela estava ofegante também como se tivesse subido toda a escadaria do castelo correndo desesperadamente, de fato ela devia ter feito isso. Ela respirou fundo para recompor a postura de rainha com elegância.
— Rapunzel voltou...
Foi minha vez de respirar fundo. Tomei a mão fria de Elsa com a minha e juntos começamos a descer as escadas devagar, nervosos. Semsaber o que esperar do encontro.
Chegamos ao grande salão principal, estava acostumado a viver em grandes espaços, mas nunca conseguiria deixar de admirar quanto espaço a realeza tomava para si.
Rapunzel estava parada em frente as portas principais, sem segurar nenhum bebê nos braços, sua expressão não me transmitiu sentimento. Anna a alguns passos torcia as mãos apreensiva. Senti Elsa apertando minha mão e apertei a dela também quando Rapunzel deu um passo para o lado revelando uma pequena figura encapuzada atrás dela.
Mãos sem cor se ergueram do manto e tiraram o capuz. Elsa levou a mão ao peito, eu tentei não parecer tão surpreso, não queria que a criança de gelo se sentisse rejeitada por nós.
O pequeno Guardião, que também tinha sido criado por mim, olhou para Rapunzel, ela sorriu como resposta. Começamos a nos aproximar devagar e Elsa soltou minha mão para se abaixar diante da criança. Havia lágrimas escorrendo por suas bochechas, a criança não parecia ter expressão, mas eu podia sentir que tinha emoções. Ela esticou as mãozinhas de gelo e tocou as mãos de Elsa, depois o rosto, congelando as lágrimas dela. Elsa sorriu e abraçou a criança.
Me abaixei ao lado dela, ainda com receio. Aparentemente Elsa também não sabia o que dizer.
"Eu sei quem são vocês."
Quase caí para trás ao ouvir a voz na minha mente.
"Me libertem, por favor."
— O que? - Elsa perguntou e lançou um olhar para mim para ter certeza de que eu estava ouvindo também. Assenti para ela.
"Minha existência dói."
— Mas... Você é nosso guardião.
"Apenas vocês podem desfazer o que sou. Por favor."
Elsa chorava muito agora e por vê-la assim eu também chorei.
— O que ele quer dizer? - perguntei.
Elsa olhou tristemente para mim e compreendi. A criança de gelo retirou o manto exibindo seu corpo transparente. Eu não queria tocá-lo, pois sabia que não gostaria do que estava prestes a acontecer. Apesar dos meus medos, queria que tudo pudesse ser diferente.
A criança se aproximou de nós e Elsa tomou a iniciativa de abraçá-lo primeiro. Ainda cheios de lágrimas, eu os envolvi em meus braços, abraçando as pessoas mais próximas de chamar família que pude ter em séculos. O abraço era frio porém caloroso de amor. Eu senti o Guardião se tornando menor.
"Será melhor para todos nós. Vocês ainda têm muito a descobrir."
Então em alguns segundos Elsa e eu não estávamos abraçando mais nada a não ser um ao outro. Ela se agarrou a mim, e eu a ela. Eu questionava tudo o que tinha acontecido até ali, porque o destino resolvera brincar conosco daquela forma. Juntando-nos, nos fazendo criar uma semi vida de gelo, nos fazendo perdê-la tão facilmente.
Não havia muito a ser feito, meu peito doía de forma que eu desejava não soltar Elsa nunca mais. Ela me acalmava tanto. Anna se aproximou e se abaixou para abraçar as costas de Elsa, assim como senti Rapunzel se juntando ao abraço abraçando minhas costas. Por mais desconhecidas que elas fossem para mim, foi reconfortante em cada segundo até mesmo quando senti gravetos em forma das pequenas mãos do boneco de neve vivo, Olaf, nos abraçando também. Ele me assustava um pouco, mas não estava em tempos de recusar afeto. Nossa criação de gelo havia desparecido por completo.
O chão molhado de repente pareceu brilhar de um jeito diferente, a água tocava em minhas roupas, umedecendo meu joelho. Foi então que senti o gelo se intensificar e uma mensagem clara apareceu em minha mente.
Eu sabia o que aquilo significava e o real motivo do porque eu não pertencia aquele lugar. A principio, só o que vi foi o rosto da Fada do Dente e suas penas esverdeadas de beija-flor.
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A Rainha e o Guardião
FanfictionElsa de Frozen e Jack Frost de A Origem dos Guardiões se encontram em uma nova aventura congelante, eles são pegos por uma maldição que dura por dias, trazendo conflitos e fraquezas. Eles só querem voltar para casa, mas de acordo com um destino, aca...