Capítulo 4 - Jack (revisado)

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Corremos por longos minutos, tudo estava desmoronando e tínhamos perdido todo o fôlego. Fomos derrubados duas vezes, mas nunca soltando nossas mãos. Deveríamos permanecer juntos, pois separados seria chato, eu não teria ninguém para atormentar. A paisagem estava estranha, parecia um pântano congelado e pântanos são úmidos, isso significava que todo o chão em que estávamos pisando era água congelada coberta por outras camadas de neve. Não gostei nem um pouco daquilo, já ia dando passos para trás quando Elsa, de repente, soltou minha mão e caiu à frente. Ela ofegava muito, mas eu já estava melhor por termos parado. Me ajoelhei ao seu lado.

— Não tem costume de correr, não é, majestade? - ela me olhou semicerrando os olhos, não sei se foi uma careta pra mim ou se ela não estava bem mesmo. - Acho que podemos descansar aqui, se tudo não resolver desabar.

Ela concordou e continuou deitada ofegando. Eu já estava com medo de ela criar uma crise de asma, mas aos poucos ela se acalmou e pôde se sentar.

— Acho que nunca corri tanto.

— Está melhor? - ela assentiu. - Está com fome?

— Muita. - ela não parecia contente em admitir.

— Eu vou procurar alguma coisa, fique aí.

— Agradeço.

Olhei cada árvore, cada arbusto, o chão, o céu. Por, talvez, quase meia hora. E não havia nada, simplesmente nada comestível. Quando voltei, Elsa não estava mais lá. Só encontrei sapatos e um buraco na camada de gelo.

— Elsa! - me debrucei na beirada. Meu único pensamento é que ela havia morrido afogada. Então ela apareceu na superfície com o rosto muito próximo ao meu.

— Te assustei?

— Não... eu só pensei... - ela riu. - Não encontrei nada. - mudei de assunto. Ela ergueu a mão com um peixe espetado em uma vareta de gelo.

Logo estávamos assando os peixes que ela pegou, pois eu tinha medo de entrar naquela água, fizemos a fogueira bem longe para não derreter tudo. Eu fui procurar um tipo de erva que era um ótimo tempero, era resistente ao inverno e crescia na neve. Aquilo quase deixou nosso peixe parecido com o que faziam no palácio, pelo menos foi o que Elsa disse.

De repente, tudo escureceu, a lua já estava de volta e começou a chover.

— Fala sério... - murmurei comigo.

Os dias seguiram assim, com climas absurdos, mais terremotos e quase fomos levados por um furacão

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Os dias seguiram assim, com climas absurdos, mais terremotos e quase fomos levados por um furacão. Perdemos a noção de tempo, era dia ou noite em qualquer momento, não sabia dizer quantos dias estávamos ali. Fugimos e nos escondemos, chegamos a encontrar um urso hibernando em uma caverna, mas ficamos felizes por encontrá-lo. Eu me perguntava se aqueles animais realmente existiam ou só apareciam ali naquela realidade paralela.

Em uma noite, o ar estava abafado, eu e Elsa respirávamos com dificuldade, criaturas do gelo como nós não suportavam o calor. Elsa me disse que quando era verão em Arendelle, ela não saia do palácio, pois o sol ardia sua pele e a deixava fraca. Nunca vivi no verão e não queria passar por essa experiência, e se eu derretesse?

Comecei a sentir sono, mas eu nunca sentia, sempre consegui me manter acordado. Cambaleei ao lado de Elsa, tentando me apoiar em alguma coisa, não era possível que estivesse passando mal por um tempinho abafado.

— Jack, você está bem?

— Claro... - dei dois passos e caí de joelhos.

— É melhor pararmos aqui. - ela me levou (me arrastando) até uma árvore para encostarmos. Elsa tentou congelar o ar à nossa volta, mas evaporou facilmente. Ela olhou pra mim.

— Ficaremos bem. - ela se aconchegou em meu ombro.

— Posso vigiar dessa vez?

— Não.

— Mas quando é que você irá dormir?

— Eu não durmo, Elsa. - acho que respondi grosseiramente, ela ficou em silêncio. - Tenho pesadelos e não gosto deles.

— Eu poderia cantar para você, assim talvez dormiria melhor.

— Acho que não. - na verdade, eu queria, mas não achei justo, ela sempre estava cansada, e talvez não sobrasse fôlego para que ela respirasse.

Mas Elsa começou de repente.

♫ Há memórias no lugar
Onde o vento encontrar o mar
Durma logo e verá
O rio te leva a se encontrar

Suas águas vão trazer
Os segredos que você não vê
Siga sua intuição
Pra não perder a direção

A voz de longe irá soar
E te alcançar onde estiver
Não deixe o medo atrapalhar
A enfrentar o que o rio trouxer

Há memórias no lugar
Onde a mãe sempre vai lembrar
Lembre disso ao me chamar
E ao se perder, vai se encontrar ♫

A canção era calma, a voz dela era tão suave que logo eu não estava mais consciente.

Os pesadelos não me atormentaram, dormi tão profundamente que foi como entrar em coma

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Os pesadelos não me atormentaram, dormi tão profundamente que foi como entrar em coma. E devia ter entrado mesmo, pois Elsa estava... me beijando? Coloquei a mão em seu braço. Ela se afastou.

— Elsa...

— Me desculpe, Jack. Tentei te acordar de várias maneiras, mas você nem estava respirando.

Olhei a minha volta. A paisagem estava horrível para um padrão friolento. O sol brilhava com entusiasmo, havia árvores com folhas e borboletas voando, mas havia pouca umidade, aquela mudança de clima não me fez bem. Meus lábios estavam frios e secos, eu estava suando, em que dimensão isso poderia acontecer? A preocupação nos olhos de Elsa me deixou desconfortável.

— Estou bem agora. - mentira, eu sentia que ia voltar a dormir a qualquer momento.

— Você precisa se proteger do sol, já está ficando vermelho. - ela puxou o touca de meu moletom sobre minha cabeça.

Olhei para ela por um segundo a mais do que deveria e sorri. Ela aparentemente decidiu ignorar minha gratidão.

— Precisamos procurar um lugar frio. Está em condições de andar? - me levantei, uma tontura me pegou e Elsa tentou me segurar meio em um abraço.

Começamos a caminhar seguindo os rastros de gelo, Elsa tentava provocar nevascas, mas o próprio ambiente parecia não deixar. Sentia minha pele queimar, tive que abaixar as barras de minha calça e parávamos de árvore em árvore com sede de uma sombra. Andamos por muito tempo até todo o gelo ter desaparecido e eu ter desabado no chão.




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Nota pessoal: escrito pela primeira vez em jul/2015

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