Kapitel XIX

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O barulho de algo caindo chama minha atenção, olho para trás vendo Lucan agachado pegando as anchovas que o mesmo derrubou. Olho ao redor brevemente, buscando pela Wanda que logo virá gritando aos quatro ventos sobre a falta de atenção do homem, mas nada acontece. O silêncio dela estranhamente é mais perturbador que o silêncio sepulcro que se instalou depois do som da bacia caindo.

Estranho.

Volto a mexer o molho de tomate, deixando isso para lá. Pelo menos por agora.

Quando Gilbert disse que eu devia focar nas nossas aulas, eu levei isso a sério, sério o suficiente para por em segundo plano minha pequena investigação e dada as circunstâncias cada vez mais estranhas, principalmente o comportamento de outros para comigo, deduzo que o melhor seria eu continuar cavando essa história cada vez mais, mesmo que todos que eu conheça e sabem disso tenham falado para eu deixar quieto e viver minha vida — não nessas exatas palavras, mas nesse exato sentido.

Lucan aparece do meu lado, lhe dou um sorriso reconfortante que é correspondido com um mostrar de dentes nada sincero. Ele fica parado ali, olhando para a panela a nossa frente, como se inspecionasse meu serviço, o que confesso, me deixou um tanto nervosa.

— Seu vestido tem bolsos? — Ele sussurra em meu ouvido.

Franzo a sobrancelha, confusa, antes de respondê-lo:

— Não. Vestidos não tem bolsos Lucan!

Ele murmura algo em resposta, mas não entendo o que é.

— Eu tenho algo para te dar, mas não posso por no seu quarto porque seria impróprio — o olho de canto, desde quando ele se importa com o que é próprio ou não? — Pensei que pudesse deixar em algum bolso seu.

Limpo as mãos no avental e estendo a esquerda para ele.

— Vamos, me dê, eu arranjo um jeito de guardá-lo depois.

O moço da um passo para trás.

— É algo que exige uma certa discrição.

O que esse homem vai me dar? Uma maça¹ sem cabo?

— Depois do jantar vá para o corredor que interliga as alas femininas e masculinas. Pode me entregar lá.

Ele arregala os olho.

— Sabe desse lugar?

— Valter não foi muito discreto para me mostrar aquele espaço. Só que eu achei perturbador saber que vocês tem acesso fácil para nosso lado.

— Aquilo quase não é usado, é mais Poloma e Peter que ficam ali jurando que não sabemos.

Deixo uma exclamação escapar pelos meus lábios e depois rio um pouco inconformada, um pouco surpresa pela notícia.

— Por essa eu não esperava.

— Acredite, ninguém esperava. Não eles dois.

— Por quê? Se odiavam? — Pergunto curiosa — eu amo histórias assim, viver elas deve ser um saco, mas lê-las é uma experiência incrível.

Lucan ri.

— Não exatamente. Peter era carrasco, foi ele que — ele passa o dedo pelo pescoço indicando um corte no pescoço — a mãe dela.

A colher com qual mexia o molho escorrega de meus dedos e mergulha na panela como um corpo sendo jogada no líquido, fazendo um "pluft" satisfatório. Arregalo os olhos, um pouco mortificada, um pouco feliz, um sentimento esquisito devo dizer. Pisco diversas vezes reorganizando as palavras na minha cabeça, mas todas elas alternativas parecem estranhas.

Como Uma RainhaOnde histórias criam vida. Descubra agora