Phellipe
Acordo, faço tudo o que preciso e desço já vestindo o uniforme. O dia hoje promete. Tem um trabalho individual pra apresentar e eu tô muito ansioso! O tema foi livre e eu vou falar sobre a comunidade LGBTQIAPN+. A apresentação vai acontecer no pátio pra todos os alunos da escola. O propósito é passar informações pra o maior público possível.
Chego à escola e vejo a Susy de longe. Vou até ela e lhe dou um abraço rápido. Ela estava tão ansiosa quando o eu. Passou uns 10 minutos andando pra lá e pra cá repetindo suas falas. Eu apenas revisei um pouco as minhas. Até que o Rafael chegou e me surpreendeu com um abraço.Rafael - Bom dia, cachinhos. - diz animado.
- Bom dia! Qual o seu tema, mesmo? - pergunto e ele sorri.
Rafael - Você tá obcecado com esse trabalho, carinha. - diz balançando a cabeça negativamente.
- É que é a primeira vez que eu vou fazer um trabalho sobre algo que eu realmente sei o que eu tô falando. Esse trabalho é sobre mim! Esse trabalho fala sobre o que todo um povo teve que passar pra que eu tivesse essa voz hoje e isso me deixa muito animado! - explico melhor sentando de frente pra ele.
Rafael - Eu te entendo. Você vai chegar lá na frente, vai falar tudo isso que você preparou, vai conseguir a atenção de todos e vai ser a melhor apresentação de todas. - diz me encorajando.
- Até parece que todos dessa escola ligam pra essa causa. - digo sendo realista. - A grande maioria vai apenas dizer que eu só sou um gay militante e pronto. Alguns daqueles seus amigos são os primeiros. - digo e ele coça a nuca.
Rafael - Bom, eu não posso prometer que os outros irão prestar atenção na sua apresentação, mas eu vou. Prometo. - diz me arrancando um sorriso bobo.
Merda! Como ele pode ser tão gato?! Esse sorriso dele me deixa besta. Eu simplesmente não consigo parar de sorrir perto dele.
Susy - Qual o seu tema, Rafael?
Rafael - A história do futebol. - diz e ela revira os olhos. - O que foi?
- Que hétero normativo! - digo franzindo as sobrancelhas.
Rafael - O que vocês queriam que eu falasse? Isso é tudo o que eu sei fazer. - diz nos olhando confuso.
- Não se resuma a uma coisa tão sem importância, Rafael. Você sabe fazer muita coisa. - digo e a Susy concorda.
Susy - Você é bom em exatas.
- Você sabe cozinhar.
Suzy - Você é simpático.
- Você tem muitas qualidades, Rafael. O futebol é pouco perto disso. - digo e ele sorri.
Rafael - Valeu, gente, mas eu só estudei pra isso, tá? - diz sorrindo.
Ficamos por alí até a hora do trabalho começar. Vários trabalhos sendo apresentados e eu cada vez mais ansioso pra que o meu chegasse logo. A vez da Susy chega e ela apresenta o seu trabalho sobre Moda e a Indústria Fashion. Ela arrasou. Foi bem articulada e quase não gaguejou. O Rafael também apresentou seu trabalho hétero normativo. Seus amigos gritaram feito loucos quando souberam do tema. Héteros... Ele se apresentou bem. Foi bem descontraído e leve. Ele realmente sabia falar em público.
Chegou a minha vez. Subi no mini palco e pego o microfone. Minha mãos estão suando. Dou bom dia e falo o meu tema. No mesmo momento ouço risadas, cochichos e até mesmo vaias. Minha respiração começa a falhar. Começa a passar várias perguntas na minha cabeça. Eu poderia ter escolhido outro tema? Eu tinha muitos temas! Por que eu escolhi esse tema?
Comecei a falar um pouco arrastado e minha voz estava trêmula e falhada. Meus olhos passavam por todas as pessoas e eu podia ver os olhares de julgamento de todas as partes.Garoto - A bixinha ficou gaga? - alguém grita e muitas pessoas riem.
Eu tento ignorar isso e continuar com a apresentação, mas sem sucesso.
Garoto - Mona! Para de ser chata e desce do palco! - diz e novamente várias risadas.
O professor sobe ao palco e toma o microfone da minha mão e começa a dar um sermão no garoto e em todos que contribuíram pra que isso continuasse. Enquanto isso, eu tentava controlar minha respiração. Passe o olhar rapidamente em meio aos alunos e vejo o Rafael me olhando. Ele parecia preocupado. O professor me olha e pergunta se eu queria continuar apresentação ou não. Olho novamente pro Rafael e ele sorri e faz o sinal positivo com as mãos. Respiro fundo e digo que sim.
- Bom... - começo. - Eu estava na parte em que eu iria citar exemplos de lgbtfobia, mas o coleguinha alí já nos mostrou um. - digo com uma coragem que nem eu sei de onde veio. - Eu agradeço sua ajuda, viu! Eu sei que isso tudo é, provavelmente, por conta da falta de atenção que seus pais te dão, mas mesmo assim ajudou. - digo e ouço alguns sussurros e comentários. - É por ações como essas que o coleguinha fez, que muitas pessoas LGBTQIAPN+ acabam se mutilando ou até mesmo cometendo suicídio. Mutilação é se cortar, tá fofinho? Eu vou explicar por que eu sei que o seu QI não é tão avançado assim. - digo e novamente os comentários, sussurros e risadas voltam.
Termino minha apresentação e desço do mini palco. O Rafael e a Susy vêm até mim.
Rafael - Caralho! Da onde tu tirou essa coragem? - pergunta rindo.
-Eu também não sei... - digo meio receoso.
Susy - O Anderson tá puto. - acho que esse é o nome do garoto. - Mas você lacrou amigo! Foi muito bom!
- Valeu, gente. - digo sorrindo.
Nós nos sentamos novamente enquanto outras pessoas apresentavam seus trabalhos. Eu podia sentir o olhar do Anderson atravessar minha nuca como facas. Era óbvio que ele iria ficar com muita raiva de mim. Eles sempre ficam assim.
Após acabar tudo, eu estava voltando pra casa. O Rafael sempre vem comigo, mas hoje ele não conseguiu, já que tinha alguma coisa pra fazer. A rua tava praticamente deserta, como sempre fica a essa hora.- Psiu - ouvi e olhei pra trás.
Anderson. Ele me olhava com muita raiva.
- Olha, eu não quero brigar, tá? - digo tentando fazer ele ir embora. - Você me irritou, eu te irritei, tá tudo certo. - digo e continua vindo em minha direção.
Ele chega bem perto de mim e para. Eu podia sentir sua respiração bater no meu rosto. Abro os olhos, que eu fechei por puro medo, e olho nos olhos dele. Sua respiração era pesada e cansada. Ele parecia querer chorar. Eu estou mais confuso do que assustado agora. E de repente, ele me beija. Foi um selinho rápido. Isso me assusta e me faz dar alguns passos pra trás. Ele continua parado me olhando com os olhos cheios de lágrimas.
O céu começa a derramar gotas geladas de chuva de forma repentina e forte. Em segundos meus cabelos estavam encharcados. E as lágrimas do Anderson se misturavam com as gotas de chuva. Ele parece perder o controle das pernas e cai de joelhos no chão. Ele se entrega ao choro no meio daquela chuva forte e repentina.×××××××××××××××××××××××××××××××××××××××××××××××××××××××××××××××××××××××
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APENAS UM CLICHÊ (Romance Gay)
RomanceO título fala por si só. Essa história é apenas um clichê adolescente. Phellipe e Rafael são inimigos desde infância dentro da escola. Mas isso não dura por muito tempo após tudo virar de ponta cabeça. Cor Representativa: 🟤