9- CONFUSÃO

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Phellipe

- E foi por isso que tudo aconteceu, entendeu? - pergunto, mas não tenho resposta.

Rafael - Foi mal, tenho que atender. - diz enquanto seu celular toca em sua mão com o nome da Alice na tela.

Ele se levanta e vai pra fora do quarto. Eu fico folheando seu caderno e vendo um pouco da sua letra. É uma letra padrão masculina, nada muito caprichado, porém legível. Passo mais uma das páginas e vejo duas iniciais escritas em uma das laterais. A+R . Novamente aquelas borboletas voltam a aparecer no meu estômago. Sinto uma angústia subir por dentro de mim. Eu vou... Chorar?
Meus olhos se preenchem de lágrimas quase que de imediato. Eu não aceito o que eu venho sentindo pelo Rafael. Eu não quero sentir essas coisas por ele. Eu sei que é errado, já que ele está namorando com a Alice e ele é hétero. Sinto que não vou conseguir conviver com isso por muito tempo. Eu não sei se me afastar dele é uma boa escolha ou apenas vou estar sofrendo de longe...

Rafael - Voltei! - diz entrando de repente e me fazendo limpar os olhos rapidamente. - Tá tudo bem? - pergunta me olhando preocupado.

- Uhum. - digo sorrindo, mas senti que eu queria chorar mais ainda.

Rafael - Tem certeza? - pergunta e se senta à minha frente.

- Tenho sim. - digo olhando pra baixo e mudando de assunto. - Bom, agora a gente vai pra inglês, tá? - digo pegando meu caderno.

Eu consegui me normalizar depois, mas senti que ele não conseguiu se concentrar muito bem. Ele fez mais uma de suas receitas deliciosas enquanto eu apenas observava. Após comermos ele novamente me levou até em casa. A noite estava normal, nem tão fria, nem quente, apenas agradável. Estávamos conversando sobre as provas do bimestre passado e ele tava contando como foi fácil filar na prova de sociologia. Eu apenas ouvia e sorria de suas histórias de aventura escolar.

Rafael - Pronto, Cachinhos, tá entregue. - diz com as mãos dentro do moletom.

- Valeu, por me trazer. - digo e ele apenas concorda com a cabeça e eu me viro pra entrar.

Rafael - Espera aí! - diz e eu me viro pra ele novamente. - Cadê o meu abraço? - pergunta e eu olho pra ele confuso.

- Mas você nunca ganhou abraços meus, Rafael. - digo sorrindo e ele se aproxima mais começando a me deixar nervoso.

Rafael - Então eu posso começar a ganhar agora. - diz parando perto de mim. Fico um pouco sem reação e apenas fico olhando pra ele. - Tô esperando... - diz me olhando.

- Tá... - digo e o abraço.

Meus braços passam por seu peitoral e ele abraça meu pescoço. Eu não aperto demais, por mais que aquilo fosse bem tentador. Já ele me aperta como se eu fosse uma película e ele uma criança animada. Sentir seu cheiro era algo encantador. Mas saber que aquilo tudo que eu tô sentindo é algo que nunca vai acontecer, também era péssimo.

- Okay, agora me solta. - digo me soltando dele.

Rafael - Acho melhor você entrar, sua mãe tá olhando na janela. - diz olhando pro chão envergonhado. Olho pra trás e vejo quando ela solta a cortina e desaparece da janela.

- Ela só é curiosa. - digo sorrindo e ele sorri também.

Breno - Iae, gente? - diz me assustando.

- Porra! - digo fechando os olhos pelo susto. - Não chega assim, doido. - digo e eles riem de mim.

Breno - Foi mal. - diz me abraçando de lado e deixando um beijo na minha cabeça. - Vai entrar agora?

- É, eu só tava me despedindo do Rafael. - digo.

Rafael - É... Eu vou indo. Boa noite pra vocês. - diz se virando pra ir embora.

- Amanhã à mesma hora, né? - pergunto e ele se vira novamente.

Rafael - Pode ser. - diz sorrindo e depois começa a se afastar.

Breno - Vamo entrar? Tá frio aqui. - diz e eu realmente começo a sentir frio, então nós entramos.

Eu e o Breno estamos na mesma. A gente se pega, mas não namora. Acho que ele quer algo sério, mas como eu já disse, eu não quero nada disso agora. Eu chamei ele pra dormir aqui em casa hoje. E não passou disso. Apenas dormir. Acho que se eu fizesse algo com ele essa noite eu estaria me sabotando.

Acordo no outro dia e vou pra escola. O Breno foi pra casa mais cedo, já que ele estuda em outra escola. Chego e encontro a porta da sala fechada, o que já não é muito comum. Ignoro isso e abro a porta, grande erro. Me deparo com o Rafael e a Alice aos beijos acima de uma das mesas. Eu congelo. Meus olhos estão estáticos.
Eles ouvem a porta abrir e se separam rapidamente e me olham assustados. Ela se ajeita rapidamente antes mesmo de entender que sou eu quem está ali. E depois que nota seu rosto se transforma em uma expressão de raiva. Ela fecha as mãos e vem em minha direção.

Alice - SEU VIADO DE MERDA, VOCÊ ESTRAGOU TUDO! - grita passando por mim e esbarrando no meu ombro.

Eu continuo olhando pro nada, porém agora mais confuso ainda. Olho a porta aberta e vejo ela descendo as escadas rapidamente. Olho novamente pra dentro da sala e vejo o Rafael me olhando sem graça. Eu dou alguns passos pra trás na tentativa de ir embora.

Rafael - Espera! - diz alto me assustando. - Desculpa por ela, tá? Pelo o que ela disse... Eu sinto muito. - ele diz me olhando claramente envergonhado.

- Tá de boa. - eu minto e fecho a porta.

Saio andando e vou até a árvore de sempre. Me sento no chão e fico lembrando daquela cena... E o que que eu estraguei? Além da foda, óbvio, não tinha nada alí pra atrapalhar. Eu sei que lembrar daquela cena não me faz bem, mas é impossível. Tudo isso tá me matando... É uma confusão sem fim dentro da minha cabeça.

Meus olhos se preenchem com lágrimas e logo transbordam. Eu precisava disso há muito tempo. Libero todo o choro que venho prendendo. Eu estou chorando feito uma criança agora. Meu coração acelerado, os olhos ardendo e a respiração acelerada. Uma óbvia e inconveniente crise de ansiedade.
Isso durou poucos minutos, até que consegui me normalizar. Me levanto e vou em direção a sala, que agora está aberta. Entro e encontro Susy me olhando sorrindo, mas logo muda a feição para preocupada. Olho pra Alice rapidamente e ela apenas revira os olhos e volta a olhar seu celular. Susy vem até mim.

Susy - Amigo, o que aconteceu? Cê tá bem? - pergunta e eu minto sobre alguma alergia atacada. - Okay, mas você tomou o remédio? - apenas concordo com a cabeça e nós nos sentamos.

Olho pra fora de sala e vejo o corredor cheio de garotos, porém meus olhos focam em apenas um deles. Rafael. Fico olhando pra ele durante uns segundos até que ele me nota e me olha também. Ele sorri meio tímido e me manda um tchauzinho de longe, mas eu apenas desvio o olhar e não respondo nada. Eu sei que isso pode parecer loucura minha, mas... Eu estou com ciúmes disso tudo.

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APENAS UM CLICHÊ (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora