XVII

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Jungkook P.O.V

Salas de espera de hospitais normalmente são angustiantes, tudo nelas tem o amargo e azedo sabor do "adeus", para mim, tinha gosto de irmandade.

Literalmente.

Quando sua irmã é sequestrada e morta, e seu amigo, que tentava ajudar, também é morto de modo cruel, sua cabeça começa a criar modos diferentes de luto.

O meu foi não sentir, nunca sentir que minha irmã adotada havia sido morta, e claro, fingir que ela nunca existiu, aquilo havia ficado tão forte em minha cabeça, que às vezes eu pensava que até Jin e Tae haviam se esquecido, esquecido que meu amigo tentando salvar ela morreu, esquecido a última vez que chorei com todo meu peito e alma, esquecido dela.

Yeon, minha pequena garotinha, era ainda recém nascida quando foi sequestrada, foi adotada no mesmo ano em que Tae nasceu, na época que eu não sabia que tinha mais dois irmãos, mas também, na época em que eu não estava envolvido com nada, eu era uma criança, ela ficou até meus dezesseis anos desaparecida, quando em uma operação de resgate da gangue do meu pai, Jisung, meu melhor amigo, foi atrás de respostas sobre ela, ele morreu no mesmo dia, e registros da gangue mostraram que haviam matado ela quando a garota havia completado seus 4 anos.

- Você sabe que pode ir para casa se quiser, não sabe? - O pai de Jimin falou me dando leves tapas nas costas, ele estava com dois copos de cafés nas mãos, entregando um a mim.

- Eu sei, mas eu não posso fazer isso, não mesmo, os meninos não querem ir embora. - Eu também não queria, não podia saber que alguém que a pouco tempo estava em meus braços poderia estar morto, precisa ficar e ter certeza que ele passaria daquela.

- Você é um ótimo irmão, Salvatierra, uma ótima pessoa, eu preciso retribuir de algum jeito toda essa gentileza. - O rosto do homem era triste, tão triste que me fazia lembrar minha mãe de criação, sua depressão, sua perda pós-sequestro de minha irmã.

- Eu não quero nada senhor Collins, só quero que Jimin fique bem. - Eu não conseguia sorrir para passar segurança para ele, não conseguia mesmo, porém não podia passar para uma pessoa algo que no momento eu não estava sentindo.

Meus olhos foram para meus irmãos, os dois estavam dormindo com suas cabeças escoradas, junto dos gêmeos, Jin tinha o corpo quase todo depositada em cima de Cosimo, que sustentava não somente ele enquanto dormia, mas também sua irmã, Tae estava escorado em Jin, todos em um sono profundo. Me levantei ainda com as pernas pesadas e peguei um lençol que o hospital disponibiliza para as pessoas da sala de espera, então cobri todos os quatro.

O rosto deles eram tão abatidos, que dava dó somente de ver.

E isso era estranho, eu estava sentindo muitas coisas e frações pequenas de segundos. Dei uma pequena golada no copo de café rolando meus olhos até a mãe de Jimin, ela ainda estava com sua roupa de enfermeira e estava olhando brava para uma cruz que tinha perto da TV da sala, que no momento passava algum show de variedades.

Ela não parecia bem.

- Senhora Collins? Precisa de algo? Eu posso levar vocês de carro até em casa só para buscarem algumas coisas se quiser.

Sua feição mudou de pouco a pouco, de raiva para decepção.

- Eu não entendo, não entendo mesmo, eu sou uma mulher devota, dou meu dízimo para as igrejas todos os meses, ajudo com doações, salvo milhares de vidas todos os anos, tento ao máximo não pecar, faço todo dia minhas orações, e Jimin, meu garotinho sempre está nelas, por qual motivo Deus está sendo tão maldoso com ele? É porque ele é gay? Esse Deus grande que andava com prostitutas, doentes, ladrões, pessoas que matavam e fizeram adultério está castigando meu filho por amar? Está castigando meu filho por ser quem ele é? - Sua voz carregava cansaço. - Se isso for ser uma pessoa cristã, eu não posso mais seguir esse Deus, não posso mais seguir a um Deus que prega amor, mas castiga meu filho por amar.

Bala que derrete na língua. - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora