Capítulo 11

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Angel

Mesmo querendo ficar para ver ele abrir aqueles olhinhos de jabuticaba para mim, eu sabia que tinha que ir embora, mesmo dolorida. Cada parte do meu corpo parecia pesar, mas eu não tinha escolha. Precisava sair com urgência da casa para abrir a farmácia da minha mãe. Ela havia me deixado responsável por isso, e o dever me chamava.

Olho para ele, ainda dormindo. Como ele é lindo... Mal consigo acreditar que ele foi o meu primeiro. Mesmo sem conhecê-lo tão bem, sinto uma felicidade estranha por ter sido ele. No fundo, sei que daria o resto da minha vida para ele, se pudesse.

Mas, ao mesmo tempo, a culpa pesa sobre mim. Aconteceu na casa do padre... "Ai, Jesus, não me castigue por esse pecado.

Deixo ele dormindo e vou até minha casa. Pego a chave debaixo do tapete, exatamente onde sempre a deixo. Não me arrependo de ter mentido pra ele, dizendo que meus pais me deixaram do lado de fora. No fim das contas, foi a melhor noite da minha vida.

Enquanto arrumo as coisas, penso em como faria de tudo para que essa experiência se repetisse. Preciso ser cuidadosa, porém. Ao chegar à farmácia, já vou direto ao que interessa: pego uma pílula do dia seguinte e tomo logo as duas. Não usamos camisinha nenhuma das vezes, e se eu engravidar, meus pais me matam com certeza.

Fico organizando algumas coisas na farmácia, tentando manter a mente ocupada. Mas, quando me viro, meu coração para por um segundo. Ali, parado na porta, está um homem todo de preto, usando uma máscara. A princípio, a figura sombria me assusta, mas então noto algo familiar. Aqueles olhinhos... não tem como confundir.

— Você pode tentar disfarçar, mas esses olhos de jabuticaba eu reconheço em qualquer lugar — ele diz, com aquela voz que faz meu estômago revirar de ansiedade.

— O que você faz aqui, Diaba? — ele provoca, com um sorriso de canto de boca.

Eu sinto o calor subir pelo meu corpo, adorando o jeito que ele me chama. Só de ouvir a palavra "diaba" sair da boca dele, sinto uma corrente de desejo.

— Se você continuar me chamando assim — digo, com um sorriso travesso —, vou ter que te arrastar para trás do balcão.

— Me arrastar? — ele solta uma risada, cruzando os braços e se encostando na porta. — Vai precisar de mais força, Diaba. Ou então, vai ter que me convencer de outro jeito.

Dou um sorriso travesso e, com um movimento inesperado, tiro a calcinha e a coloco na sua mão, vendo seus olhos se fixarem nela com um brilho curioso.

— Pode ser assim? — pergunto, com uma expressão desafiadora.

Ele a olha por um momento e então levanta os olhos para mim, com um sorriso irônico.

— Você é um demônio, sabia? — ele diz, a voz cheia de um misto de admiração e divertimento. — Nunca pensei que uma simples farmácia poderia ser tão... provocativa.

Ele coloca a calcinha no bolso da calça e sorri, com um brilho divertido nos olhos.

— Meus olhinhos de jabuticaba já estão com saudade da diabinha dele — falo, mordendo os lábios.

Ele me olha, sem expressar muito.

— Vire, compre a pílula para você — ele diz, com um tom direto.

— Você acha que estou nova demais para ficar grávida? — pergunto, com uma pitada de ironia.

— Não viaje, garota. Esqueceu que sou padre? Se você aparecer grávida, é o fim de tudo — ele responde, com um tom sério.

Solto uma risada.

— Padre é uma ova. Você está fingindo ser padre — falo, encarando-o. — Mas não se preocupe, falso padre, já tomei a pílula.

— Vamos ser claros, Angel. Não é porque fui seu primeiro que significa que eu quero algo com você. Eu apenas fui fraco e caí em tentação. Não leve para o lado pessoal. Foi bom, mas não quero nada com você, e espero que você não estrague meus planos.

Dou uma risada, me recostando no balcão com uma expressão divertida.

— Olha só, o padrecito — falo, com um sorriso irônico. — Você não é tão apaixonante assim a ponto de eu ficar correndo atrás de você. E você também não é nenhum "pau de mel" para eu ficar louca para ter algo com você. E não se preocupe, não vou estragar seus "planos divinos".

Ele me encara com uma expressão de decepção, claramente achando que esse "pau" é algo grandioso. Mas está muito enganado se pensa que vai me pisar só porque foi o meu primeiro. Está completamente enganado.

— Só achei que você iria me obrigar a ficar com você só porque fui seu primeiro.

— Olha, olhos de jabuticaba, foi bom, sim, você quer um  agradecimento por ter rompido meu hímen, ok? Muito obrigada, padre de camelo, por isso. Agora me sinto livre para fazer o que eu quiser — digo, com um tom sarcástico e uma expressão de desprezo. — Se você achou que eu ia ficar correndo atrás de você, querido, pode esperar sentado. Não sou desse tipo. Talvez você tenha se enganado e pensado que sou uma bobona de cidade pequena, que se apaixona só porque seu pau entrou em mim.

Ele parece surpreso, o desconforto evidente em seu rosto.

— Não era essa a minha intenção — ele tenta explicar, um pouco confuso.

Dou uma risada curta e debochada.

— Ah, sério? Porque o seu comportamento todo grita "olhem para mim, sou incrível". Desculpe, mas se eu deixei você ser o meu primeiro, foi porque eu quis. Pau, nessa merda de cidade, é o que não falta. Você pode ficar com seu ego e seus planos. Tranquilo. Eu vou seguir em frente e aproveitar minha vida, sem mais dramas. Odeio dramas. Agora, se me der licença, tenho coisas mais interessantes para fazer.

Ele apenas me olha confuso e sai da farmácia. Eu me sento, meio desconfortável, e então lembro que estou sem calcinha.

Merda, podia ter terminado de outro jeito — penso, frustrada. — Mas ele não é o tipo que assume uma garota. Tem cara de quem tem um monte de mulheres atrás dele.

Sinto uma onda de indignação. Tenho amor próprio e, se ele achou que ia sair por cima nessa situação, estava enganado.

Sei que ele vai voltar. Vou fazer tudo para mostrar a ele o que perdeu.

"Máscara de Santidade"Where stories live. Discover now