Capítulo 13

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Jungkook

Passa uma semana inteira e faço de tudo para evitar aquele demônio de saia. Desvio de qualquer caminho que possa me levar perto dela, e nem me atrevo a olhar pela janela. Nas missas, nem apareço mais, só pra não correr o risco de dar de cara com ela.

"Melhor assim," penso. "Manter distância." Mas é difícil. Cada vez que me lembro dela, o conflito interno só aumenta. Ela tem o poder de me tirar do sério, e a última coisa que preciso agora é mais distrações.

Só que, por mais que eu tente, a verdade é que ela não sai da minha cabeça.

Até nos meus sonhos, ela aparece. Toda noite, a mesma coisa. Aquele sorriso provocador, o jeito que mexe no cabelo... Meu Deus, vou ter que realmente começar a rezar de verdade se quiser me livrar desse tormento.

Acordo suado, o coração acelerado, e a imagem dela ainda tão vívida na minha mente.

— Não dá pra continuar assim — murmuro, encarando o teto. "Preciso de um exorcismo, só pode."

Levanto da cama. "Se eu continuar assim, vou acabar fazendo besteira." A única solução é rezar.

Se continuar sonhando com aquela diaba, vou acabar perdendo a cabeça de vez.

— Tá decidido, vou rezar. — digo em voz alta, como se falando sozinho fosse me convencer ainda mais.

Caminho pelo quarto, procurando um terço que não vejo desde sei lá quando. Encontro ele, empoeirado, no fundo da gaveta. "Beleza, é agora ou nunca."

Seguro o terço com firmeza e me ajoelho ao lado da cama, tentando concentrar meus pensamentos.

— Senhor, me dá força... E se puder, uma memória seletiva também, pra eu esquecer aquele cheiro, aquele sorriso, aquele... Não, peraí, foco! — fecho os olhos com força e continuo, tentando soar mais sério.

Mas toda vez que começo a rezar, a imagem dela volta. O jeito como ela olhava pra mim, como se soubesse exatamente o que estava fazendo. "Senhor, acho que você tá me testando..."

Abro os olhos, suspirando, e me jogo de volta na cama.

— Isso aqui vai precisar de muito mais do que umas Ave-Marias... talvez um banho de água benta, um exorcismo de leve, quem sabe? — murmuro, rindo de mim mesmo. "Tô ferrado.

Deito na cama, jogando o terço de lado. Já vi que rezar não vai ser suficiente pra espantar essa diaba da minha cabeça.

— Acho que vou precisar de um padre... Ah, pera, meu irmão e padre! — dou uma risada amarga, me dando conta da ironia da situação. — Isso aqui tá mais complicado do que pensei.

Fico encarando o teto, pensando em como cheguei nesse ponto. Fico tentando me livrar da imagem de uma mulher que mais parece ter saído direto do inferno pra bagunçar minha vida. Só que, por mais que eu tente, as lembranças dela continuam me perseguindo, e meu cérebro simplesmente não coopera.

— Vou ter que reforçar minhas orações ou, sei lá, me mudar pra um mosteiro no meio do nada — murmuro, passando a mão pelo rosto.

Tento fechar os olhos, mas a imagem dela aparece de novo, me provocando. "Ótimo. Ela invadiu até minha paz noturna."

— É isso, vou marcar uma sessão de confissão com meu irmã. Quem sabe funciona...

Eu continuo rindo sozinho, imaginando o quanto meu irmão me estrangularia se soubesse do que realmente está acontecendo. "Seria o fim de mim, literalmente."

Deitado na cama, ainda rindo de forma quase maníaca, olho para o relógio. São 20:00 da noite quando ouço uma batida na porta. A risada morre instantaneamente e, ao invés disso, um frio na barriga toma conta de mim.

Abro a porta e vejo meu irmão Gabriel, com uma expressão de leve cansaço e um pouco de surpresa.

— Achei que você estava dormindo — ele pergunta, franzindo a testa.

— Estava quase — minto, mantendo a cara dura.

Gabriel dá um passo para dentro e, com um tom casual, diz:

— Os pais de Angel nos convidaram para o aniversário dela, que vai ser amanhã à noite. Vai ter outras pessoas também. Se quiser ir... Sei que é difícil, irmão, você estava fugindo da polícia. Isso não significa que sua vida tem que parar enquanto você não prova sua inocência. Você pode sair comigo para refúgios e para a igreja. Onde eu for, você pode ir também.

— O que deu em você, Gabriel? — pergunto, surpreso.

Gabriel suspira e olha para mim com um tom de preocupação sincera.

— Só não quero ver meu irmão caçula mergulhado em depressão por estar isolado numa cidade pequena, escondido da polícia. Não é justo que você fique trancado na casa do seu irmão padre o tempo todo. Você precisa de um pouco de normalidade, sair, ver gente, fazer alguma coisa que te faça sentir-se vivo.

— O que deu em você, Gabriel? Tá com medo do seu irmão caçula morrer de tédio? — pergunto, tentando brincar com a situação.

Gabriel dá uma risada, parecendo aliviado

— Tento ser legal, mas é difícil, Jungkook. Só não quero que você acabe igual a ela — diz Gabriel, com um tom preocupado.

Eu sei que ele iria falar da mamãe que morreu por causa da depressão. Meus olhos se enchem de água. Gabriel virou padre por isso, para ajudar as pessoas, já que não conseguiu salvar nossa mãe. Ele me olha, percebendo a dor em meu rosto e sabendo exatamente o que estou pensando.

— Jungkook, — Gabriel me chama, com um tom suave. — Eu não queria falar da mamãe.

Ele faz uma pausa, procurando as palavras certas.

— Eu não queria falar dela. A dor que nunca superei é perder a mãe; é uma dor que nunca vai passar. Eu era apenas um adolescente quando ela morreu. Depois disso, eu me envolvi com coisas erradas, enquanto você seguiu pelo caminho do bem.

Faço uma pausa, sentindo o peso das palavras.

— Sobre estar fugindo, realmente não era minha culpa. Meu melhor amigo roubou, me enganou, deu golpes e, no final, colocou a culpa em mim. Eu fui jogado ao fogo sem chance de defesa.

Gabriel me olha com um misto de tristeza e compreensão.

— Eu sei que a situação não é fácil e que a vida te empurrou para caminhos difíceis. Mas é importante lembrar que você ainda pode se recuperar e encontrar um novo rumo. — Te prometo, irmão, eu nunca mais vou te abandonar. Fico feliz de estarmos juntos, mesmo que as circunstâncias não sejam as melhores. Vou te ajudar a provar sua inocência — diz Gabriel, com um tom sério.

— Tá, chega de drama — falo, tentando aliviar a tensão.

— Vou com você no jantar de aniversário da diab... — digo, corrigindo-me rapidamente. — Quer dizer, da Angel.

Seja o que Deus quiser. É só ignorar a Diaba no próprio aniversário dela.— penso comigo mesmo.

"Máscara de Santidade"Where stories live. Discover now