Capítulo 19

291 35 26
                                    

Angel

Acordo assustada pela manhã com batidas insistentes na porta. O quarto está meio escuro, com a luz fraca do amanhecer esgueirando-se pelas frestas da persiana. Tento ajustar a visão, mas tudo parece nebuloso, ainda enevoado pelo sono interrompido. Olho para o lado e a cama está vazia. Nada dos meus olhinhos de jabuticaba. Ele deve ter saído sem eu perceber.

Levanto-me devagar, ainda zonza, sentindo o frio do piso contra os pés descalços. As batidas continuam, impacientes, seguidas pela voz familiar da minha mãe subindo pelas paredes do corredor.

— Querida, o Lucas está aqui embaixo! — A voz dela soa doce e despreocupada, mas carrega um tom de urgência que me irrita.

Respiro fundo e fecho os olhos por um segundo. O que esse encosto quer a essa hora? Logo pela manhã, sem aviso... Começo a imaginar todas as possíveis desculpas que ele vai dar, mas isso não importa mais. Hoje eu estou decidida. Chega de empurrar com a barriga.

— Ok, mãe, vou me arrumar — grito de volta, tentando não transparecer a irritação que já começa a ferver no peito.

Ainda nua, visto uma roupa qualquer e prendo o cabelo de qualquer jeito. Chega de tentar ser perfeita. Já passou da hora de deixar claro para aquele idiota que não vamos mais continuar fingindo. Respiro fundo e dou uma última olhada no espelho antes de descer as escadas.

Minha mãe está parada no pé da escada, me esperando com uma expressão preocupada. Sei que ela percebeu o clima pesado, o desconforto, mas não tem coragem de perguntar nada diretamente.

— Está tudo bem? — pergunta, arqueando uma sobrancelha, como quem já sabe a resposta.

— Está, mãe. Só preciso conversar com ele. — Tento sorrir, mas sei que não a engano. Meu sorriso é forçado e se desfaz rapidamente. Passo por ela e vou em direção à sala.

Ao entrar, vejo Lucas sentado no sofá, como se fosse o dono da casa. Ele está relaxado, mexendo no celular, mas levanta a cabeça assim que me vê. O olhar dele se ilumina por um momento, um reflexo automático que antes talvez tivesse me feito hesitar. Mas hoje, não. Nenhuma hesitação. Ele abre um sorriso que um dia poderia ter me desarmado, mas que agora parece apenas um gesto vazio. A verdade é que Lucas nunca conseguiu me fazer sentir as coisas que sempre esperei. Talvez eu estivesse só projetando nele os meus próprios sonhos, e agora, finalmente, vejo isso com clareza.

— Bom dia, amor! — ele diz, se levantando para me cumprimentar, ainda com aquele sorriso ensaiado.

— Bom dia, Lucas — respondo seca, com um tom que corta qualquer tentativa de proximidade.

Ele para no meio do caminho, confuso. O sorriso vacila, e um vinco se forma entre as sobrancelhas. Ele percebe que há algo errado, mas não sabe o quê.

— O que houve? — pergunta, com a voz entrecortada. Ele tenta buscar algum indício no meu rosto, um motivo para essa frieza repentina.

Eu inspiro fundo. É agora. É o momento de dar um ponto final nesse noivado.

— A gente precisa conversar, Lucas. — Minha voz treme levemente, mas logo me recomponho. Firmo o olhar, tentando transmitir a seriedade da situação.

Antes que eu possa continuar, ele me interrompe. O rosto dele muda de expressão de repente, e seus olhos se enchem de lágrimas. Ele abaixa a cabeça por um momento e, quando a levanta novamente, vejo uma tristeza real ali, que me desarma por um segundo.

— Sim, amor... eu também preciso falar com você. Tenho uma notícia triste... — Lucas murmura, a voz embargada. Ele começa a chorar, soluçando de um jeito que nunca vi antes.

"Máscara de Santidade"Where stories live. Discover now