Capítulo XII

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- Não seguiu meus conselhos. - Resmungou, sentando à mesa com ela. Elisa ignorou totalmente. Seu pai estava feliz em vê-la, mas Elisa não parecia bem. Estava mais magra, seu olhar não era tão brilhante, e ela não falava mais com firmeza na voz, sua quietude era impaciente, era depressiva. Ele sabia sobre a neta morta, mas não sabia o que dizer ou fazer. Primeiro, sentiu-se triste, impactado pela notícia. Todavia, logo sentiu-se aliviado. Como se houvesse tirado um peso dos ombros. Ele ficou feliz porque isso significa que o relacionamento da filha está fragilizado, que ela pode romper aquela união agora mais que nunca. - Sinto muito pela sua filha. - Disse ele, entendendo que era o correto.

Elisa continuou quieta, ela não conversou com o pai. Nunca mais trocou uma palavra com ele. Os meses seguiram, ela parecia melhor. Estabeleceu uma rotina. Kensuke, Verlaine, trabalho, Verlaine e Kensuke. Era basicamente o que ela fazia e com quem interagia. Não falava com estranhos, não falava com o pai, não falava com a mãe, diminuiu até o contato com Giselle. Louis e Verlaine fizeram seus três anos e foram colocados na creche. Kensuke voltou a trabalhar. Eles tomavam café e jantavam todas as noites juntos, conversavam, passeavam e brincavam. Verlaine ganhou uma explicação simples que sua irmãzinha não viria, e que estava em outro lugar. Ele ficou triste, sentiu-se rejeitado, mas se acostumou, e, em certo momento, esqueceu. Com o passar dos meses, Verlaine se comunicava melhor, fez novos amigos, incluindo Rimbaud, que trouxe grande alegria. Vitalie voltou a abrir uma doceria em Paris, e todos os dias após pegar Verlaine na creche, o casal ia até lá.

- Louise, boa tade! - Verlaine cumprimentou, Louis estava sentado com sua mãe e Heloísa, conversando algo. O loiro logo desceu da cadeira e beijou as bochechas de seu amigo, comentando que Rimbaud estava atrasado. Era sexta-feira, por volta das 17h. Todas as sextas, Verlaine, Rimbaud e Louis se encontram na doceria, comem e conversam. - Como está atasado? Os pais dele são donos desse lugar! Mãe, Rimbaud está atasado. - Reclamou o loiro, indo aos braços de Elisa, que estava conversando com a irmã.

- Atrasado? - Perguntou, e Vitalie explicou que seu filho estava no banheiro. - Ah, sim. Ele logo vem, Paul. - Explicou, e o filho sentou na mesa ao lado com Louis, balançando os pés. - Está tão grande.

- Louise também está enorme. - Comentou a irmã, enquanto Giselle ouvia e Kensuke fazia seu pedido. Louis não chamava Heloísa de mãe por ordem dela, detestava essa ideia. Detesta a ideia de ser chamada de mãe por aquela criança, mas age como uma. Sempre agiu.

- Nossa, Rimbaud. Como você demorou. - Verlaine resmungou, descendo da cadeira e ajudando Louis, logo indo abraçar o amigo. - Temos que te atualizar. Otosan, me dá meu álbo, por favor. - Pediu, estendendo as mãos para o pai que entregou um grande álbum de adesivos. - Hoje, eu consegui um enorme, de relevo e gliti.

- Impossível. - Resmungou, subindo na cadeira junto aos outros para ver o álbum de Verlaine. - Pai, onde tá meu álbo? - Perguntou, e seu pai logo entregou. Giselle também entregou o de Louis. - Eu tenho uma com cheirinho. - Se gabou, abrindo o álbum.

[...]

- Mãe. - Chamou, num sussurro.

- O que faz aqui? Está com dor? - Perguntou, confusa. Era madrugada, e por algum motivo Verlaine estava acordado.

- Eu fiz xixi na cama. - Explicou, envergonhado. Elisa franziu o cenho confusa, encarando o garoto dos pés a cabeça. Seu cabelo estava molhado, mas as roupas estavam secas.

- Tudo bem. Eu ajudo você. - Resmungou, saindo da cama ao receber as pantufas pelo rapaz. Seu pai o ensinou a sempre deixar sua mãe com os pés cobertos e evitar contato com o chão. Eles caminharam até o quarto de Verlaine, o chão estava com pequenas poças de água vindo do banheiro, e Elisa parecia mais confusa. - Fez xixi no banheiro?

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