Capítulo XVI

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— Oi, Elisa. Agora são meia-noite e dez, do dia 17 de junho de 2004. Faz um ano que nos divorciamos. Hoje, eu te escrevi outro poema. Você vai encontrá-lo em algum lugar da casa, tenho certeza. Eu já gravei várias vezes essa mesma mensagem. Fiz a do Yuuki, foi fácil, mas sempre que tento falar com você, parece que engasgo, que desaprendi a falar. — Comentou, nervoso. Em 17 de junho de 2004, Kensuke estava sentado no sofá com fones e microfone gravando aquela mensagem. As luzes estavam quase todas apagadas, havia uma caixa de lenços, uma garrafa de água e um sanduíche pela metade na mesa de centro que ele se dispôs a apoiar os pés descalços. Estava de pijama, sentado no mesmo lugar que Elisa estava enquanto ouvia aquela gravação. — Ainda sinto saudades. Vou buscar o Yuuki amanhã... Hoje, na verdade, e aguardo ansiosamente pelo momento em que você vai me cumprimentar e sorrir para mim. Todos os dias eu me pego pensando, imaginando diferentes formas em que eu vou acordar, você vai me ligar e dizer que me quer de volta, que eu posso ter você comigo de novo. Antes que pergunte, essa gravação não tem um tempo específico, e eu não tenho alguma coisa específica para dizer à você. Eu queria ouvir sua voz, na verdade. Falar com você. Ontem você estava linda, bom, sempre está. Mas ontem, caso não recorde, estava com seu conjuntinho verde. Aquele que mostra um pouco da sua barriga, que tem os detalhes dourados, que me faz querer chegar atrasado no trabalho só para ver um pouquinho mais. 

— Você diz isso com todas as roupas que uso. — Resmungou a loira, se referindo ao que ele dizia quando eram casados.

— "Você diz isso com todas as roupas que uso. " Eu sei que você acabou de dizer isso, mocinha! E eu também sei que é verdade, mas, esse conjuntinho verde é lindo. — Disse o homem durante a gravação, acabando por rir sozinho imaginando que Elisa realmente diria isso. É, ela disse. — Eu fiz um quadro. Você já viu ele, é o maior da casa. Espero que não chore muito. Caso não o tenha visto sabe-se lá o porquê, é o que está de costas para o sofá, na frente da televisão. É a nossa família completa. Sim, completa, eu fiz o Hiraki. Está no cantinho, igual na foto original. — Explicou, e Elisa ergueu o tronco, olhando outra vez para o quadro e encontrando o furão que faleceu anos atrás. — Acho que o rosto dela era assim, é um pouco apagado na minha mente, sendo bem sincero.

— Era exatamente assim. — Murmurou sozinha, suspirando com pesar ao olhar para o bebê em seu colo naquele quadro.

— Odeio lembrar desse dia. — Ambos disseram, em tempos diferentes, exatamente a mesma frase. É meio-dia e quinze, na época da gravação, era meia-noite e quinze.

— Em suma, eu arrumei um pouco nossa casa. Todos os cômodos que você for terão fotos e mais fotos nossas, suas, minhas, do Yuuki, do Hiraki. Poemas, como o último que acabei de escrever, e diários, muitos diários. Livros também, você lembra dos livros, certo? Talvez tenham mais uns 40 agora.

— 40 livros em um ano? — Novamente, em uníssono e em épocas diferentes, disseram a mesma frase.

— Não duvide da minha capacidade, são dedicados totalmente a você. Claro, Yuuki tem os dele, mas os 40 a mais são especificamente seus. — Explicou, e a loira franziu o cenho, a fim de procurá-los. — Curiosa que é, sei que quer procurá-los. Pode relaxar, vou te dizer exatamente onde cada um foi colocado. Antes de tudo, quero que saiba que eu amo você, que é o amor da minha vida e minha alma gêmea. — Voltou a dizer o que repetiu por anos, o que Elisa já sabia e entendia, que era recíproco. — Eu comprei um jogo de cartas na quinta-feira para brincar com o Yuuki, já que irei buscá-lo amanhã... hoje, na verdade. De qualquer forma, não posso jogar com ele. São perguntas muito complexas, na minha visão, para um garoto de nove anos de idade responder. — Resmungou, olhando para as cartas espalhadas do outro lado do sofá. Ele puxou uma delas, analisando a pergunta e decidindo fazer. Elisa, enquanto ouvia, estava se desmanchando em lágrimas. — Elisa, o que você faria num momento de coragem insana? — Perguntou, tentando imaginar o que ela diria.

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