Me lembro de estar naquela maldita cadeira. Toda encolhida, com as pernas e braços fechados. Com medo de qualquer barulho que havia na rua e mais medo ainda de ouvir qualquer pessoa dentro de casa. Uma tesoura na mão e muitas lágrimas. Era só o que eu tinha, ainda que a vontade fosse de fincar a tesoura no meu pescoço.
Eu ouvi a vibração do meu celular na minha cama. Três, quatro, cinco vezes. Com a bateria quase no fim, eu saí da cadeira depois de horas sem me mexer só olhando pra porta, e atendi a ligação do papai. A sensação que eu senti durante e depois daquela ligação foi única. Eu senti alívio, felicidade e esperança, de uma forma única, que nunca mais senti outra vez.
Eu via aquele dia como algo bom. Hoje, eu vejo que foi o ínicio de todos os problemas, dores e decepções que causei ao meu pai e minha irmã. Eu fiz mal para quem eu mais amava. Para as únicas pessoas que eu amava. Isso me dói muito.
Aquela tesoura poderia ter resolvido tudo. Aquela primeira vez, se a corda estivesse mais apertada, teria resolvido tudo.
Eu não queria chorar mais pensando nisso. Eu não queria ter feito eles chorarem nem uma vez que fosse.
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Meu Diário
No FicciónMe chamo Ana. Tento relatar sobre a minha vida como costumava fazer no meu antigo diário físico. Não há coisas boas para se ler neste diário.