Às vezes eu me olho no espelho. Eu não gosto de fazer isso. Eu não me reconheço. Não gosto de quem eu vejo. Cada vez que vejo, há mais cicatrizes no meu corpo.
As cicatrizes que nunca sumiram e que me fazem lembrar daqueles dias são as que mais doem. A lembrança de cada minuto volta, aumenta, machuca e não vai embora.
E então, com essas memórias na minha mente, eu me olho no espelho e vejo alguém que não está mais viva. Desde o começo. Desde aquele dia. Desde a recuperação, aos novos dias, tratamentos e auxílio. Aquela pessoa boa, sorridente e feliz nunca esteve nesta casa. Ela morreu naquele quarto. E eu demorei muito tempo pra aceitar isso.
Eu não gosto da pessoa que eu vejo no espelho. Ela é a culpada de ser quem é. É uma pessoa ruim. Que não deveria estar perto de alguém tão bom. Que não merece o amor de um herói tão bom. Essa pessoa o machuca todos os dias. Mesmo que ela não queira.
Eu não queria ser essa pessoa.
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Meu Diário
Non-FictionMe chamo Ana. Tento relatar sobre a minha vida como costumava fazer no meu antigo diário físico. Não há coisas boas para se ler neste diário.