Rosamaria Montibeller | Brigas. ²

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O jogo contra a Rússia estava pegando fogo

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O jogo contra a Rússia estava pegando fogo. S/n, como ponteira, e Rosamaria, oposta, eram as principais atacantes da seleção brasileira. A pressão era intensa, e o placar apertado deixava todos no limite. Mas, além da tensão do jogo, havia outra batalha acontecendo: a briga por quem receberia as bolas levantadas por Macris.

Desde o início do jogo, S/n sentia que Rosamaria estava monopolizando os levantamentos, e, na visão dela, Rosamaria não estava acertando os ataques. Algumas bolas erradas, outras bloqueadas, e a frustração de S/n crescia a cada ponto perdido. Sempre que a bola vinha para Rosamaria, o time parecia estagnado, e a tensão aumentava.

S/n, exasperada, se aproximou de Macris durante uma pausa rápida e murmurou:

— Levanta pra mim, Macris. Ela não tá acertando nada hoje.

Macris, sempre diplomática, apenas assentiu, mas manteve a neutralidade. Ela sabia que ambas eram peças fundamentais para o time, e não queria se envolver na rivalidade que já transbordava em quadra.

Rosamaria, percebendo a troca de palavras entre as duas, não deixou barato. Na primeira oportunidade que teve, ela se aproximou de Macris e, com um sorriso desafiador, disse:

— Macris, tô pronta pra mais uma. Confia em mim, porque parece que algumas pessoas não confiam.

O clima já estava pesado, mas o ápice veio no pedido de tempo técnico do treinador. Assim que as jogadoras se reuniram no círculo, a troca de olhares entre S/n e Rosamaria era quase palpável. O técnico tentava passar as orientações, mas as duas estavam em outro mundo, focadas apenas na briga velada entre elas.

S/n não aguentou mais e soltou:

— Se você não consegue acertar uma bola, pelo menos para de pedir! Eu tô livre em quase todos os ralis e a bola não vem!

Rosamaria, sem hesitar, rebateu:

— Você só pensa em você, né? Esse time não é só seu, S/n! Se você quer a bola, tem que mostrar que merece, não só ficar reclamando!

O técnico interrompeu, visivelmente irritado:

— Vocês duas, parem já com isso! Temos um time para vencer, não é hora para egos inflados! Se continuarem, vou tirar as duas de quadra.

O resto do time permaneceu em silêncio, sentindo a tensão no ar. S/n respirou fundo, tentando manter a compostura, mas sabia que aquela discussão estava longe de terminar.

O jogo continuou, mas o desconforto entre elas era evidente. Cada bola que passava por S/n ou Rosamaria era seguida por olhares de reprovação ou suspiros pesados. O Brasil acabou vencendo o jogo, mas a vitória não trouxe alívio para as duas. O desconforto as acompanhou até o hotel, onde a situação finalmente explodiu.

No elevador, a caminho dos quartos, Rosamaria não conseguiu se segurar:

— Você precisa parar de agir como se fosse a única pessoa capaz de decidir o jogo, S/n.

S/n se virou para ela, o rosto vermelho de irritação.

— E você precisa parar de pensar que sempre sabe o que é melhor! Você tá perdendo todas as bolas e ainda quer que levantem mais pra você?

Rosamaria bufou, cruzando os braços, enquanto o elevador subia.

— Pelo menos eu tô tentando. Você só quer ser a estrela e não consegue admitir que não tem espaço pra isso aqui.

Quando chegaram ao andar do hotel, a discussão escalou. As duas caminharam pelo corredor lado a lado, mas sem se olhar, até que, ao chegarem na porta dos quartos, a briga explodiu de vez.

— Sabe qual é o seu problema, Rosamaria? — disse S/n, virando-se bruscamente para ela. — Você quer ser a heroína o tempo todo, mas não sabe aceitar quando tá errada. Isso tá acabando com o time, e você nem percebe!

Rosamaria deu um passo à frente, com o olhar desafiador.

— Ah, eu que estou acabando com o time? Olha quem tá falando! Você passa mais tempo reclamando do que jogando. O que te incomoda é que eu sou uma ameaça pra sua imagem de "estrelinha". Você não quer ninguém brilhando mais do que você, essa é a verdade.

S/n deu uma risada amarga, sem acreditar no que ouvia.

— Você realmente acha que é sobre isso? É sobre ganhar, Rosamaria! Sobre fazer o que é melhor pro time, e hoje, claramente, você não estava jogando bem. E eu não vou ficar quieta enquanto você põe o jogo em risco.

Rosamaria cerrou os punhos, visivelmente furiosa.

— Você se acha tão superior, né? Como se fosse a única que entende o que é melhor pro time. Mas sabe de uma coisa? Eu não preciso da sua aprovação, e nem do seu drama. Vou continuar jogando, e se você não aguenta a competição, é melhor sair do caminho.

A tensão entre as duas estava no auge, e parecia que uma briga física poderia estourar a qualquer momento. O corredor do hotel estava vazio, mas a energia explosiva entre S/n e Rosamaria preenchia o espaço. Ambas respiravam pesadamente, com as emoções à flor da pele.

Mas, antes que uma delas pudesse falar mais alguma coisa, uma voz atrás delas interrompeu a discussão.

— Vocês duas, parem já com isso!

Era a capitã do time, Gabi, que havia acabado de sair do elevador e testemunhou a última parte da briga. Com as mãos na cintura e o semblante sério, ela se aproximou rapidamente das duas.

— Isso precisa acabar. Agora. Somos um time, e vocês estão se comportando como adversárias. Eu não sei o que aconteceu no passado, mas isso não pode continuar. Ou vocês resolvem isso de forma civilizada, ou eu vou levar isso pro treinador, e ambas podem acabar fora da seleção.

S/n e Rosamaria se encararam em silêncio, ainda com os olhos cheios de raiva, mas sabiam que Gabi estava certa. A inimizade entre elas estava prejudicando não só a relação pessoal, mas também o rendimento do time.

— Eu não tenho mais nada a dizer — murmurou S/n, desviando o olhar de Rosamaria e entrando em seu quarto, batendo a porta atrás de si.

Rosamaria ainda estava com o coração acelerado, mas balançou a cabeça, frustrada, e também entrou no quarto dela, deixando Gabi no corredor, suspirando, sabendo que aquele conflito ainda estava longe de ser resolvido.

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