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O fim de tarde em Uberlândia era quente e abafado, mas dentro do ginásio do Praia Clube, a atmosfera era outra. O ar condicionado aliviava o calor externo, mas a tensão nos treinos mantinha todos alertas. O time estava na reta final de preparação para os próximos campeonatos, e os treinos intensos deixavam todas as jogadoras exaustas. S/n, uma das jogadoras mais dedicadas da equipe, estava satisfeita com o esforço que vinha desempenhando, mas não podia deixar de notar que algo estava estranho com Macris, a levantadora do time.
Macris, normalmente uma líder em quadra, sempre enérgica e positiva, parecia cada vez mais distante. Ela evitava conversas mais longas com as colegas e, ultimamente, suas expressões cansadas e olhares perdidos não passavam despercebidos. S/n, que tinha uma boa relação com quase todas no time, tentara puxar conversa com Macris algumas vezes, mas recebia apenas respostas curtas, o que não era comum da parte dela. Algo estava errado, mas ninguém falava abertamente sobre o assunto.
Nos intervalos dos treinos, Macris se afastava para mexer no celular, e S/n notou que, todas as vezes que isso acontecia, a expressão da levantadora se fechava ainda mais. Parecia que qualquer interação com quem quer que estivesse do outro lado da linha a deixava nervosa e ansiosa. S/n chegou a cogitar perguntar diretamente o que estava acontecendo, mas achou que talvez fosse algo pessoal demais. A última coisa que ela queria era invadir o espaço de Macris.
Naquele dia em especial, o treino foi ainda mais puxado, e quando o técnico finalmente apitou o fim da sessão, todas as jogadoras suspiraram de alívio. Algumas ficaram um pouco mais para fazer alongamentos, outras foram diretamente para os vestiários. S/n, sempre meticulosa com seus cuidados pós-treino, demorou mais um pouco para guardar seus pertences e sair do ginásio. Quando finalmente se encaminhou para o estacionamento, avistou Macris já à porta do carro, com Beatriz ao seu lado.
Beatriz. A namorada de Macris, conhecida por seu comportamento possessivo e ciumento, raramente deixava a levantadora em paz. Ela aparecia em quase todos os jogos e, nas poucas vezes que acompanhava os treinos, fazia questão de manter Macris sob vigilância, como se a qualquer momento ela fosse cometer um erro imperdoável. S/n sempre achou aquela relação estranha, mas nunca soube até que ponto Beatriz interferia na vida de Macris.
Ao avistar as duas no estacionamento, S/n percebeu que elas estavam discutindo. Era impossível não notar o tom agressivo de Beatriz, mesmo que as palavras não fossem claramente audíveis àquela distância. O corpo de Macris estava encolhido, as costas curvadas, os ombros tensos, enquanto Beatriz gesticulava de forma exagerada, apontando o dedo na direção da namorada repetidas vezes.
