O céu sobre o continente humano estava tingido com tons de dourado e vermelho enquanto o sol lentamente se punha. Nas terras do reino de Solus, onde o frágil poder dos humanos ainda resistia, o jovem Calyon, príncipe herdeiro, olhava para o horizonte do alto de uma colina. Seus olhos profundos e pensativos refletiam o peso de um futuro desconhecido, e ele mal sabia que aquele seria o início de uma longa jornada de autodescoberta e poder.
Desde criança, Calyon havia sido diferente. Havia algo nele que todos no palácio reconheciam, mas poucos ousavam falar. Quando as estrelas brilhavam mais intensamente, ele sentia uma conexão inexplicável com o cosmos, como se algo maior o estivesse observando e esperando. No entanto, sempre foi ensinado a manter seus sentimentos e poderes adormecidos em segredo. Seu pai, o rei de Solus, temia que o mundo não estivesse preparado para o que Calyon poderia se tornar.
Naquela noite, Calyon decidiu explorar os antigos corredores do Templo dos Ancestrais, um local proibido aos jovens da realeza, mas que sempre lhe intrigou. Ele ouviu histórias sobre o Ancestral Humano, uma figura quase mítica que salvou a humanidade em eras passadas, mas cujos feitos foram apagados pelo tempo e pelas guerras. Diziam que o templo continha relíquias e segredos antigos, artefatos que conectavam os humanos a suas raízes esquecidas.
Conforme ele descia as escadas de pedra fria, uma presença familiar, mas indescritível, começou a preenchê-lo. A sensação de gravidade mudava levemente ao seu redor, e o tempo parecia desacelerar em seus arredores. Ele sentiu a mana pulsando pelo ar, como se o templo estivesse vivo, respirando junto com ele.
No coração do templo, um antigo pedestal aguardava. Em cima dele, uma estranha joia brilhava com luzes cambiantes — ora dourada, ora azul, como as estrelas no céu. A Joia do Tempo e Espaço, um artefato que, segundo as lendas, foi deixado pelo próprio Ancestral Humano antes de seu desaparecimento.
Calyon, com os dedos hesitantes, tocou a joia. Imediatamente, uma onda de energia percorreu seu corpo, e visões inundaram sua mente. Ele viu os Oito Continentes antes da divisão, o massacre dos humanos pelas outras raças, e os Dragões liderando uma rebelião contra os deuses e demônios para proteger a humanidade. Mas o que mais chamou sua atenção foi a visão de um homem, solitário e imponente, que parecia controlar o próprio tempo e espaço com apenas um gesto.
“O Ancestral... Ele ainda está vivo?” Calyon murmurou, ofegante.
Mas antes que pudesse se aprofundar mais na visão, ele sentiu a presença de alguém atrás dele. Virando-se rapidamente, viu um homem idoso, vestindo um manto escuro. O Arquimago Dorius, conselheiro do rei e o mago mais poderoso de Solus, o observava com olhos severos.
"Você não deveria estar aqui, príncipe", disse Dorius, sua voz grave ecoando nas paredes de pedra. "Ainda não é o momento para você conhecer esses segredos."
"Eu... senti que precisava vir", respondeu Calyon, a mão ainda sobre a joia. "Algo dentro de mim está despertando, algo que não posso mais ignorar."
Dorius suspirou, parecendo cansado. "Há forças maiores do que você pode imaginar, Calyon. Seu destino está ligado ao de todos os humanos, e ao que resta do mundo após a Calamidade. Mas você deve ser paciente. Nem todos os poderes devem ser despertados tão cedo."
Calyon olhou para a joia uma última vez antes de seguir Dorius para fora do templo. Mas ele sabia que algo havia mudado para sempre naquela noite. Ele podia sentir a gravidade ao seu redor se moldando à sua vontade, e o tempo, antes linear, agora parecia... maleável.
O primeiro teste não tardaria a chegar. Enquanto caminhavam de volta ao palácio, os sinos de alarme soaram na capital. Dorius e Calyon correram para a praça principal, onde uma multidão se reunia. No céu, rasgando a escuridão da noite, uma fenda dimensional se abria — um portal do Abismo Infinito.
"Os Demônios Abissais... estão aqui?" Dorius murmurou em choque.
De dentro da fenda, criaturas envoltas em trevas começaram a emergir, seus olhos brilhando com malícia. O ar se encheu com o som de gritos e caos. A cidade estava em pânico. Calyon, ainda confuso com seu despertar recente, sentiu o peso da responsabilidade sobre seus ombros.
“Este é apenas o começo”, disse Dorius, convocando suas magias arcanas. “Mas lembre-se, príncipe... o que você escolhe fazer agora determinará o futuro não apenas do continente humano, mas de todo Nana.”
Calyon fechou os punhos. O tempo e o espaço, ainda fora de seu controle pleno, pulsavam dentro dele, aguardando seu comando. Mas ele sabia que ainda não estava pronto. No entanto, a gravidade... aquela ele podia sentir, e poderia usar.
Com a mente clara e o coração pesado, Calyon deu seu primeiro passo em direção ao destino que o aguardava — um destino que o levaria a enfrentar deuses, demônios, e, eventualmente, o próprio mistério do Dão Celestial e o poder inexplorado que corria em suas veias.
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Fim do Capítulo 1
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Crônica da divisão Eterna
FantasyNo vasto e misterioso mundo de Nana, oito continentes são governados por raças poderosas, enquanto o continente humano luta para sobreviver como o mais fraco. Calyon, o jovem príncipe herdeiro, carrega uma linhagem ancestral enigmática com o poder s...